Tratado do Purgatório de Santa Catarina de Gênova. Ed. Santa Cruz. 2019 [Pág. 74/80:]SufrágiosChamam-se sufrágios as orações e boas obras que os fiéis oferecem a Deus para que perdoe às almas parte ou toda a pena que tem que pagar. Chama-se sufrágios porque não tem Deus nenhum compromisso de aceitar nossas boas obras em favor das almas, nem é infalível que as aceite. Nós as oferecemos, e com elas apresentamos a Deus nosso sufrágio, nosso voto e desejo de que por aquelas obras que nós cedemos e oferecemos em favor das almas se digne livrá-las do purgatório. Mas que Deus aceite ou não o que nós oferecemos, e que o aceite por tais almas ou por outras, isso depende de sua misericórdia e livre disposição. São secretos os juízos de Deus neste ponto. E por isso devemos instar em orar e oferecer mais e mais sufrágios, para mover a misericórdia divina.
Tipos de sufrágiosTrês gêneros de boas obras que ajudam e consolam às almas podemos assinalar.
As oraçõesEstas têm muita eficácia em favor das almas. A Igreja tem muitíssimas e belíssimas preces para orar por elas, no Ofício de Defuntos, na Missa, nas exéquias. Estas orações têm mais força diante de Deus quando se fazem de ofício por seus ministros, não porque estes sejam melhores ou piores, mas por serem orações, como oficiais da Igreja toda, litúrgicas.
As penitênciasNesta conta entram primeiro as penitências feitas expressamente para satisfazer a Deus pelos pecados, como jejuns, cilícios, disciplinas, incomodidades, privações, etc. Ademais, todos os sofrimentos ordinários, embora sejam involuntários, como enfermidades, desgraças, contrariedades, inclemências do tempo, cansaços do trabalho, e ainda as circunstâncias da vida que Deus nos deu, como pobreza, tristeza, humilhação, trabalho, etc., levados com resignação.
Todo gênero de boas obrasAtos de virtude, e sobretudo, as Missas, as esmolas, as obras de caridade e de misericórdia, os Ofícios divinos. E costuma ser uso antigo renovar estes ofícios funerais em certos períodos, como o terceiro dia, em lembrança da Ressurreição de Nosso Senhor; o nono, por devoção aos nove coros angélicos, a quem a Igreja encomenda os moribundos e defuntos; o quadragésimo, em lembrança dos quarenta dias que duraram os funerais de Moisés, e, sobretudo, o aniversário.
O escapulário do Carmo levado em vida é bem sabido que é muito eficaz para obter pronta saída do purgatório ao sábado seguinte; mas para isso é preciso guardar a castidade própria de cada estado e rezar o Ofício Parvo ou aquelas orações nas quais os que têm autoridade comutem esta oração.
IndulgênciasUm dos melhores modos de sufrágios pelas almas são as indulgências.
Indulgências são a remissão da pena temporal devida pelos pecados, que, perdoada a culpa, no Sacramento ou por contrição, faz a Igreja fora do Sacramento, concedendo aos fiéis parte do tesouro que ela tem formado das satisfações infinitas de Cristo, das abundantes da Virgem e das que os Santos deixavam, porque lhes sobrava depois de pagar as penas que por suas faltas eles deviam. Estas indulgências são uma espécie de regalo que a Igreja faz a certos fiéis com certas condições, aplicando-lhes o valor satisfatório de outros. E concede que se possam oferecer também a Deus pelas almas. Hoje todas as indulgências, a não ser que se diga expressamente o contrário em alguma, são aplicáveis às almas. O Rosário e o Terço têm muitas, o escapulário do Carmo, o azul da Imaculada, muitas orações, jaculatórias e obras pias têm muitas indulgências.
É de notar que quando se diz tantos dias de indulgência, não significa que serão diminuídos a uma alma outros tantos dias do purgatório, mas unicamente que se concede o valor satisfatório equivalente a outros tantos dias de penitência canônica, como se fazia antigamente conforme os cânones; e se é aceita por Deus, se perdoa à alma tanto quanto se lhe houvera perdoado se em tantos dias houvera feito aquela penitência.
Voto pelas almasCom este nome se designa o que também se chama ato heroico em favor das almas. É o oferecimento que fazem alguns devotos das almas a Deus de todo o valor satisfatório das próprias obras. De tal modo, que quem o faz oferece tudo quanto está de sua parte, a que todas a suas obras feitas nesta vida, e o mesmo as indulgências ganhas, etc., não lhe valham para tirar-lhe a ele penas do purgatório, mas que tudo cede para as almas, comprometendo-se ele a pagar tudo o que deva no purgatório. Este ato é muito meritório, e por ele se ganha muito mérito diante de Deus, ainda quando se perca para si mesmo muita satisfação, se Deus aceita em favor das almas. A Igreja concedeu a este voto muitas indulgências e graças. É de notar que quem o faz pode dispensar-se a si mesmo do voto quando quiser.