Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 23 - pág. 395/396:][Maria de Ágreda diz:] Vitória de Cristo sobre a morte 1422. Triunfante do maior inimigo, Cristo nosso Salvador para entregar o espírito ao Pai, inclinou a cabeça (Jo 19, 30) para permitir à morte se aproximar.
Com esta permissão venceu também a morte, que se enganou como o demônio.
A razão disto está em que a morte não poderia ferir os homens, nem ter poder sobre eles, se não fora o primeiro pecado, do qual ela é o castigo. Por isto disse o Apóstolo que as armas ou estímulo da morte é o pecado que abriu a ferida por onde ela entrou no mundo da linhagem humana (Rom 5,12). Como nosso Salvador pagou a dívida do pecado que não cometeu,
quando a morte lhe tirou a vida sem ter esse direito sobre o Senhor, perdeu o direito que tinha sobre os demais filhos de Adão (1 Cor 15,55). Desde essa hora, valendo-se da vitória de Cristo, nem a morte, nem o demônio poderiam alvejá-los como antes, a não ser que os homens voltassem voluntariamente a se sujeitar àqueles tiranos.
Se nosso primeiro pai Adão não tivesse pecado, e nós todos não tivéssemos pecado n"ele, não existiria a pena de morte, mas apenas uma passagem do estado feliz da inocência ao felicíssimo da eterna pátria. O pecado, porém, nos tornou súditos da morte e escravos do demônio que nô-la procurou. Valendo-se dela, nos privou da graça, dons e amizade de Deus e do trânsito à vida eterna. Ficamos assim na servidão do pecado e do demônio (1 Jo 3,8), sujeitos a seu tirano e inimigo poder.
Cristo nosso Senhor destruiu todas estas obras do demônio. Morrendo sem culpa e satisfazendo as nossas, fez que a morte fosse apenas do corpo e não da alma; que nos tirasse a vida corporal e não a eterna, a natural e não a espiritual. Transformou-a na porta para entrar à felicidade eterna, a não ser que desejemos perder esta felicidade. Assim pagou Jesus a pena e o castigo do primeiro pecado, deixando-nos a morte corporal, quando aceita por seu amor, como a reparação que de nossa parte podemos oferecer.