Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 5 - pág. 210/211:][Maria de Ágreda diz:] História de Judas 1086.
Judas entrou na escola de Cristo, nosso Mestre, atraído exteriormente pela força de sua doutrina, e interiormente, pelo bom espírito que movia a outros. Conduzido por estas graças, pediu ao Salvador que o aceitasse entre seus discípulos, e o Senhor o recebeu com sentimentos de amoroso pai que não despreza ninguém que o procure sinceramente. A princípio, Judas recebeu outros favores da divina destra, de modo que se distinguiu entre outros discípulos e foi nomeado um dos doze apóstolos.
O Senhor o amava realmente, conforme o estado de sua alma e boas obras que então fazia.
A Mãe da graça também o olhou com misericórdia, ainda que, por sua ciência infusa, logo conheceu a traição infame que ele cometeria no fim de sua carreira. Todavia, nem por isto lhe negou sua intercessão e caridade maternal. Pelo contrário, a divina Senhora tomou por sua conta justificar, quanto lhe era possível a causa de seu Filho santíssimo com o infeliz Apóstolo. A maldade do traidor não deveria encontrar nenhuma desculpa, mesmo aparente e humana. Conhecendo que, com rigor, aquele temperamento não se dobraria, mas seria levado mais depressa à obstinação,
cuidava a prudentíssima Senhora que nada faltasse a Judas. Providenciava-lhe todo o necessário e conveniente, e o tratava com maior demonstração de carinho e suavidade do que aos outros, sendo isso muito notório. Quando os discípulos entravam em competições para saber quem seria o preferido pela Rainha puríssima, — assim como diz o Evangelho a respeito de Jesus (Lc 22, 24), — Judas não precisou se preocupar com estes ciúmes, porque a Senhora sempre o favoreceu muito nos princípios, e ele também se mostrava agradecido.