C.S.Lewis (Reino Unido, 1898-1963). Obra: "Cristianismo puro e simples. 3ª edição, 2009." “A principal coisa que aprendemos quando tentamos praticar as virtudes cristãs é que fracassamos. Se tínhamos a idéia de que Deus nos impunha uma espécie de prova na qual poderíamos merecer passar por tirar boas notas, essa idéia tem de ser eliminada.
[...] Deus está à espera do momento em que você vai descobrir que jamais conseguirá tirar a nota mínima para passar nesse exame, e não poderá jamais deixá-lo em dívida. Com isso vem outra descoberta. Todas as faculdades que você possui, sua faculdade de pensar ou de mover os membros a cada momento, lhe são dadas por Deus. Mesmo se dedicasse cada momento de sua vida exclusivamente ao seu serviço, você não poderia dar-lhe nada que, em certo sentido, já não lhe pertencesse. Logo, quando uma pessoa diz que faz algo para Deus ou lhe dá algo, é como se uma criança pequena que interpelasse o pai lhe pedisse: "Papai, me dê cinqüenta centavos para lhe comprar um presente de aniversário." É claro que o pai dá o dinheiro e fica contente com o gesto do filho. Tudo é muito bonito e muito correto, mas só um imbecil acharia que o pai lucrou cinqüenta centavos com a transação.
[...] Disse há pouco que essa questão surge no homem depois que ele tentou ao máximo praticar as virtudes cristãs, constatou-se incapaz e chegou à conclusão de que, mesmo que tivesse conseguido, não estaria oferecendo a Deus nada que já não lhe pertencesse. Em outras palavras, ele descobre que está falido. É bom repetir: o que importa para Deus não são nossas ações enquanto tais. O que lhe importa é que sejamos criaturas de determinado tipo ou qualidade.
[...] Nesse sentido, só podemos descobrir que somos incapazes de cumprir a Lei de Deus depois de tentar cumpri-la com todas as nossas forças (e fracassar em seguida).”
[pág. 190/191, 193/195]“A conseqüência prática é a seguinte: por um lado, mesmo que Deus exija a perfeição, você não precisa em absoluto se desanimar com suas tentativas atuais de ser bom, ou mesmo com seus atuais fracassos. Toda vez que você fracassar, ele o colocará de pé. E ele tem perfeita consciência de que seus próprios esforços não o aproximarão em nada da perfeição. Por outro lado, você tem de saber desde o princípio que a meta rumo à qual ele o dirige é a perfeição absoluta; e não existe poder algum no universo, exceto você mesmo, que possa impedi-lo de conduzir você a essa meta.”
[pág. 268]