Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 6 - pág. 227:][Nossa Senhora diz a Maria de Ágreda:] Paciência com as almas: 1114. Em virtude dos méritos infinitos que Ele interpôs nesta petição, esta glória é coroa de justiça para a criatura. Tem direito a ela como membro da cabeça que lha mereceu, Cristo (2Tim 4, 8). A união a Ele, porém, é efetuada pela graça e pela imitação no padecer ao qual corresponde o prêmio.
Se qualquer sofrimento corporal terá sua coroa, muito maior será o de sofrer e perdoar as injúrias, retribuindo-as com benefícios, como nós fizemos com Judas. O Senhor não o excluiu do apostolado, não se mostrou indignado contra ele, e o esperou até o fim. Finalmente, pela própria malícia o infeliz acabou por se entregar ao demônio e se impossibilitar para o bem. Na vida mortal o Senhor é muito lento para se vingar, mas depois compensará a tardança com o rigor do castigo. Pois, se Deus suporta e espera tanto, quanto não deve um vil bichinho tolerar a outro de sua mesma natureza e condição? Por esta verdade, e com o zelo da caridade de teu Senhor e Esposo, deves regular tua paciência, tolerância e solicitude pela salvação das almas. Não te digo para tolerar o que for contra a honra de Deus, pois isto não seria verdadeiro zelo pelo bem do próximo.
Quero que aborreças o pecado, mas ames as criaturas do Senhor; que sofras e dissimules o que se referir a ti, e trabalhes para, o quanto for possível, todas se salvarem. Não percas logo a confiança quando não vires o resultado, mas apresenta ao eterno Pai os méritos de meu Filho Santíssimo, a minha intercessão, a dos anjos e santos. Deus é caridade, e estando nele, os bem-aventurados a exercitam a favor dos peregrinos na terra (1Jo 4,16).
[3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 10 - pág. 254/255:][Maria de Ágreda diz:] Jesus suporta Judas: 1160. Por esta nova instrução, os apóstolos entenderam grandes segredos dos profundos mistérios que o divino Mestre ia operando.
Os demais discípulos entenderam menos que os apóstolos, e Judas quase nada. Estava possuído pela avareza, só pensava na infame traição que havia tramado, procurando levá-la a cabo secretamente. O Senhor também mantinha reserva, porque assim convinha à sua equidade e à disposição de seus altíssimos desígnios.
Não quis exclui-lo da ceia, nem de outros mistérios, até que ele mesmo se excluiu por má vontade. O divino Mestre, porém, sempre o tratou como seu discípulo, apóstolo e ministro, respeitando-lhe a honra. Com este exemplo, ensinou aos filhos da Igreja, quanta veneração devem ter aos seus ministros e sacerdotes, e quanto devem zelar por sua honra, não publicando os pecados e fraquezas que neles notarem, pois também são homens de frágil natureza.
Nenhum será pior que Judas, podemos supor. Ninguém será como Cristo nosso Senhor, nem terá igual autoridade e poder, pois isto o ensina a fé. Logo, se todos os homens são infinitamente menos que nosso Salvador, não devem fazer com os ministros do Senhor, melhores que Judas, ainda que sejam maus,
o que o mesmo Senhor não fez com aquele péssimo discípulo e apóstolo. Nem importa que sejam superiores e prelados, pois também o era Cristo nosso Senhor, e no entanto suportou Judas e respeitou sua honra.