Santa Catarina de Gênova (Itália, 1447-1510). Obra: "Tratado do Purgatório. Ed. Santa Cruz. 2019." [Pág. 25:]Almas alheias a tudo, absortas no amor de Deus2. — E dizia:
As almas que estão no purgatório, segundo me parece entender, não podem ter outra eleição que estar naquele lugar; e isto é assim pelo mandato de Deus, que fez isto com justiça. Elas, refletindo sobre si mesmas, não podem dizer: “Eu, cometendo tais e tais pecados, mereci estar aqui”. Nem podem dizer: “Eu não gostaria de tê-los cometidos, pois agora estaria no Paraíso”. E tampouco podem dizer: “Aquelas saem do purgatório antes que eu”, ou bem “eu sairei antes daquela”.
E é que não podem ter memória alguma, tanto para o bem como para o mal, nem de si mesma nem de outros, mas que, pelo contrário, tem um regozijo tão grande de estar cumprindo o mandato de Deus, e de que Ele aja nelas tudo o que quer e como quer, que
não podem pensar nada de suas coisas. O único que veem é a operação da bondade divina, que tem tanta misericórdia do homem para conduzi-lo para Si;
e nada reparam em si mesmas, nem de penas nem de bens. Se nisso pudessem reparar, não estariam vivendo na pura caridade.
De resto,
tampouco podem ver a suas companheiras que ali penam por seus próprios pecados. Estão longe de ocupar-se nesses pensamentos. Isso seria uma imperfeição ativa, que não pode dar-se naquele lugar, onde os pecados atuais não são já possíveis.
A causa de porquê sofrem o purgatório a conheceram de uma só vez, ao partir desta vida; e depois já não pensam mais nela, pois outra coisa seria um apego de propriedade desordenada.
3. —
Estas almas vivem na caridade, e não podendo desviar-se dela com defeitos atuais, já não podem querer nem desejar outra coisa que o puro querer da caridade. Estando naquele fogo purgatório, estão na ordenação divina, que é a pura caridade, e já não podem desviar-se dela em nada,
pois já não podem atualmente nem pecar nem merecer.
[Pág. 57 - COMENTÁRIOS DO EDITOR/TRADUTOR:]Síntese da Doutrina de Santa Catarina
[...] 4. ―
A alma perde toda atenção de si mesma ou de suas companheiras de purificação, absorta no amor de Deus e, alheia a todo valor de tempo ou espaço, vive abandonada às operações divinas que a vão purificando.