Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 12 - pág. 282:][Maria de Ágreda diz:] A agonia de Cristo 1214.
Entendi, pois, que a oração de Cristo nosso Senhor, pedia ao Pai passasse d"Ele o amaríssimo cálice de morrer pelos réprobos. Já que era inevitável morrer, que ninguém, se fosse possível, se perdesse. A redenção que oferecia era superabundante para todos e, quanto era de sua vontade, aplicava-a para todos, para que a aproveitassem eficazmente, se era possível. Se não fosse possível, então resignava sua vontade santíssima à de seu eterno Pai. Nosso Salvador repetiu esta oração três vezes, com intervalos (Mt 26,44), orando longamente em agonia, como diz São Lucas (22, 43), segundo exigia a importância da causa que tratava.
A nosso modo de entender, levantou-se como que um conflito entre a humanidade santíssima de Cristo e a divindade. A humanidade, com íntimo amor pelos homens, irmãos seus pela natureza, desejava que todos conseguissem a eterna salvação. A divindade representava que, por seus altíssimos juízos, estava fixo o número dos predestinados, e conforme à equidade de sua justiça, não se deveria conceder o benefício a quem tanto o desprezava. Voluntariamente, faziam-se indignos da vida eterna, resistindo a quem lha procurava e oferecia. Deste conflito resultou a agonia e a prolongada oração de Cristo, apelando ao poder de seu eterno Pai (Mc 14,36), a cuja infinita majestade e grandeza todas as coisas eram possíveis.
[3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 12 - pág. 285/286:][Nossa Senhora diz a Maria de Ágreda:] A perda das almas aumenta a amargura da paixão de Cristo 1221. Minha filha, se tudo o que entendeste e escreveste neste capítulo, for atentamente meditado, servirá de chamada e aviso para ti e os demais mortais.
Atende, pois, e considera quanto é importante o negócio da predestinação ou reprovação eterna das almas, pois foi tratado com tanta seriedade por meu Filho santíssimo. Foi a dificuldade, ou a impossibilidade, de todos os homens se salvarem, que lhe tornou tão amarga a paixão e morte aceita pela salvação de todos. Naquela angústia, manifestou a importância e gravidade de tal empresa, multiplicando as súplicas e orações a seu eterno Pai.
O amor pelos homens obrigou-o a suar, copiosamente, seu precioso sangue de inestimável preço, porque nem todos aproveitariam sua morte. Havia os réprobos, cuja malícia os tornaria indignos e incapazes de nela participar. Meu Filho e Senhor justificou sua causa, tendo procurado a salvação de todos, sem medir e poupar seu amor e merecimentos. Justificada também está a causa do eterno Pai, com haver dado ao mundo este remédio. Colocou-o ao alcance das mãos de todos, para que cada qual escolhesse a morte ou a vida, a água ou o fogo (Ecli 15,17-18), sabendo a diferença que existe entre uma e outra coisa.
[4º Tomo - 3ª Parte - 7º Livro - Cap. 10 - pág. 108:][Diálogo entre Nossa Senhora e o apóstolo João:] Ó João — respondeu a Rainha — se a perdição de algumas almas fosse determinada pela vontade de Deus, eu poderia me consolar um pouco. Mas, ainda que permita a condenação dos réprobos, porque eles querem se perder, não era esta a absoluta vontade da divina bondade, que a todos quereria salvar (1 Tm 2,4), se eles com seu livre arbítrio não lhe resistissem.
A meu Filho Santíssimo custou suar sangue, o ver que nem todos seriam predestinados e não aproveitariam o que Ele derramava por sua salvação. Se agora no céu, pudesse sentir dor por qualquer alma que se perde, sem dúvida a teria maior do que padecer por ela. Para Mim, que conheço esta verdade e vivo em carne passível, é razão que sinta o que meu Filho tanto deseja e não consegue. Estas e outras palavras da Mãe de misericórdia, comoveram São João até as lágrimas, e acompanhou-a no pranto durante longo tempo.