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Confissão, Conversão, Reconciliação, Penitência, Perdão, Expiação (sacramento, remissão, absolvição)

 Perdoar implica a renúncia ao ódio e à vingança; mas, em certos casos, devemos exigir a reparação do mal cometido

Padre João A. MacDowell, S.J. Obra: Religião também se aprende. Volume 5. 2001. Ed. Santuário. Aparecida/SP. 130p.

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    De fato, o perdão é um mandamento absoluto de Cristo, uma exigência central de sua mensagem, condição para ser perdoado por Deus e receber a sua salvação: "Se perdoardes aos homens as suas culpas também vosso Pai celeste vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, vosso Pai celeste não perdoará as vossas culpas" (Mt 6,14s.).
    Mas é preciso entender bem o que significa perdoar. Trata-se de querer bem mesmo a quem me ofendeu, quer dizer, querer o seu bem verdadeiro, que inclui a sua conversão, a sua mudança de malfeitor em amigo. O perdão implica a renúncia ao ódio e à vingança. É um gesto gratuito. Não espero que o outro peça perdão e repare sua ofensa, mas me antecipo desejando-lhe todo bem. O perdão é, portanto, uma expressão do amor; e sem amor não pode haver vida verdadeira.
    É nesse nível que o perdão é algo absolutamente necessário para estar em paz com Deus: no nível da vontade, da decisão livre, não do sentimento. Não está em nosso poder não sentir a ofensa, esquecer o mal que nos foi feito. Nem Jesus exige isso. Querer, porém, o bem ou o mal, a vida ou a morte do irmão, já é uma coisa que depende de nós, embora a decisão de perdoar possa custar muito. [...] Se perdoo, ainda que com o coração sofrido, a convivência para mim deixará de ser amarga: encontrarei a paz. Se o perdão é mútuo, crescerá entre nós a comunhão e a alegria, dons do Espírito de Deus. [...] Perdoar aqui significa não pagar mal por mal, antes desejar o bem, a felicidade, mesmo dos que nos fizeram mal. Nesse sentido a exigência de perdão não admite exceções.
    Mas esse perdão que se traduz no desejo do bem do outro não significa necessariamente deixar passar sem mais a injustiça cometida. Não se trata de fechar os olhos ao mal. Ao contrário, trata-se de enfrentá-lo, de procurar superá-lo, mas sem ódio, nem vingança, com o amor no coração. É preciso em cada caso verificar qual é a melhor atitude a tomar. Às vezes a solução mais cristã é simplesmente não exigir nenhuma satisfação, sobretudo quando a pessoa está sinceramente arrependida do mal que fez. [...] Mas noutras circunstâncias o bem maior levará a exigir uma reparação da injúria. Outro santo, Inácio de Loyola, processou um caluniador e insistiu para que o tribunal chegasse à sentença condenatória, porque, enquanto pairasse qualquer suspeita sobre a integridade de sua vida e ensinamento, seu trabalho de evangelização ficaria prejudicado. Não foi por desejo de vingança que tomou essa iniciativa. Embora tivesse perdoado de coração o seu ofensor, sentia-se na obrigação de combater o mal provocado pela ofensa. Outras vezes a reparação deve ser exigida por motivos educativos ou preventivos. Posso perdoar e ao mesmo tempo querer que o malfeitor seja castigado, por amor dele e dos outros, se a punição vai contribuir para que não volte a cometer a mesma injustiça.
    É preciso, portanto, discernir em cada caso como devemos nos comportar diante de uma ofensa, mas sempre animados pelo amor sincero pela pessoa que nos ofendeu.



Obs.: As expressões no texto entre colchetes ou parêntesis destacadas na cor azul não fazem parte do original.