Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [4º Tomo - 3ª Parte - 7º Livro - Cap. 14 - pág. 143/144:][Maria de Ágreda diz:] Saulo no judaísmo: 249. São Paulo distinguiu-se no judaísmo por dois princípios: um foi o seu Próprio temperamento, e o outro a ação do demônio que dele se aproveitou.
Por temperamento natural, Saulo era de coração grande, magnânimo, nobilíssimo, serviçal, ativo, eficaz e perseverante no que empreendia. Tinha muitas virtudes morais adquiridas.
Prezava-se de fiel seguidor da lei de Moisés, de estudioso e ilustrado nela, ainda que na realidade era ignorante — como ele o confessou a Timóteo, seu discípulo — porque sua ciência era humana e terrena. Entendia a lei, como outros muitos israelitas, só na superfície, sem espírito e a luz divina necessária para entendê-la corretamente e penetrar seus mistérios. Como, porém, sua ignorância tinha aparência de verdadeira sabedoria, e era apegado às próprias idéias,
mostrava-se grande zelador das tradições dos rabinos (Gl 1, 14). Julgava coisa indigna e dissonante para ele e Moisés, fosse publicada uma nova lei, inventada por um Homem crucificado como criminoso, enquanto Moisés havia recebido sua lei do próprio Deus, sobre o monte (Êx 34). Com este julgamento, concebeu grande desgosto e desprezo por Cristo, sua lei e seus discípulos. Convencia-se deste engano com suas próprias virtudes morais, se podem ser chamadas virtudes, sem a verdadeira caridade. Por as ter, presumia que acertava quando errava, como acontece a muitos filhos de Adão: satisfeitos consigo mesmos por praticarem alguma ação virtuosa, com esta auto-complacência, não cuidam em reformar outros vícios morais.
Nesta ilusão vivia e agia Saulo, muito apegado à antiga lei mosaica, ordenada por Deus, cuja honra lhe pareceu que defendia.
Não entendeu que aquela lei, e suas cerimônias eram figuras, não era eterna, mas apenas temporária. Necessariamente tinha que vir outro legislador, mais poderoso e sábio que Moisés, como ele mesmo disse (Dt 18,15).