Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [1º Tomo - 1ª Parte - 1º Livro - Cap. 7 - pág. 65/67:][Maria de Ágreda diz:] Movido pelo mau afeto que então sentiu,
incorreu Lúcifer em desordenadíssimo amor de si mesmo, ao se ver com maiores dons e formosura de natureza e graça que os demais anjos inferiores. Deteve-se demasiado nesse conhecimento, e a autocomplacência o embaraçou e enfraqueceu na gratidão que devia a Deus, como à fonte única de tudo o que recebera. Continuando a admirar a própria beleza e graça, acabou por se apropriar delas, amando-as como suas. Este
desordenado amor próprio, não somente o fez se exaltar com o que tinha recebido de outro ser superior, mas também o levou a invejar e cobiçar outros dons e excelências alheias que não possuía. Como não as pôde conseguir,
concebeu mortal ódio e indignação contra Deus, que do nada o criara, e contra todas as criaturas.
A soberba de Lúcifer sempre cresce: 86. Daqui se originaram sua desobediência, presunção, injustiça, infidelidade, blasfêmia, e ainda uma espécie de idolatria,
desejando para si a adoração e reverência devida a Deus. Blasfemou de sua divina grandeza e santidade, faltou à fé e lealdade que devia, pretendeu destruir todas as criaturas, presumindo que poderia tudo isso e muito mais. Assim, sua soberba sempre cresce (SI 73, 23) e persiste, ainda que sua arrogância seja maior que sua fortaleza (Is 16, 6), porque enquanto nesta não pode crescer, no pecado, um abismo atrai outro abismo (SI 14, 8).
O primeiro anjo que pecou foi Lúcifer, como consta no cap. 14 de Isaías (v. 12), e induziu a outros segui-lo. Por isso,
chama-se príncipe dos demônios, não por natureza, que por ela não pode ter esse título, e sim pela culpa.
Os que pecaram não foram somente de uma ordem e hierarquia, mas de todas caíram muitos.