Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [1º Tomo - 1ª Parte - 2º Livro - Cap. 10 - pág. 281:][Maria de Ágreda diz:] A verdade e vindicação em Maria Santíssima: 566. Sobre a verdade em Maria Senhora nossa, tudo quanto se poderia dizer seria pouco, pois quem foi tão superior ao demônio, pai da mentira, não pôde ser atingida por tão desprezível vício. A regra pela qual se deve medir essa virtude em nossa Rainha, é sua caridade e singeleza columbina, que excluem qualquer duplicidade e falácia no trato com as criaturas. Como se poderia achar culpa e dolo na boca daquela Senhora que, com uma palavra de verdadeira humildade, atraiu ao seu seio Aquele que é a verdade e santidade por essência? Da virtude chamada vindicação tampouco faltaram à Maria Santíssima muitos atos perfeitíssimos. Não somente a ensinou nas ocasiões em que foi necessária, no princípio da igreja evangélica, mas também a exercitou pessoalmente, zelando a honra do Altíssimo.
Procurava converter muitos pecadores por meio da correção, como fez com Judas muitas vezes, ou mandava às criaturas - pois todas lhe eram submissas - castigar alguns pecados para o bem dos que, cometendo-os, mereceriam eterno castigo. Ainda que nestes atos fosse mansa e suavíssima, nem por isso perdoava o castigo, quando era meio eficaz de reparar o pecado. Era porém, com o demônio, que mais exercitava a vingança para livrar de sua servidão o gênero humano.
[3º Tomo - 2ª Parte - 5º Livro - Cap. 18 - pág. 110:][Maria de Ágreda diz:] Quanto devemos a Jesus e à Maria: 917. Outras vezes
o Senhor a informava do que faria ao começar a pregação, e como a divina Mãe iria cooperar com Ele, ajudando-o nos trabalhos e direção da nova Igreja.
Dizia-lhe como deveria desculpar as faltas dos Apóstolos, a negação de São Pedro, a incredulidade de Tomé, a perfídia de Judas e outros fatos futuros. Desde esse momento, a dedicada Senhora propôs esforçar-se ao máximo para converter o discípulo traidor e assim o fez, como direi em seu lugar.
O fato de Judas ter desprezado estes favores, e haver concebido certa indevoção e desagrado pela Mãe da graça, foi o começo de sua perdição. Assim, foi a divina Senhora informada por seu Filho santíssimo de tantos mistérios e sacramentos que, para encarecer a grandeza e ciência que a Ela comunicou, todo o elogio é limitado.
Ela excedeu a todos os serafins e querubins, sendo ultrapassada só pela ciência do próprio Deus. Todos estes dons de ciência e graça, foram empregados por nosso Salvador e sua Mãe santíssima em benefício dos mortais. Um único suspiro de Cristo nosso Senhor era de inestimável valor para todas as criaturas. Os de sua digna Mãe, apesar de serem de pura criatura e não possuírem valor igual, eram mais aceitos pelo Senhor do que todo o resto da criação. Calculemos agora o que Filho e Mãe fizeram por nós: nosso Salvador não só morreu numa cruz, depois de inauditos tormentos, mas antes disso, contemos suas orações, lágrimas e suor de sangue. E, em tudo isto, e no mais que ignoramos
foi sua coadjutora a Mãe de misericórdia. Tudo por nós! Oh! ingratidão humana, Oh! dureza mais do que granítica em coração de carne! Onde está nosso juízo? Onde a inteligência? Onde a compaixão e o agradecimento?
A natureza corrompida só se comove pelos objetos sensíveis, lastima-se de perder o que a precipita na morte eterna e esquece a maior de suas riquezas, a Redenção. Não sente nenhuma compaixão e dor pela Paixão do Senhor que lhe proporcionou a vida e o repouso que há de durar para sempre.
[3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 5 - pág. 210/211:][Maria de Ágreda diz:] História de Judas 1086.
Judas entrou na escola de Cristo, nosso Mestre, atraído exteriormente pela força de sua doutrina, e interiormente, pelo bom espírito que movia a outros. Conduzido por estas graças, pediu ao Salvador que o aceitasse entre seus discípulos, e o Senhor o recebeu com sentimentos de amoroso pai que não despreza ninguém que o procure sinceramente. A princípio, Judas recebeu outros favores da divina destra, de modo que se distinguiu entre outros discípulos e foi nomeado um dos doze apóstolos.
O Senhor o amava realmente, conforme o estado de sua alma e boas obras que então fazia.
A Mãe da graça também o olhou com misericórdia, ainda que, por sua ciência infusa, logo conheceu a traição infame que ele cometeria no fim de sua carreira. Todavia, nem por isto lhe negou sua intercessão e caridade maternal. Pelo contrário, a divina Senhora tomou por sua conta justificar, quanto lhe era possível a causa de seu Filho santíssimo com o infeliz Apóstolo. A maldade do traidor não deveria encontrar nenhuma desculpa, mesmo aparente e humana. Conhecendo que, com rigor, aquele temperamento não se dobraria, mas seria levado mais depressa à obstinação,
cuidava a prudentíssima Senhora que nada faltasse a Judas. Providenciava-lhe todo o necessário e conveniente, e o tratava com maior demonstração de carinho e suavidade do que aos outros, sendo isso muito notório. Quando os discípulos entravam em competições para saber quem seria o preferido pela Rainha puríssima, — assim como diz o Evangelho a respeito de Jesus (Lc 22, 24), — Judas não precisou se preocupar com estes ciúmes, porque a Senhora sempre o favoreceu muito nos princípios, e ele também se mostrava agradecido.