Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 21 - pág. 370/371:][Nossa Senhora diz a Maria de Ágreda:] A marca dos predestinados: 1373.
Outro erro anda pelo mundo: muitos pensam que, sem padecer e sem trabalhar, seguem a Cristo seu Mestre. Dão-se por satisfeitos em não cometer grandes pecados. Remetem toda a perfeição a certa prudência e amor tíbio, com que nada negam à própria vontade,
evitando as virtudes custosas à natureza. Poderiam sair deste engano se advertissem que meu Filho santíssimo não foi apenas Redentor e Mestre; deixou no mundo, não só o tesouro de seus méritos, mas também a medicação necessária à enfermidade, da qual adoecera a natureza por causa do pecado. Ninguém mais sábio que meu Filho e Senhor. Ninguém pode entender a natureza do amor como Ele que é a própria sabedoria e caridade (1 João 4,16), além de onipotente para cumprir toda sua vontade. Não obstante, podendo tudo o que queria, não escolheu vida cômoda e suave para a natureza, mas sim trabalhosa e cheia de sofrimentos. Não teria sido suficiente e perfeito magistério redimir os homens, sem lhes ensinar a vencer o demônio, à carne e a si mesmos.
Esta magnífica vitória alcança-se com a cruz dos trabalhos, desprezos, mortificações e penitência, sinal e testemunho do amor e marca dos predestinados.
Sofrer com perfeição: 1374.
Conhecendo o valor da santa cruz e a honra que ela confere às ignomínias e tribulações, abraça, minha filha, tua cruz, levando-a com alegria no seguimento de meu Filho e teu Mestre (Mt 16, 24).
Na vida mortal, tua glória sejam as perseguições, desprezos, enfermidades, tribulações (Rom 5, 3), pobreza, humilhação, e quanto for penoso e adverso à condição da carne mortal. Para que em todos estes exercícios me imites e agrades, não quero que procures nem aceites alívio e descanso em coisas terrenas. Não deves te ocupar com teus sofrimentos, nem revelá-los só para te aliviares. Menos ainda hás de encarecer ou exagerar as perseguições e moléstias que recebes das criaturas. Não se ouça de tua boca que é muito o que padeces, nem o compares aos sofrimentos dos outros. Não digo que seja culpa receber algum alívio honesto e moderado, ou queixar-se do sofrimento. Mas, para ti, caríssima, este alívio será infidelidade a teu Esposo e Senhor, porque só a ti concedeu mais do que a muitas gerações. Tua correspondência no padecer e amar não admite falha, e não tem desculpa, se não for na plenitude da delicadeza e lealdade. Tão semelhante a Ele te quer este Senhor, que nem suspiro deveras conceder a tua fraca natureza, sem outro mais alto fim do que apenas descansar e receber consolação. Se fores conduzida pelo amor, serás levada por sua força suave. Descansarás amando, e logo o amor da cruz te dará alívio, assim como entendeste que eu fazia, com humilde submissão. Para ti seja regra geral que toda consolação humana é imperfeição e perigo, e só deves aceitar a que te enviar o Altíssimo, por Si e por seus santos anjos. Estes mesmos carinhos de sua divina destra, hás de receber com atenção, de modo que te fortaleçam para mais padecer, abstraindo-te do saboroso que pode passar para a sensibilidade.