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Reino de Deus

 O Reino de Deus é a Igreja

Scott Hahn. Obra: "Razões para crer – Como entender, explicar e defender a Fé Católica. Ed. Cleófas. 1ª edição. 2015." (pág. 180 a 188)

Pois Cristo deixou claro: o reino de Deus é a Igreja, e esta pertence aos filhos de Deus, pois "participam da carne e do sangue" (Hb 2,14) do grande rei. [...] A promessa da herança e do reino de Jesus é cumprida com os Apóstolos assumindo sua autoridade na Igreja. Além do mais, a promessa da comunhão à mesa é cumprida logo após a Ressurreição e, depois, continuada na prática Eucarística da Igreja. Nos primeiros versículos dos Atos (1,3.6), aprendemos que o assunto tratado por Jesus com os Apóstolos, ao longo dos 40 dias [após a ressurreição], foi o reino de Deus. O "reino" continuará sendo um tema central em todo o livro, que termina com Paulo anunciando o reino de Deus em Roma (28,31). Atos 1,4 faz a conexão, agora familiar, entre a promessa do reino e o comer e beber — o banquete messiânico — quando afirma que Jesus lhes ensinou nesse período de quarenta dias, e "fez uma refeição" com eles. "Fazer uma refeição" é uma gíria que significa "comer juntos".” [pág. 180]

“Entretanto, é importante notar que o reino messiânico não é somente restaurado, mas também, transformado. O Filho de Davi [Jesus] não é entronizado na Jerusalém terrestre, mas na celeste, "exaltado à direita de Deus». O reino foi deslocado da Terra para o Céu, mesmo que continue a se manifestar na Terra pela Igreja. O reino — a Igreja — existe simultaneamente na Terra e no Céu. O rei é entronizado no céu, mas Seus ministros (os Apóstolos) estão em atividade na Terra. Enquanto isso, o rei celeste está unido aos Seus oficiais e a Seus súditos através do Espírito Santo e dos sacramentos, especialmente do Batismo e da Eucaristia (At 2,38-42). [...] O novo reino Davi, existe simultaneamente no céu e na terra, pois seus cidadãos passam de uma esfera outra.Ainda, o reino inteiro — ou seja, toda a Igreja — está unido(a) pela presença do Espírito Santo nele(a) e pela celebração da Eucaristia. Essa é a forma do rei se fazer presente, quando o reino é manifestado e quando os cidadãos deste reino da terra participam perpetuamente do banquete messiânico do rei celestial. [pág. 182/183]

O reino estabelecido por Davi no Antigo Testamento... tem seu paralelo mais próximo na Igreja no Novo Testamento. [...] De fato, há imperfeições no que vemos da Igreja. Afinal, todos os governantes terrenos do reino são imperfeitos, como eu sou e, como eu suponho que você também seja; e como Davi era, e como Pedro também foi. Como disse no início do livro, o papa se confessa pelo menos uma vez por semana.Mas esta Igreja, com todas as suas imperfeições, é a única Igreja que pode corresponder tanto com o reino da aliança de Jesus, como com as "parábolas do reino" que Jesus nos fala no Evangelho de Mateus. Com aquelas sete parábolas, Ele preparou seus discípulos para que reconhecessem o reino dos céus, e também, para que percebessem que o reino na Terra seria uma mistura de bons e de maus — muito parecido com o reino original de Davi. Seria como um campo semeado tanto com trigo como com joio, ou como uma rede de arrastão cheia de bons peixes, mas também de peixes ruins. [...] Em meio ao interrogatório de Pilatos, Jesus falou o que importava saber com termos inequívocos: "O meu Reino não é deste mundo; se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo" (Jo 18,36). Jesus não quis dizer que o Seu reino não estava neste mundo, mas apenas que o Seu reino não tinha sua autoridade real derivada de espadas ou exércitos, ou votos majoritários em eleições ou partidos políticos. Sua autoridade real é derivada de Seu Pai celeste. O Reino não era o que Caifás ou Pilatos — ou qualquer dos seus contemporâneos — esperavam.A partir das parábolas do Reino, podemos concluir, sem sombra de dúvida, que Jesus estabeleceu com a Sua vinda, um reino sobre a Terra. No século IV, Santo Agostinho colocou isso muito bem: "A Igreja já é agora o reino de Cristo e o reino dos Céus"! Um teólogo moderno, o cardeal Charles Journet, corroborou. "O Reino já está na terra; e a Igreja já está no céu. Abandonar o valor idêntico que tem a Igreja e o Reino significaria desconsiderar esta importante revelação”. [...] Assim, a Igreja existe em dois estados, mas é uma única Igreja. É um único reino. Como professamos no Credo, há somente a Igreja una, santa, católica e apostólica.O Reino chegou e este é a Igreja — a Igreja universal, a Igreja Católica — um campo com trigo e joio, uma rede com peixes bons e ruins. Se Jesus pretendesse estabelecer um reino em sua total perfeição, Ele não teria incluído o joio no campo, nem os peixes ruins nessa rede de arrasto. As Suas parábolas só têm sentido se o reino for a Igreja como nós a conhecemos — una, santa, católica e apostólica — cheia de pecadores, alguns de nós arrependidos.Somente no céu, no fim dos tempos, nós conheceremos o Reino manifestado em sua glória: "quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque o veremos tal como Ele é" (1 Jo 3,2). Até aquele dia, Ele ainda permanecerá conosco, na Igreja, com toda a Sua glória na Eucaristia. E não é que Ele seja menos glorioso agora, mas é que esta é a forma que hoje temos para perceber como Ele é. [pág. 184/185]

O reino dos céus toca a terra onde quer que estejamos presentes à Missa. Lá nós somos servidos pelos ministros apostólicos, vice-regentes de Cristo, ordenados de acordo com o costume dos Apóstolos.” [pág. 187]

O Seu reino é a Igreja e, esse fato, nos deixa surpresos. Mas o Senhor nos disse que assim faria, pois assim devia ser; afinal, nosso Deus nos transcende. Ele cumpre com Suas promessas e nos surpreende com suas expectativas evidentes, mas, por vezes, ocultas. Aliás, essa é a própria definição de mistério.Então, qual era a intenção de Alfred Loisy com sua provocação de ser a Igreja uma pobre substituta para o reino? Loisy se deparou com a evidência de que Jesus intencionava fundar uma Igreja, e que Ele desejava fazê-lo. Mas nós podemos muito bem respondê-lo com esta pergunta: onde está dito que Jesus pretendia abolir as estruturas e as tradições de Israel? Simplesmente não está! O próprio Jesus declarou enfaticamente: "Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim para os abolir, mas sim, para levá-los à plenitude. Pois, em verdade vos digo: Passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei. Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar c os ensinar será declarado grande no Reino dos céus" (Mt 5, 17-19). A pergunta que deveríamos fazer é esta: o que seria daquelas antigas tradições e estruturas davídicas se não fossem todas cumpridas numa nova forma messiânica, agora restaurada e transformada? [pág. 188]



Obs.: As expressões no texto entre colchetes ou parêntesis destacadas na cor azul não fazem parte do original.