Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 14 - pág. 301:][Maria de Ágreda diz:] Remorsos de Judas: 1247. A graça divina abandonara Judas, como se disse acima, depois do beijo com que tocara em Cristo. Ainda que estava entregue a si mesmo, por ocultos juízos do Altíssimo que o permitiu, fez aquelas reflexões pela razão natural e com muitas sugestões de Lúcifer que o acompanhava. Ainda que Judas pensasse de modo verdadeiro, no que se disse, como estas verdades eram sugeridas pelo pai da mentira, unia-lhes outras proposições falsas, para levá-lo a deduzir, não a sua salvação e a confiança de obtê-Ia mas sim para chegar a crer na impossibilidade de a alcançar e
acabar no desespero, como aconteceu.
Lúcifer despertou-lhe íntimo arrependimento dos pecados, mas errado em seus motivos e fins. Não se contristou por haver ofendido a verdade divina, mas pela desonra que sofria diante dos homens; pelo medo do que o Mestre, poderoso em milagres, lhe poderia fazer, sendo-lhe impossível escapar, em qualquer lugar do mundo, onde o sangue do Justo estaria sempre clamando contra ele. Com estes e outros pensamentos que lhe lançou o demônio, encheu-se de vergonha, trevas e violento despeito de si próprio. Afastando-se de todos, esteve a ponto de se atirar do alto da casa dos pontífices, mas não o conseguiu. Saiu, então, e semelhante a uma fera, indignado contra si,
mordia-se os braços, as mãos, dava socos na cabeça, puxava os cabelos e, rugindo, amaldiçoava-se como ao mais execrável e infeliz dos homens.