Irmã venerável Maria de Ágreda (Espanha, 1602-1665). Obra: "Mística Cidade de Deus. Ed. Mosteiro Portaceli. 2011." [2º Tomo - 2ª Parte - 3º Livro - Cap. 23 - pág. 118:][Nossa Senhora diz a Maria de Ágreda:] Desejo, caríssima, que saibas quanto o Altíssimo está indignado atualmente com o mundo, pelas ofensas que, entre outras, recebe sobre este ponto, quer dos sacerdotes, quer dos leigos.
Dos sacerdotes, porque esquecidos de sua altíssima dignidade, a ultrajam com seu proceder vulgar, desprezível, desenvolto, e às vezes escandaloso, dando mau exemplo ao mundo com o negligente descaso da própria santificação.
Dos leigos, porque são temerários e atrevidos com a pessoa dos cristos do Senhor. Ainda que estes sejam imperfeitos e de proceder pouco louvável, os leigos os devem respeitar e reverenciar, por estarem na terra em lugar de Cristo, meu Filho santíssimo.
[2º Tomo - 2ª Parte - 3º Livro - Cap. 24 - pág. 124:][Nossa Senhora diz a Maria de Ágreda:] Advirto-te também a me imitares no
respeito e veneração pelos sacerdotes. Ao falares e despedir-te deles, pede-lhes sempre a bênção. O mesmo farás com o Altíssimo ao começares qualquer coisa.
[3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 2 - pág. 189/190:][Nossa Senhora diz a Maria de Ágreda:] Naturalidade na virtude 1052.
Ouvirás com reverência não apenas a voz interior do Senhor, mas também a seus ministros, sacerdotes e pregadores. A voz deles é o eco da do Altíssimo Deus e canais por onde corree a sã doutrina de vida, brotada da fonte perene da verdade divina. Neles Deus fala e faz ressoar a voz de sua divina lei. Ouve-os com reverência, sem jamais julgá-los e reparar em seus defeitos. Para ti sejam todos sábios e eloqüentes e em cada um ouvirás a Cristo, meu Filho e Senhor. Com isto ficarás advertida para não cair na louca ousadia dos mundanos que, com vaidade e soberba odiosa aos olhos de Deus,
desprezam seus ministros e pregadores, porque não os acham conformes à sua satisfação e depravado gosto. Como não vão ouvir a verdade divina, só consideram as expressões e o estilo, como se a palavra de Deus não fosse simples e eficaz, (Heb 4, 12) sem o adorno e argumentos apreciados pelo ouvido enfermo dos que a escutam. Não faças pouco caso deste aviso, e atende a todos quantos eu te der nesta História. Sendo tua Mestra, quero instruir-te no pouco e no muito, no grande e no pequeno, pois agir em tudo com perfeição sempre é coisa grande.
[3º Tomo - 2ª Parte - 6º Livro - Cap. 10 - pág. 254/255:][Maria de Ágreda diz:] Jesus suporta Judas: 1160. Por esta nova instrução, os apóstolos entenderam grandes segredos dos profundos mistérios que o divino Mestre ia operando.
Os demais discípulos entenderam menos que os apóstolos, e Judas quase nada. Estava possuído pela avareza, só pensava na infame traição que havia tramado, procurando levá-la a cabo secretamente. O Senhor também mantinha reserva, porque assim convinha à sua equidade e à disposição de seus altíssimos desígnios.
Não quis exclui-lo da ceia, nem de outros mistérios, até que ele mesmo se excluiu por má vontade. O divino Mestre, porém, sempre o tratou como seu discípulo, apóstolo e ministro, respeitando-lhe a honra. Com este exemplo, ensinou aos filhos da Igreja, quanta veneração devem ter aos seus ministros e sacerdotes, e quanto devem zelar por sua honra, não publicando os pecados e fraquezas que neles notarem, pois também são homens de frágil natureza.
Nenhum será pior que Judas, podemos supor. Ninguém será como Cristo nosso Senhor, nem terá igual autoridade e poder, pois isto o ensina a fé. Logo, se todos os homens são infinitamente menos que nosso Salvador, não devem fazer com os ministros do Senhor, melhores que Judas, ainda que sejam maus,
o que o mesmo Senhor não fez com aquele péssimo discípulo e apóstolo. Nem importa que sejam superiores e prelados, pois também o era Cristo nosso Senhor, e no entanto suportou Judas e respeitou sua honra.
[4º Tomo - 3ª Parte - 7º Livro - Cap. 14 - pág. 155/156:][Nossa Senhora diz a Maria de Ágreda:] Obediência aos representantes de Deus: 276.
Na vida mortal, não convém que os atos das criaturas sejam, milagrosamente, controlados pelo poder divino. E para que os homens não aleguem ignorância, Deus gravou-lhes no coração sua lei, e em seguida a deixou em sua santa Igreja. Por ela chegarão ao conhecimento da vontade divina, para a cumprir e por ela se governar.
Além disto, colocou em sua Igreja os superiores e ministros.
Ouvindo-os e obedecendo-lhes como ao mesmo Deus que os assiste (Lc 10,16), as almas teriam a certeza de neles obedecer ao Senhor. Tudo isto, caríssima, está à tua disposição com grande abundância, para não teres movimento, raciocínio, desejo, nem pensamento algum, procedentes de tua própria vontade. Assim, nada faças fora da vontade e obediência de quem se encarrega de tua alma. A ele o Senhor te envia, como enviou Paulo a seu discípulo Ananias. Tua obrigação é ainda maior, porque além de tudo isso, o Altíssimo te olhou com especial amor e graça. Quer que sejas em sua mão, instrumento para mover, assistir e governar por Si mesmo, por Mim e pelos santos anjos. Ele tudo faz com fidelidade, atenção e continuidade, como tu sabes. Considera, pois, como é razoável que morras a todo teu querer. Em ti só permaneça o querer divino, para só ele ser a alma e a vida de todos teus movimentos e operações.
Corta, pois, todos teus raciocínios e adverte que, se teu entendimento abrangesse a sabedoria dos maiores doutos, o conselho dos mais prudentes, e toda a inteligência que os anjos possuem por sua natureza — com tudo isto não acertarias a cumprir a vontade de Deus, nem chegarias de muito longe a conhecê-la, como acertarás abandonando-te inteiramente a seu beneplácito.
Só Ele conhece o que convém com amor eterno o deseja. Escolheu teus caminhos e te conduz por eles. Deixa-te levar e guiar por sua divina luz. Não percas tempo em discutir sobre o que terás de fazer, porque nisto está o perigo de errar, enquanto em meu ensino está toda tua segurança e acerto. Grava-o em teu coração e põe-no em prática, para mereceres minha intercessão que te conduzirá ao Altíssimo.