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Eucaristia (comunhão, corpo de Cristo, hóstia sagrada, hóstia consagrada, sacramento)
       A prefiguração da Eucaristia no Antigo Testamento

 A prefiguração da Eucaristia no Antigo Testamento e o vínculo com a Última Ceia

Bíblia Ave Maria (João 1:26-37)

26.João respondeu: “Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. 27.Esse é quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar a correia do calçado”. 28.Esse diálogo se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando. 29.No dia seguinte, João viu Jesus que vinha a ele e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
[Nota: 1,29. Conferir Is 53,7: o Messias sofredor é representado na imagem de um cordeiro]
30.É este de quem eu disse: Depois de mim virá um homem, que me é superior, porque existe antes de mim. 31.Eu não o conhecia, mas, se vim batizar em água, é para que ele se torne conhecido em Israel”. 32.(João havia declarado: “Vi o Espírito descer do céu em forma de uma pomba e repousar sobre ele”.) 33.Eu não o conhecia, mas aquele que me mandou batizar com água disse-me: Sobre quem vires descer e repousar o Espírito, este é quem batiza no Espírito Santo. 34.Eu o vi e dou testemunho de que ele é o Filho de Deus”. 35.No dia seguinte, estava lá João outra vez com dois dos seus discípulos. 36.E, avistando Jesus que ia passando, disse: “Eis o Cordeiro de Deus”. 37.Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus.

Bíblia Ave Maria (Isaías 53:7)

7.Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. Ele não abriu a boca.
Nota: 53:7 - Isaías profetiza sobre a submissão de Jesus ao sofrimento e à morte na cruz, comparando-O a um cordeiro que é levado ao matadouro. Essa profecia se cumpriu em Jesus, que se ofereceu voluntariamente como sacrifício pelos nossos pecados, sem abrir Sua boca em defesa própria (Mateus 27:31-32, João 1:29).

Bíblia Ave Maria (Êxodo 12:1-47)

1.O Senhor disse a Moisés e a Aarão: 2.“Este mês será para vós o princípio dos meses: vós o tereis como o primeiro mês do ano. 3.Dizei a toda a assembleia de Israel: no décimo dia deste mês cada um de vós tome um cordeiro por família, um cordeiro por casa. [...] 5.O animal será sem defeito, macho, de um ano; podereis tomar tanto um cordeiro como um cabrito. 6.E o guardareis até o décimo quarto dia deste mês; então toda a assembleia de Israel o imolará no crepúsculo. 7.Tomarão do seu sangue e o porão sobre as duas ombreiras e sobre a moldura da porta das casas em que o comerem. 8.Naquela noite comerão a carne assada no fogo com pães sem fermento e ervas amargas. [...] 11.Eis a maneira como o comereis: tereis cingidos os vossos rins, vossas sandálias nos pés e vosso cajado na mão. Vós comereis apressadamente: é a Páscoa do Senhor. [...] 14.Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com uma festa em honra do Senhor: fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição perpétua. [...] 17.Guardareis (a festa) dos Ázimos, porque foi naquele dia que tirei do Egito vossos exércitos. Guardareis aquele dia de geração em geração: é uma instituição perpétua. 21.Moisés convocou todos os anciãos de Israel e disse-lhes: “Ide e escolhei um cordeiro por família, e imolai a Páscoa. [...] 24.Observareis esse costume como uma instituição perpétua para vós e vossos filhos. 25.Quando tiverdes penetrado na terra que o Senhor vos dará, como prometeu, observareis esse rito. 26.E quando vossos filhos vos disserem: "Que significa esse rito?" – respondereis: 27."É o sacrifício da Páscoa, em honra do Senhor que, ferindo os egípcios, passou por cima das casas dos israelitas no Egito e preservou nossas casas".” O povo inclinou-se e prostrou-se. [...] 42.Foi uma noite de vigília para o Senhor, a fim de tirá-los do Egito: essa mesma noite é uma vigília a ser celebrada de geração em geração por todos os israelitas, em honra do Senhor. 46.O cordeiro será comido em uma mesma casa: tu não levarás nada de sua carne para fora da casa e não lhe quebrarás osso algum. 47.Toda a assembleia de Israel celebrará a Páscoa.

Catecismo da Igreja Católica

"Item 1333. [...] A Igreja vê no gesto de Melquisedec, rei e sacerdote, que «ofereceu pão e vinho» (Gn 14, 18), uma prefiguração da sua própria oferenda (165). 1334. Na Antiga Aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as primícias da terra, em sinal de reconhecimento ao Criador. Mas também recebem uma nova significação no contexto do Êxodo: os pães ázimos que Israel come todos os anos na Páscoa, comemoram a pressa da partida libertadora do Egito; a lembrança do maná do deserto recordará sempre a Israel que é do pão da Palavra de Deus que ele vive (166). Finalmente, o pão de cada dia é o fruto da terra prometida, penhor da fidelidade de Deus às suas promessas. O «cálice de bênção» (1 Cor 10, 16), no fim da ceia pascal dos judeus, acrescenta à alegria festiva do vinho uma dimensão escatológica – a da expectativa messiânica do restabelecimento de Jerusalém. Jesus instituiu a sua Eucaristia dando um sentido novo e definitivo à bênção do pão e do cálice"

Justino de Roma (100-165 d.C.). Obra: "Diálogos com o sábio judeu Trifão (155 d.C.) in Patrística: Padres Apologistas. Vol. 2. Ed. Paulus. São Paulo. 1995. 324p." (pág. 169)

“De fato, o mistério do cordeiro que Deus mandou sacrificar como Páscoa era figura de Cristo, com cujo sangue os que nele crêem, segundo a fé nele, ungem suas casas, isto é, a si mesmos. [...] Por outro lado, o cordeiro que era mandado assar completamente era símbolo da paixão da cruz que Cristo devia sofrer. Com efeito, assa-se o cordeiro colocado em forma de cruz, pois uma ponta do espeto o atravessa dos pés à cabeça, e a outra atravessa-lhe as costas e nela se apoiam as partes dianteiras do cordeiro.”

Bo Reicke (Suécia, 1914–1987). Obra: "História do tempo do novo testamento. São Paulo. Ed. Paulus. 1996. 376p."

“Conseqüentemente Jesus fez a santa ceia com seus discípulos não na noite de páscoa, mas na noite anterior. É esta também a opinião dos sinóticos, embora eles tivessem usado expressões que dão margem a mal-entendidos, não tão clara que separa como João a ceia noturna do seus discípulos, da ceia pascal do judaísmo.” [pág. 202]

”Não chamou a atenção o fato de Jesus na noite do dia da preparação mandar preparar um lugar e considerando-se que na Galiléia o dia da preparação já era santificado (v. p. 200), os discípulos não acharam que já tendo havido uma refeição comunitária nesta noite como introdução à Páscoa fosse exagero, principalmente por que nos dias 13 e 14 de Nisã havia também sacrifícios comunitários (Mishn. Zeb. 1,2; Tos. Pes. III,8,162). Esta refeição comunitária à noite de modo surpreendente tão aperfeiçoada, que Jesus anunciou sua iminente entrega, e em conseqüência disto fundou uma nova Aliança (Mt 26,20-29 e par.) A palavra sobre o sacrifício do sangue de Jesus não se coaduna com um cordeiro imolado no templo. Em todo o caso, os evangelhos sinóticos jamais indicaram que Jesus tenha mandado imolar e assar um cordeiro pascal para a ceia (paska em Lc 22,15s não significa cordeiro, mas se relaciona à refeição, pois só assim as seguintes palavras são compreensíveis: “eu vos digo que não mais a comerei até que se cumpra no Reino de Deus”). A não citação do cordeiro não pode ser explicada como mero acaso, pois uma negligência destas no momento mais importante da festa da Páscoa seria estranha diante dos variados pormenores da descrição. A curiosa ausência do cordeiro pascal, independente de todos os outros fatores, seria a seguinte: Jesus celebrou a ceia na noite do dia da preparação e antes do dia da imolação do cordeiro pascal. Justamente a falta do cordeiro pascal confere à instituição do novo sacrifício pascal uma forma litúrgica cheia de sentido: deste modo o próprio Jesus pôde se apresentar como o Cordeiro da reconciliação como ele foi denominado por João e Paulo (Jo 1,29; 1Cor 5,7). Embora com isto o sacrifício pascal propriamente dito só devesse acontecer no dia seguinte, Jesus antecipou, de acordo com os sinóticos, em sua ceia diversos elementos da páscoa (Mt 26,20-30 e par.): vasilha para mergulhar as ervas amargas, tortas de pão; cálice com vinho, por motivo da pressa (assim Lc 22,15); agradecimento, distribuição; corpo e sangue como sacrifício comunitário; instituição da Aliança, reconciliação; o canto do Hallel — aleluia — ainda prontidão para viagem (isto conf. Lc 22,36).” [pág. 203/204]


Scott Hahn. Obra: "Razões para crer – Como entender, explicar e defender a Fé Católica. Ed. Cleófas. 1ª edição. 2015." (pág. 121)

“Jesus ensinou que a Eucaristia foi prenunciada no maná dado por Deus durante o êxodo do povo de Israel do Egito (cf. Jo 6,49-51). Na verdade, muito antes da Última Ceia, Jesus já havia prefigurado a Eucaristia ao multiplicar os pães para alimentar seu povo; ao mencionar cenas de banquetes em sua pregação e optando por nascer em uma cidade chamada Belém (em hebraico "a casa do pão"). E numa prefiguração explícita e prolongada, detalhou a teologia de Sua presença Eucarística no famoso discurso do "Pão da Vida" (Jo 6,26-58). "Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida" (Jo 6,51). Sua carne é pão; Seu sangue é bebida. Isso corresponde diretamente às Suas palavras sobre o pão e o vinho na Última Ceia: "Isto é o Meu corpo... Este é o cálice do Meu sangue" — a própria ação que Ele ordenou a seus Apóstolos para repetirem.”

Scott Hahn. Obra: "Razões para crer – Como entender, explicar e defender a Fé Católica. Ed. Cleófas. 1ª edição. 2015." (pág. 178)

“Com essas associações da aliança, Jesus marca esta ceia como a ceia de renovação da aliança, assim como a Páscoa era a renovação da aliança de Deus com Moisés também numa refeição. Quando os cristãos bebem do cálice da Eucaristia, eles reafirmam o seu lugar dentro da aliança, renovando e transformando a aliança messiânica de Davi. Dentro desse reino renovado, Jesus irá partilhar a Sua autoridade, mas não sem antes corrigir as noções equivocadas dos discípulos sobre o reino e seu poder (LC 22,28-30). Ele lhes diz: "Assim como o meu Pai confiou o Reino a mim, eu também confio o Reino a vocês" (v. 29).

Scott Hahn e Curtis Mitch. Obra: "O evangelho de São João: Cadernos de estudo bíblico. Editora Ecclesiae. 1ª edição. 2015. 123p." (pág. 29, 49)

Nota relativa à passagem de Jo 1, 29, que afirma que Jesus é o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo: “"Cordeiro de Deus" — Mostra a dimensão sacrificial da missão de Jesus. Essa dimensão já tinha sido prefigurada nos cordeiros pascais do Êxodo, cujo sangue foi usado como marca para a divina proteção de Israel e a carne consumida numa refeição litúrgica (Êx 12, 1-27), e profetizada por Isaías, que representou na imagem de um cordeiro inocente morto pelos pecados dos outros, o próprio Messias Sofredor (Is 53, 7-12; CIC 608). Ver notas em Jo 12, 32 e 19, 36.” [pág. 29]

“A Páscoa era celebrada anualmente em Jerusalém para comemorar a salvação de Israel da escravidão egípcia (Êx 12). O cerne da festa está na refeição litúrgica, chamada Sêder, onde os judeus recontam a narrativa do Êxodo, cantam Salmos e comem cordeiro com pão ázimo e ervas amargas. O evangelista [João] atenta para a proximidade dessa festa, discretamente prenunciando que Jesus daria um novo e maior significado à Páscoa. Ele é o "cordeiro de Deus" (l, 29), cuja redenção libertará o mundo da escravidão do pecado (8, 31—36) por meio de uma refeição sacramental e litúrgica (6, 53—58; 1Cor 5, 7—8). O significado da Páscoa, em segundo plano neste capítulo, tomará o primeiro plano quando Jesus transformar esse banquete na refeição memorial da Nova Aliança, na Última Ceia (Mt 26, 17—29; CIC 1340). Ver nota em Jo 19, 36.” [pág. 49]


Augusto Cury (Brasil, 1958-X). Obra: "Análise da Inteligência de Cristo: o Mestre da Sensibilidade. São Paulo. Ed. Academia de Inteligência. 2000. 214p."

A páscoa era uma festa comemorada anualmente para lembrar a libertação do povo de Israel do Egito. Antes de sua partida do Egito, cada família imolara um cordeiro e aspergira seu sangue sobre os umbrais das portas, e a sua carne, uma vez ingerida, supriu forças para o povo iniciar sua jornada pelo deserto, uma jornada em busca da tão sonhada terra de Canaã, a terra prometida.” [pág. 63]

Os discípulos não haviam entendido que Jesus queria se identificar com o cordeiro da páscoa, para nutrir, alegrar e libertar não apenas o povo de Israel, mas também toda a humanidade. João Batista, ao se deparar com o mestre de Nazaré, produziu uma frase de grande impacto e incompreensível aos seus ouvintes - "Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". Ele considerou o carpinteiro da Galiléia como o redentor do mundo. Ninguém, antes ou depois de Jesus, assumiu tarefa tão estonteante. O próprio Jesus, corroborando o pensamento de João Batista, se posicionou de tal maneira como o "cordeiro de Deus" e planejou morrer no dia da páscoa.” [pág. 64]

“Naquela noite incomum, Cristo não apenas lavou os pés dos seus discípulos e os estimulou a desenvolver as funções mais altruístas da inteligência, mas também os abalou com um diálogo surpreendente. Todos estavam reclinados sobre a mesa, saboreando o cordeiro da páscoa. Então, Cristo interrompeu a ceia, olhou para eles e proferiu seu mais intrigante discurso. Um discurso pequeno, mas que perturbou profundamente seus discípulos. Um discurso que é capaz de deixar qualquer pensador da psicologia e da filosofia estarrecido se o analisar. Os discípulos estavam comendo tranqüilos a páscoa, mas de repente, Jesus tomou o pão, o partiu e disse de maneira segura e espontânea: "Tomai, comei, isto o meu corpo". E tomou um cálice e, lendo dado graças, deu-lhes, dizendo: "Bebei dele todos, porque isto é meu sangue da aliança, que e derramado por muitos, para perdão de pecados". Nunca na história alguém teve a coragem de discursar sobre o seu corpo e seu sangue dessa maneira, e muito menos de dar um significado à sua morte como ele deu.” [pág. 65]

“Jesus é, sem dúvida, uma pessoa singular na história. Qualquer um que se der o trabalho de pensar minimamente na dimensão dos seus gestos ficará "assombrado". Milhões de cristãos contemplam semanalmente os símbolos do vinho e do pão no mundo cristão, porém aquilo que parece um simples ritual revela de fato as intenções de uma pessoa surpreendente.” [pág. 68]




Obs.: As expressões no texto entre colchetes ou parêntesis destacadas na cor azul não fazem parte do original.