Sua respiração estava ofegante. Seu corpo estava trêmulo de dor e procurava constantemente uma posição confortável apoiando-se em seus pés. Mas não havia zona de conforto, toda posição era Insuportável. Na primeira hora da cruz, era impossível pensar, raciocinar ou produzir qualquer idéia inteligente, que dirá afetiva. Porém, quando todos esperavam que no ápice da sua dor Jesus abolisse a sua lucidez, ele encosta na cruz, sente dores por essa manobra, enche os seus pulmões e proclama altissonante: "Pai, perdoa-os porque eles não sabem o que fazem". [...] Concluí que essa frase foge completamente à lógica intelectual. [...] Na história, a tônica sempre foi excluir os inimigos. Aos amigos, a tolerância; e aos inimigos, o desprezo e o ódio. Entretanto, houve um homem cujas reações estavam completamente na contramão da história. Jesus Cristo enxergava o ser humano, mesmo seus inimigos, além da cortina dos seus comportamentos. No ápice da dor, ele ainda conseguia compreendê-los, tolerá-los e incluí-los. Quem poderia imaginar um personagem como ele foi? Nem a filosofia, em seus delírios utópicos, conseguiu idealizar um homem como o mestre dos mestres. [pág. 122/123)
"Perdoa-os" por quê? Que motivo ele tinha para perdoá-os? Nenhum! Os mesmos homens que o crucificaram foram os que zombaram dele e o açoitaram na casa de Pilatos. Quem é esse homem que mesmo esmagado pela dor consegue amar? [pág. 130)
Como excelente observador da psicologia e da filosofia, compreendeu que os homens que o julgavam e o crucificavam estavam anestesiados pelo sistema social, religioso e político. Anestesiados por uma droga mais potente do que aquela que queriam lhe dar para amenizar seus sofrimentos. [pág.137)