Juliana de Norwich (Inglaterra, 1342-1416). Obra: "Revelações do Amor Divino. Ed. Paulus. 2018 — Coleção Clássicos do cristianismo."
[Capítulo 20 – Oitava revelação – pág. (pdf) 58:][Juliana de Norwich diz:] Pois os homens serão salvos de todos os pecados porque ele sofreu, e toda tristeza e desolação do homem ele viu, e se entristeceu por bondade e amor.
E assim vi Nosso Senhor Jesus se abatendo por muito tempo, pois a união com a divindade deu força a sua humanidade, por amor,
para sofrer mais do que todos os homens poderiam sofrer; quero dizer, não apenas sofreu mais dor do que todos os homens poderiam sofrer, mas também sofreu mais dor do que todos os homens que serão salvos, desde o primeiro princípio até o último dia, poderiam dizer ou imaginar totalmente, se consideramos seu valor de mais alto, bendito rei, e a vergonha de sua dor mortal. Pois ele, que é o mais alto e valioso,
foi o mais plenamente desprezado e o mais completamente ofendido. Pois o mais alto ponto que pode ser visto na paixão é pensar e saber que ele, que é Deus, é quem sofreu.
E nessa visão, ele trouxe, em parte, à minha mente o peso e a nobreza da gloriosa divindade, e com isso a preciosidade e delicadeza de seu abençoado corpo, que estavam juntos, unidos; e também a relutância que é para nós sofrermos dor. Pois assim como ele era o mais delicado e puro, assim era o mais forte e poderoso para sofrer. E por todos os pecados dos homens que serão salvos ele sofreu. E toda tristeza e desolação do homem ele viu e sofreu por bondade e amor.
Pois, tanto quanto Nossa Senhora sofreu pelas dores dele, ele sofreu pelo sofrimento dela, e ainda mais, pois grandiosa era sua dócil humanidade e mais valiosa em natureza. Tanto quanto foi capaz, ele sofreu e se entristeceu por nós. E agora que ascendeu, não mais está passível; contudo, sofre conosco.
E eu, observando tudo isso por sua graça, vi que o amor dele por nossa alma era tão forte que voluntariamente escolheu isso como grande desejo e suavemente sofreu com satisfação. Pois a alma que contempla assim, quando é tocada pela graça, verdadeiramente verá que
as dores da paixão de Cristo superam todas as dores, quer dizer, aquelas que devem ser transformadas em alegrias na eternidade pela virtude da paixão de Cristo.