Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 1 - pág. 181/182:][Maria de Ágreda diz:] Maria percebe a falta de vinho: 1038. À mesa, o Senhor e sua Mãe santíssima comeram alguns manjares servidos, com grande temperança, mas sem que esta abstinência chamasse a atenção. Quando estavam a sós, não comiam tais alimentos, como antes tenho dito. Sendo contudo mestres da perfeição que não pretendiam reprovar a vida comum dos homens, mas sim aperfeiçoá-la com seus exemplos, acomodavam-se aos outros, sem exageros e singularidades, no que não era reprovável e se podia fazer com perfeição. Assim como ensinou pelo exemplo, o Senhor deixou também como doutrina aos apóstolos, ordenando-lhes que quando fossem pregar, comessem o que lhes fosse apresentado (Mt 10, 10; Lc 10,8). Não deveriam se fazer singulares, imperfeitos e pouco sábios no caminho da virtude, porque o verdadeiro pobre e humilde não faz escolha de manjares.
Permitiu Deus que faltasse o vinho para dar motivo ao milagre, e a piedosa Rainha disse ao Salvador (Jo 2,3-4): Senhor, não há mais vinho para o banquete. Respondeu-lhe Jesus: Mulher, que importa a mim e a Ti? Ainda não chegou minha hora. Esta resposta de Cristo não foi de repreensão, mas de mistério. A prudentíssima Senhora não pediu o milagre casualmente. Com luz divina, conheceu que já era tempo oportuno para o poder de seu Filho santíssimo se manifestar. Não podia ignorar isso, quem estava repleta de sabedoria e da ciência das obras da Redenção, com a respectiva ordem dos tempos e ocasiões em que o Salvador iria executá-las.
É ainda para se advertir, que Jesus não pronunciou estas palavras com semblante de censura, mas com liberal e afável serenidade. Não deu à Virgem o nome de Mãe, mas de mulher, porque então não a tratava com palavras de muito carinho, como acima disse.
Interpretação da resposta de Cristo: 1039.
O mistério da resposta de Cristo nosso Senhor, consistiu em confirmar os discípulos na fé da sua Divindade, e começar a manifestá-la aos demais, mostrando-se Deus verdadeiro, independente de sua mãe no ser divino e no poder de operar milagres. Por este motivo chamou-a mulher em vez de Mãe. Que te importa, ou que temos a ver, Tu e Eu, com isto?
Foi o mesmo que dizer: o poder de fazer milagres não recebi de ti, apesar de me teres dado a natureza humana com a qual os farei. Só à minha divindade compete fazê-los, e para ela não chegou a minha hora. Nesta palavra deu a entender que, determinar prodígios não pertencia à sua Mãe santíssima, mas sim à vontade de Deus, ainda que a prudentíssima Senhora os pedisse em tempo oportuno. Que n"Ele havia além da humana, outra vontade, a divina, superior à de sua Mãe.
A vontade divina não estava subordinada à da Mãe. Pelo contrário, a da Mãe é que estava sujeita à divina que Ele possuía como verdadeiro Deus. Para efeito de tudo isto, infundiu o Senhor, no interior de seus discípulos, nova luz para conhecerem a união hipostática das duas naturezas na pessoa de Cristo: a humana que recebera de sua Mãe, e a divina por geração eterna de seu Pai.