Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [1º Tomo - 1ª Parte - 1º Livro - Cap. 7 - pág. 64:][Maria de Ágreda diz:] Juntamente com o céu empíreo, criou Deus a terra e em seu centro o inferno. Naquele instante em que foi criada, ficaram no meio deste globo, por divina disposição, extensas e profundas
cavernas para inferno, limbo e purgatório. Ao mesmo tempo, no inferno foi criado fogo material e as demais coisas que agora ali servem de suplício aos condenados.
[1º Tomo - 1ª Parte - 1º Livro - Cap. 21 - pág. 172/173:][Maria de Ágreda diz:] São Gabriel anuncia ao limbo o nascimento de Maria: 330. No momento em que nasceu nossa princesa Maria, o Altíssimo enviou o santo Arcanjo Gabriel para
participar aos santos pais do limbo esta tão alegre nova para eles. O embaixador celestial desceu logo, iluminando aquela
profunda caverna e alegrando aos justos nela detidos. Noticiou-lhes que já começava a amanhecer o dia da eterna felicidade e redenção do gênero humano, tão desejado e esperado pelos santos e vaticinado pelos profetas. Já nascera a futura Mãe do Messias prometido, e muito em breve veriam a salvação e glória do Altíssimo. Deu-lhes notícia o santo Príncipe, das excelências de Maria Santíssima e do que a mão do Onipotente começara a fazer por Ela, para conhecerem melhor o ditoso princípio do mistério que poria fim à sua
prolongada prisão. Todos aqueles pais, profetas e demais justos que estavam no limbo alegraram-se em espírito, e com novos cânticos louvaram o Senhor por este benefício.
[3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 25 - pág. 414:][Maria de Ágreda diz:] O inferno: 1459. Assim passou parte do sábado a nossa divina Rainha. Pela tarde, retirou-se novamente ao seu recolhimento, deixando os apóstolos renovados no espírito, cheios de consolação no Senhor, mas sempre entristecidos pela Paixão de seu Mestre. No retiro dessa tarde, a grande Senhora aplicou a mente às obras que realizava a alma santíssima de seu Filho, depois que se separou do sagrado corpo.
Desde esse momento, conheceu a bem-aventurada Mãe que a alma de Cristo, unida à divindade, descia ao limbo dos santos Pais. Foi libertá-los daquele cárcere subterrâneo, onde estavam detidos desde o primeiro justo que morreu no mundo, esperando a vinda do Redentor de todos os homens. Para explicar este mistério, que é uma das verdades sobre a santíssima humanidade de Cristo nosso Senhor,
pareceu-me conveniente declarar, o que me foi dado a entender sobre o limbo e onde está situado. Digo, pois, que o globo terrestre tem o diâmetro — distância de uma superfície a outra, passando pelo centro — de duas mil e quinhentas e duas léguas. A metade até o centro, mede mil duzentas e cinqüenta e uma.
No centro, encontra-se o inferno dos condenados, como no coração da terra. Este inferno é uma caverna ou caos de muitas tenebrosas estâncias, com diferentes penas, todas horríveis e tremendas. Formam um globo qual imensa caldeira, com boca ou entrada muito larga. Neste pavoroso calabouço de confusão e tormentos, estão os demônios e os condenados e nele ficarão por toda a eternidade, (Mt 25,41) enquanto Deus for Deus, porque
no inferno não há nenhuma redenção.
[3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 25 - pág. 415:][Maria de Ágreda diz:] A alma de Cristo desce ao limbo: 1461.
Chegou a alma santíssima de Cristo nosso Senhor ao limbo, acompanhada de inumeráveis anjos que ao seu Rei triunfador iam louvando e dando glória, poder e divindade. Para representar sua grandeza e majestade, mandavam que se abrissem as portas (SI 23,7-8) daquele antigo cárcere, para que o Rei da glória, poderoso nas batalhas, Senhor das virtudes, as encontrasse franqueadas à sua entrada. Em virtude desta ordem, partiram-se alguns penhascos do caminho, ainda que não fosse necessário para o Rei e sua milícia entrarem, pois eram espíritos subtilíssimos. A presença da alma santíssima de Cristo transformou aquela obscura caverna em céu, enchendo-a de admirável resplendor. As almas dos justos que ali estavam foram beatificadas com a visão clara da Divindade. Num instante, passaram do estado de tão prolongada espera, à eterna posse da glória, e das trevas, à luz inacessível que agora gozam. Reconheceram seu verdadeiro Deus e Redentor e lhe deram graças e louvores com novos cânticos, dizendo (Apoc 5,12); Digno é o Cordeiro que foi morto, de receber a divindade, a virtude e a fortaleza. Redimiste-nos, Senhor, com teu sangue (Idem 5,9), de todas as tribos, povos e nações; fizeste-nos reino para nosso Deus e reinaremos. Teu é, Senhor, o poder, teu o reino e tua a glória de tuas obras.
O Salvador ordenou aos anjos que tirassem do purgatório todas as almas que lá estavam, e instantaneamente foram trazidas à sua presença. Para estreia da redenção humana, foram pelo Redentor absolvidas das penas que lhes faltavam padecer, e como as demais almas dos justos receberam a glória da visão beatífica.
Deste modo, naquele dia, ficaram vazios os cárceres do limbo e do purgatório.
[3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 26 - pág. 419:][Maria de Ágreda diz:] O corpo de Cristo no sepulcro: 1466.
A alma santíssima de Cristo, nosso Salvador, permaneceu no limbo desde as três e meia da tarde de sexta-feira, até depois das três da manhã do domingo seguinte. Nesta hora, voltou ao sepulcro, como príncipe vencedor, acompanhado pelos anjos e mais os santos que resgatou daqueles cárceres inferiores. Eram os despojos de sua vitória e prendas do seu glorioso triunfo, enquanto deixava punidos e derrotados seus rebeldes inimigos. No sepulcro encontravam-se outros muitos anjos que o guardavam, venerando o sagrado corpo unido à divindade. Alguns deles, por ordem de sua Rainha e Senhora, tinham recolhido as relíquias do sangue derramado por seu Filho santíssimo, os pedaços de carne que as feridas desprenderam, os cabelos arrancados da cabeça e da barba e tudo mais pertencente ao adorno e perfeita integridade de sua humanidade santíssima. De tudo cuidou a Mãe da prudência e os anjos guardavam estas relíquias, cada qual feliz com a parte que recolhera. Antes de qualquer coisa, foi mostrado aos santos Pais o corpo de seu Redentor, chagado, ferido e desfigurado, como o deixara a crueldade dos judeus. Adoraram-no todos os Patriarcas e Profetas, com os outros santos. Confessaram de novo que, realmente, o Verbo humanado tomou sobre Si nossas enfermidades e dores (Is 53, 4) e, sendo inocentíssimo, pagou com excesso nossa dívida, satisfazendo a justiça do eterno Pai pelo que nós deveríamos pagar.
Os primeiros pais Adão e Eva, viram o estrago produzido por sua desobediência, quanto custou sua reparação, a imensa bondade e grande misericórdia do Redentor. Os Patriarcas e Profetas viram cumpridos seus vaticínios e suas esperanças nas promessas divinas. Experimentando na glória de suas almas o efeito da copiosa redenção, louvaram o Onipotente e Santo dos Santos que a realizara por modo tão maravilhoso de sua sabedoria.