Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [1º Tomo - 1ª Parte - 1º Livro - Cap. 3 - pág. 39/41:]
[Maria de Ágreda diz:] O Mistério da Ssma. Trindade: 27. Com o entendimento, vi ao Altíssimo como estava em si mesmo. Tive a clara inteligência e notícia verdadeira de que é um Deus infinito em substância e atributos, eterno, suma trindade:
três pessoas e um só Deus verdadeiro. Três, porque realizam as operações de se conhecer, se compreender e se amar; e só um, por conseguir o bem da unidade eterna.
É trindade de Pai, Filho e Espírito Santo. O Pai não é feito, nem criado, nem gerado, nem o pode ser, ou ter origem. Conheci que o Filho procede somente do Pai por eterna geração e são iguais em duração e eternidade, gerado pela fecundidade do entendimento do Pai. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho por amor.
Nesta indivisível Trindade não há coisa que se possa dizer anterior nem posterior, maior ou menor. As três pessoas, em si, são igualmente eternas e eternamente iguais. É uma unidade de essência em trindade de pessoas, um Deus na indivisível trindade, e três pessoas na unidade de uma substância.
Não se confundem as pessoas por ser um só Deus, nem se divide ou separa a substância por serem três pessoas. Sendo distintas entre si, é a mesma a divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Igual a glória, a majestade, o poder, a eternidade, a imensidade, a sabedoria, a santidade e todos os demais atributos. E, ainda que sejam três as pessoas nas quais subsistem estas infinitas perfeições, é um só Deus verdadeiro, Santo, Justo, Poderoso, Eterno e sem medida.
Operações intratrinitárias: 28. Recebi também inteligência de que esta divina Trindade se conhece com uma visão simples, sem que seja necessária nova, nem distinta notícia.
Sabe o Pai o mesmo que o Filho, e o Filho e o Espírito Santo o mesmo que o Pai. Amam-se entre si reciprocamente, com um mesmo amor imenso e eterno. E uma unidade de entender, amar, agir, igual e indivisível; uma simples, incorpórea indivisível natureza, um ser de Deus verdadeiro, em quem estão reunidas e concentradas todas as perfeições em supremo e infinito grau.
Perfeições divinas: 29. Conheci as propriedades destas perfeições do Altíssimo: é formoso sem fealdade, grande sem medida, bom sem comparação, eterno sem tempo, forte sem fraqueza, vida sem mortalidade, verdadeiro sem falsidade; presente em todos os lugares enchendo-os sem os ocupar, estando em todas as coisas, sem extensão; não tem contradição na bondade, nem defeito na sabedoria; nela é inestimável, terrível nos conselhos, justo nos julgamentos, secretíssimo nos pensamentos; verdadeiro nas palavras, santo nas obras, rico em tesouros; a quem nem o espaço limita, nem a estreiteza do lugar aperta; não muda a vontade, não se perturba com o triste,
as coisas passadas não lhe desaparecem nem as futuras sucedem; a quem nem a origem deu princípio, nem o tempo dará fim. Oh! eterna imensidade, que intermináveis espaços vi em ti! Que infinidade reconheço em vosso infinito ser! Não há fronteiras para a visão, ao contemplar este ilimitado objeto. É o ser imutável, o ser acima de todo o ser, a santidade perfeitíssima, a verdade constantíssima; é o infinito, a latitude, a longitude, a altura, a profundidade, a glória e sua causa, o descanso sem fadiga, a bondade em grau imenso. Vi tudo juntamente e não acerto explicar o que vi.
[1º Tomo - 1ª Parte - 1º Livro - Cap. 8 - pág. 72:]
[Maria de Ágreda diz:] Maria, sacrário da Ssma. Trindade: 100. Estava grávida (Ap 12, 2) Na presença de todos os anjos, para alegria dos bons e castigo dos maus, rebeldes à divina vontade e a estes mistérios, foi manifestada que a Santíssima Trindade escolhera esta maravilhosa Mulher para Mãe do Unigênito do Pai. Como esta dignidade de ser Mãe do Verbo era a maior, princípio e fundamento de todas as excelências desta grande Senhora, por isso foi mostrada aos anjos naquele sinal, como receptáculo de toda a Santíssima Trindade.
Pela inseparável união e existência das três pessoas divinas, mercê de sua indivisível unidade, não podem deixar de estar as três, onde está cada uma. Ainda que somente a do Verbo haja assumido carne humana e dela se achar grávida aquela mulher, toda a Trindade nela se encontrava.
[1º Tomo - 1ª Parte - 2º Livro - Cap. 8 - pág. 259/260:]
[Maria de Ágreda diz:] A caridade, participação da essência divina: 517. Pela incomparável nobreza desta senhora das virtudes, o mesmo Deus e Senhor — a nosso modo de entender — quis honrar-se com seu nome, ou honrar a ela, chamando-se caridade, como disse São João (ljo 4,16). Diversas razões tem a Igreja católica quando, ao falar das perfeições divinas,
atribui ao Pai a onipotência, ao Filho a sabedoria, e ao Espírito Santo o amor. O Pai é princípio sem princípio, o Filho é gerado pelo Pai por via do entendimento e o Espírito Santo procede de ambos pela vontade. O nome, porém, de caridade e sua perfeição, o Senhor aplica-se a si sem diferença e distinção de pessoas, conforme disse o Evangelista: Deus é caridade, No Senhor esta virtude tem a plenitude do ser. É o fim de todas as operações “ad intra” e “ad extra”, porque as divinas processões — as operações de Deus em si mesmo — acabam na união de amor e caridade recíproca entre as três divinas Pessoas. Isto forma entre as Pessoas Divinas vínculo indissolúvel, depois da unidade indivisa da natureza, pela qual são um só Deus.
[2º Tomo - 2ª Parte - 3º Livro - Cap. 11 - pág. 47/48:]
[Maria de Ágreda diz:] As
operações das três Pessoas divinas no mistério da Encarnação: 125. Chegou, portanto, o feliz dia em que o Altíssimo, não levando em conta os longos séculos de tão profunda ignorância (At 17, 30), determinou manifestar-se aos homens e dar princípio à redenção do gênero humano, assumindo a natureza humana nas entranhas de Maria santíssima, preparada para este mistério, como se disse. Para melhor explicar o que dele me é manifestado, é forçoso antecipar alguns ocultos sacramentos sucedidos antes que o Unigênito do eterno Pai descesse do seu seio.
Fica suposto que entre as divinas Pessoas, conforme ensina a fé, não há desigualdade de sabedoria, onipotência e demais atributos, como tampouco a pode haver na substância da divina natureza. Sendo iguais na infinita dignidade e perfeição,
também o são nas operações chamadas: "ad extra", porque saem de Deus para produzir alguma criatura ou coisa temporal. Estas operações são comuns às três divinas Pessoas;
são feitas pelas três enquanto são um mesmo Deus, com a mesma sabedoria, entendimento e vontade.
Assim como o Filho sabe, quer e faz o mesmo que o Pai sabe, quer e faz; também o Espírito Santo sabe, quer e faz o mesmo que o Pai e o Filho.
Petições do Verbo a favor dos homens: 126. Com esta união inseparável,
as três Pessoas realizaram a Encarnação num mesmo ato, embora somente a pessoa do Verbo haja assumido a natureza humana, unindo-a a Si hipostaticamente. Por isto, dizemos que o Filho foi enviado pelo eterno Pai, de cujo entendimento procede, e que o Pai o enviou por obra do Espírito Santo, que interveio nesta missão.
[...] O Verbo desce do céu: 128. Tudo isto (a nosso modo de entender) passava-se no céu, em o trono da Ssma. Trindade, antes do fiat de Maria santíssima, como logo direi. No momento do Unigênito do Pai descer a suas virginais entranhas, abalaram-se os céus e todas as criaturas.
Por causa de sua união inseparável, as três divinas Pessoas desceram com a do Verbo, que seria a única a encarnar.
[4º Tomo - 3ª Parte - 7º Livro - Cap. 5 - pág. 50/51:]
[Maria de Ágreda diz:] O Pai e o Filho enviam o Espírito Santo: 60. Este pedido, feito por nosso Redentor no céu, foi acompanhado na terra por sua Mãe Santíssima e os fiéis, na forma que lhes competia. Estando prostrada em terra em forma de cruz, com profunda humildade, a Senhora conheceu que no consistório da santíssima Trindade era aceita a petição do Salvador do mundo. Para concedê-la e executá-la, a nosso modo de entender,
as pessoas do Pai e do Filho, princípio do qual procede o Espírito Santo, ordenaram a missão ativa da terceira Pessoa, porque às duas primeiras se atribui enviar a terceira, que delas procede. A terceira, o Espírito Santo, aceitou sua missão e vinda ao mundo. As três pessoas divinas e suas operações têm uma só vontade infinita e eterna, sem desigualdade nenhuma.
As potências, que nas três Pessoas são individuais e iguais, têm certas operações “ad intra” numa Pessoa, sem as ter nas outras. Deste modo, o entendimento engendra no Pai e não no Filho que é engendrado; a vontade no Pai e no Filho expira, e não no Espírito Santo que é expirado. Por esta razão, ao Pai e ao Filho se atribui, como princípio ativo, enviar o Espírito Santo “ad extra”, enquanto a este se atribui ser enviado, como passivamente.
[4º Tomo - 3ª Parte - 8º Livro - Cap. 16 - pág. 353:]
[Maria de Ágreda diz:] A divindade do Pai e do Espírito Santo estava em Cristo, indivisa, na suma unidade individual. As três Pessoas estão em cada uma, inseparáveis por inefável modo de existência, e a pessoa do Verbo nunca pode estar sem o Pai e o Espírito Santo.