Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 26 - pág. 420/421:][Maria de Ágreda diz:] Ressurreição e glória de Cristo: 1467.
Depois disto, à vista de todos aqueles santos, por ministério dos anjos foram restituídas ao sagrado corpo todas as partes e relíquias que tinham recolhido, deixando-o em sua natural integridade e perfeição. No mesmo instante, a alma santíssima do Senhor uniu-se ao corpo com glória e vida imortal. Em lugar do lençol e unções com que foi sepultado (Jo 19, 40), vestiu-se dos quatro dotes da glória: claridade, impassibilidade, agilidade e subtileza. Estes dotes no corpo deificado derivam-se da imensa glória da alma de Cristo nosso bem. Eram-lhe devidos, como por herança e natural participação, desde o instante de sua concepção. Desde este momento, sua alma santíssima foi glorificada e toda a sua humanidade inocentíssima estava unida à divindade. Foram, porém, suspensos, para não refletirem no corpo e deixá-lo passível, a fim de merecer nossa glória, privando-se da de seu corpo, como em seu lugar fica dito.
Na ressurreição, estes dotes lhe foram restituídos por justiça, no grau e proporção correspondente à glória da alma e da sua união com a divindade. Como a glória da alma santíssima de Cristo, nosso Senhor, é inefável para nossa curta compreensão, também é impossível explicar inteiramente, com palavras e comparações, a glória e dotes de seu corpo deificado. O cristal é obscuro perto de sua pureza. A luz que continha e irradiava excede à dos demais corpos gloriosos, como o dia à noite e mais do que mil sois à uma estrela. Se numa só criatura fosse reunida toda a beleza que existe, pareceria fealdade em sua comparação. Em toda a criação não existe semelhança para ela.
Ressurreição de outros justos: 1468. A excelência destes dotes, na Ressurreição, excedeu muito à glória que tiveram na transfiguração e noutras ocasiões em que Jesus se transfigurou, como no decurso desta história dissemos. Naquelas ocasiões, recebeu-a de passagem, em vista da finalidade para que se transfigurava. Agora, porém, a teve com plenitude e para gozá-la eternamente. Pelo
dote da impassibilidade ficou invulnerável a todo poder criado, pois nenhuma potência o podia alterar. Pela
subtileza, a matéria grosseira e terrena ficou tão purificada que, sem resistência de outros corpos, podia penetrá-los como se fosse espírito incorpóreo. Assim transpôs a pedra do sepulcro, sem movê-la nem parti-la, o corpo que, por modo semelhante, saíra do virginal seio de sua Mãe puríssima. Pela
agilidade ficou tão livre do peso da matéria que excedia à leveza dos anjos imateriais; por si mesmo podia, com maior rapidez do que eles, deslocar-se de um lugar para outro, como o fez nas aparições aos apóstolos e em outras ocasiões.
As sagradas chagas, que antes afeavam seu corpo santíssimo, permaneceram nos pés, mãos e lado, tão formosas e refulgentes que aumentavam sua graça e esplendor. Com toda esta beleza e glória, levantou-se do sepulcro nosso Salvador. Na presença dos Santos e Patriarcas, prometeu a toda a estirpe humana a ressurreição universal como efeito da sua e que, na mesma carne e corpo de cada um, os justos seriam glorificados. Em penhor desta promessa e como reféns da ressurreição universal,
o Redentor ordenou às almas de muitos Santos ali presentes, que se reunissem aos respectivos corpos e os ressuscitassem para a vida imortal. Instantaneamente executou-se o divino mandato, antecipadamente e ressuscitaram os corpos, refere São Mateus (27, 52). Entre eles se encontravam Sant"Ana, São José e São Joaquim, além de outros antigos Pais e Patriarcas que se distinguiram na fé e esperança da Encarnação e com maiores ânsias a desejaram e pediram ao Senhor. Em recompensa, foi-lhes adiantada a ressurreição e glória de seus corpos