“Todo o sofrimento que Cristo passou foi como homem, um homem como qualquer outro. Os açoites, os espinhos e os cravos da cruz penetraram num corpo físico humano. Ele sentiu as dores como qualquer ser humano sentiria se passasse pelos mesmos sofrimentos.” [pág. 109)
“Por um lado, ele almejava retornar à glória que tinha antes que houvesse o mundo, mas primeiro teria de cumprir a sua mais amarga missão. Por outro lado, desejava resgatar o homem e, para isso, teria de passar pelo seu martírio como um homem. E o que é pior, teria de tomá-lo como nenhum homem o fez. Não poderia pedir clemência no momento em que estivesse sofrendo. Não poderia gritar como toda pessoa ferida, pois era simbolizado pelo cordeiro, que é um dos poucos animais que silencia diante da morte. Não podia odiar e se irar contra os seus inimigos. Pelo contrário, teria de perdoá-los e, mais do que isto teria de amá-los, caso contrário trairia as palavras que ele mesmo proclamou aos quatro ventos: "Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem".” [pág. 145)
“Crer em Cristo corno filho de Deus depende da fé. Entretanto, não se pode negar que, independente da sua condição divina, ele foi um homem até às últimas consequências. Sofreu e se angustiou como um homem. Onde ele reuniu forças para superar o caos que se instalou na sua emoção naquele escuro jardim? Ele foi sustentado por um contínuo e misterioso estado de oração. A oração trouxe-lhe saúde emocional. Diluiu sua angústia e irrigou sua alma com esperança. Cristo, sabendo que teria de suportar seu cálice como um homem, sem qualquer anestésico e com a mais alta dignidade, teve seu sistema orgânico abalado por sintomas psicossomáticos. Não apenas teve sudorese, mas um raro caso de hematidrose, só produzido no extremo do stress. Lucas comenta que seu suor se tornou como gotas de sangues. Há poucos casos na literatura médica que relatam que alguém, submetido a intenso stress, teve ruptura ou abertura dos capilares sanguíneos capaz de permitir que as hemácias fossem expelidas junto com o suor.” [pág. 146)
“Apesar de sofrer como um homem, Jesus tinha uma humanidade nobilíssima. Notem que ele disse ao seu Pai. "Afaste de mim este cálice". O pronome demonstrativo este indica que ele estava se referindo ao que estava ocorrendo em sua mente com respeito ao cálice físico que iria suportar na manha seguinte. Imagine quantos pensamentos e emoções angustiantes não transitavam pela sua mente. Vamos nos colocar no lugar dele. Imaginemos nossa face toda cheia de hematomas pelos murros dos soldados, nossas costas sulcadas pelos açoites, nossa cabeça ferida pelos múltiplos espinhos. Imaginemos também os primeiros pregos esmagando a pele, nervos e músculos de nossas mãos. Qual cálice seria pior o cálice psíquico, ou seja, dos pensamentos antecipatórios, ou o cálice físico? Normalmente o cálice psicológico é pior do que o físico, mas no caso de Jesus eram ambos, pois o sofrimento da cruz era indescritível. Entretanto, ele pedia ao Pai que afastasse dele "este" cálice, o cálice psíquico o que se passava na sua mente, e não o físico. Mas como este cálice também fazia parte do seu martírio, em seguida, emendou. "Mas não faça a minha vontade". Com resignação se rendeu à vontade de seu Pai.” [pág. 179/180)
“Se Cristo objetivasse camuflar as suas emoções, jamais teria expressado a sua dor no Getsêmani e jamais teria manifestado a sua vontade de não beber o cálice.” [pág. 184)
Jesus sempre esteve disposto a carregar a sua cruz. Agora, era chegado o momento. Contudo, seus inimigos o torturaram tanto que não tinha energia para carregá-la. Ele tentava, mas ao colocar a trave de madeira sobre os ombros, caía frequentemente. [pág. 74)
Os soldados davam-lhe chibatadas. Lentamente ele se levantava e novamente ajoelhava. Para não atrasar o desfecho final, chamaram o primeiro homem forte que estava próximo para ajudá-lo. Foi, então, que colocaram a cruz sobre Simão, o cirineu. [...] Ele caminhava lentamente. Sua cabeça pendia sobre seu peito. Estava, portanto, sem condições físicas e psíquicas para se preocupar com mais nada, a não ser consigo mesmo. Entretanto, ao observar os gritos da multidão que o amava, ele parou, não suportou. Ergueu seus olhos! Viu os leprosos e os cegos que curou, as prostitutas que acolheu, bem como inúmeras mães carregando seus filhos no colo. Seu coração se derreteu... Então, quando todos pensavam que ele não tinha mais energia para raciocinar e dizer qualquer palavra, fitou a multidão, focalizou mulheres e disse, provavelmente com lágrimas: "Filhas de Jerusalém, não chorais por mim. Chorai por vós e por vossos filhos". Que homem é capaz de se esquecer de si mesmo e se preocupar com os outros no auge dos seus sofrimentos? [pág. 75)
Talvez estivesse alertando as mães a se preocupar com seus filhos, pois dias dramáticos viriam. Talvez estivesse antevendo a destruição dramática de Jerusalém pelos romanos no ano 70 d.C. A destruição de Jerusalém foi um dos capítulos mais angustiantes da história da humanidade e poucos o conhecem. [pág. 77)
Jerusalém foi destruída no ano de 70 d.C. O saldo da guerra corrói a alma. Morreram cerca de um milhão e cem mil homens, mulheres e crianças, vítimas da guerra e das suas consequências. O solo dessa bela cidade absorveu o sangue e as lágrimas de muitos inocentes. Mais uma vez a história humana maculou-se com atrocidades inexprimíveis. [pág. 79)
Muitos homens foram feridos e torturados ao longo das eras, mas é provável que nunca um homem tenha passado pela sequência de tortura que ele passou. Entretanto, nunca um homem foi tão forte e seguro num ambiente onde só era possível reagir com ansiedade e desespero. A ciência dormita em relação à compreensão do homem Jesus. Espero que meus colegas cientistas da psicologia, da psiquiatria e das ciências da educação possam ter a oportunidade de estudar sua inusitada personalidade. [pág. 85/86)
Ao manifestar que estava com sede, os soldados, sem nenhuma piedade, não apenas não lhe deram água, mas vinagre. O vinagre é um ácido: ácido acético. Quando os soldados embeberam uma esponja com o vinagre e o deram para Jesus beber, ele sentiu uma dor indescritível. O ácido acético penetrou em cada fissura da sua boca e provocou uma sensação horrível de queimação. Sua língua e seus lábios pegaram "fogo". Queria abanar com suas mãos a sua boca, mas estava pregado na cruz. Não podia fazer nenhuma manobra para ser aliviado. Tremia de dor e mexia sua cabeça sem parar para tentar suavizá-la. Nada adiantava. Não tinha mais força para respirar e se refrescar com o ar que saía dos seus pulmões. [pág. 203/204)