Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [4º Tomo - 3ª Parte - 8º Livro - Cap. 17 - pág. 367/368:][Nossa Senhora diz a Maria de Ágreda:] Esquecimento da morte 711.
Entre as falácias e absurdos que os demônios introduziram no mundo, nenhum é maior, nem mais pernicioso, do que esquecer a hora da morte e o que há de acontecer no julgamento do rigoroso Juiz. Considera, minha filha, que por esta porta entrou o pecado no mundo. A primeira mulher, o que a serpente principalmente quis persuadir, foi que não morreria, nem pensasse nisso (Gn 3,4). Este engano continua para os inumeráveis néscios que vivem sem essa memória e morrem como esquecidos da infeliz sorte que os espera. Para que esta perversidade humana não te atinja, desde logo
lembra que hás de morrer infalivelmente; que recebeste muito e pagaste pouco; que as contas serão tanto mais rigorosas, quanto mais o supremo Juiz foi liberal nos dons e talentos que te deu,
e na paciência com que te esperou. Quero de ti, nada menos do que deves a teu Senhor e Esposo, que é fazer sempre o melhor em todo lugar, tempo e ocasião, sem admitir descuido, intervalo ou esquecimento.
Contrição e esperança: 712.
Se, por fraqueza, cometeres alguma omissão ou negligência, não se ponha o sol, nem termine o dia sem te arrependeres. Se puderes, confessa-te como para o último julgamento. E, propondo emendar-te, ainda que a culpa seja levíssima, começarás a trabalhar com novo fervor e cuidado, como quem vê acabar-se o tempo de terminar tão árdua empresa, qual seja obter glória e felicidade eterna e não cair na morte e tormentos sem fim. Nisto, deves continuamente ocupar tuas potências e sentidos, para que tua esperança seja firme e alegre; (2 Cor 1,7) para não trabalhar em vão (Fl 2,16), nem correr ao acaso (1 Cor 9,26),
como correm os que se contentam com algumas boas obras, cometendo ao mesmo tempo muitas outras reprováveis e feias. Estes não podem caminhar com a segurança e gozo interior da esperança, porque a consciência os repreende e entristece, a não ser que vivam esquecidos e satisfeitos com a estulta alegria da carne. Para dar plenitude a todas tuas obras,
continua os exercícios que te ensinei, inclusive o da morte, com todas as orações, prostrações e recomendações da alma, como costumas fazer. Em seguida,
recebe mentalmente o Viático como quem está de partida para a outra vida, e despede-te da presente, esquecendo tudo quanto há nela. Inflama teu coração em desejos de ver a Deus, e sobe até sua presença onde deves estabelecer tua morada e, agora, tua conversação (Fl 3, 20).