Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [4º Tomo - 3ª Parte - 7º Livro - Cap. 15 - pág. 160/161:][Maria de Ágreda diz:] Proteção dos anjos aos concebidos: 283. A esta providência geral, acrescenta-se a particular da proteção dos santos anjos, a quem como diz David, o Altíssimo ordenou que nos levassem em suas mãos, para não tropeçarmos nos laços de Satanás (SI 90, 12); em outro lugar declara que enviará seu anjo que, com sua defesa, nos rodeará e livrará dos perigos (SI 33, 8).
Começando a perseguição, começa também esta defesa, desde o seio materno onde recebemos a existência, e dura até nossa alma se apresentar no tribunal de Deus, e ali receber definitivamente o estado e sorte que houver merecido.
No momento em que a criatura é concebida, Deus ordena aos anjos que guardem a ela e à mãe; depois, no tempo oportuno, nomeia um anjo em particular, para ser seu custódio, como se disse na primeira parte (n° 114). Deste modo, desde a geração, os anjos têm grandes altercações com os demônios, em defesa das criaturas confiadas à sua proteção. Os demônios alegam que têm direito sobre a criança, por estar concebida em pecado, ser filha da maldição, indigna da graça divina, escrava dos mesmos demônios. O anjo defende-a, refutando que ela foi concebida pela ordem das causas naturais, sobre as quais o inferno não tem autoridade; que, se tem pecado original, contraiu-o através da mesma natureza, por culpa dos primeiros pais, e não de sua vontade pessoal; e que, não obstante o pecado, Deus a cria para que o conheça, louve, sirva, e em virtude dos méritos de sua Paixão, possa merecer a glória. Estes fins não se hão de impedir, só por vontade do demônio.
Altercações entre os demônios e os anjos: 284. Alegam ainda os inimigos na geração do filho, os pais não tiveram reta intenção, nem a finalidade que deviam ter, e que excederam e pecaram no uso da geração. Este direito é o maior que o inimigo pode ter sobre a criança no seio materno, pois não há dúvida que os pecados desmerecem muito a proteção divina, e podem impedir a geração. Ainda que isto acontece muitas vezes, e alguns concebidos não chegam a nascer, em geral são protegidos pelos anjos. Se forem filhos legítimos, alegam que seus pais receberam o Sacramento e bênção da Igreja, apresentando também algumas virtudes que possuem, como a prática da piedade, da esmola, de outras devoções e boas obras. De tudo se valem os anjos, como de armas contra os demônios, para defender seus protegidos.
Quanto aos filhos ilegítimos torna-se maior a contenda, porque o inimigo tem mais direito sobre a geração, na qual Deus é tão ofendido, e por justiça os pais merecem rigoroso castigo. Assim, Deus manifesta muito mais sua liberal misericórdia, no defender e conservar os filhos ilegítimos. Os santos anjos a alegam, acrescentando também que são efeitos de causas naturais, como disse acima (n° 283). Quando os pais não têm méritos nem virtudes, mas culpas e vícios
os anjos apresentam, a favor da criança, os merecimentos que encontram em seus ascendentes, avós ou irmãos, as orações dos amigos e protegidos dos anjos.
Acrescentam que a criança não tem culpa de que os pais sejam pecadores, ou hajam se excedido na geração.
Alegam também que aquelas crianças, vivendo, poderão chegar a grandes virtudes e santidade, e o demônio não tem direito de privar as crianças, de chegarem conhecer e amar seu Criador. Algumas vezes, Deus revela aos anjos que a criança é escolhida para alguma grande missão na Igreja. Então, eles aumentam a vigilância em sua defesa, enquanto o demônio recrudesce na raiva e perseguição, pois da solicitude dos anjos bons, conjectura o valor daquela alma humana.