Robert Winston. Instinto humano: como os nossos impulsos primitivos moldaram o que somos hoje. São Paulo. Ed. Globo, 2006. “...o cérebro humano é três vezes maior, o que significa um salto evolutivo enorme e sem precedentes. Pobre Homo habillis, que teve de viver com um cérebro de 500cc, mas quando surgiram os primeiros exemplares do Homo Sapiens, menos de 2 milhões de anos depois, o seu cérebro de 1.500cc era muito melhor.
O que, na face da Terra, provocou essa expansão? O crescimento extraordinário do cérebro definiu nosso caminho evolutivo; é o ponto alto de uma história de 5 milhões de anos, período no qual evoluímos de quase chimpanzés para o moderno Homo Sapiens.”
[pág. 97/98]“O cachalote, por exemplo, tem um cérebro de cerca de oito quilos, enquanto o cérebro humano pesa cerca de 1,5 quilo, mas isso não significa que esse animal mostre sinais de grande inteligência. Na verdade, sua enorme massa de tecido neural é essencial para a manutenção do seu corpo de 37 toneladas, o maior do mundo.
Os seres humanos são atípicos. Nossos cérebros são responsáveis por 2% de nosso peso, três vezes mais do que o esperado em um primata de nosso tamanho. Até Charles Darwin disse que o tamanho do corpo devia ser levado em conta, escrevendo em The descent of man, de 1871: "Presumo que ninguém duvida que a grande proporção entre o tamanho do cérebro do homem e de seu corpo, comparada com a proporção entre o gorila ou o orangotango, está conectada com sua habilidade mental.
Mas foi há apenas vinte anos que Harry Jerison, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, desenvolveu um conceito chamado quociente de encefalização ou QE, a medida do tamanho do cérebro em relação ao tamanho do corpo.
[...] O chimpanzé tem cerca de 3:0, enquanto os humanos têm um QE imenso, de 7:4.
[...] Segundo o estudo de Jerison, os golfinhos são os únicos animais que se aproximam do QE humano — têm um QE de 5:6.
[...] Os golfinhos são considerados inteligentíssimos por muita gente e alguns pesquisadores, que tentam ensinar-lhes uma linguagem rudimentar de sinais, sugerem que são tão inteligentes quanto os chimpanzés. No entanto, se formos um pouquinho impiedosos poderemos dizer que atravessar aros e fazer outras peripécias na água não constitui prova de que eles possuem capacidade para feitos cognitivos como os homens.
[pág. 98/99] Revista Scientific American, Ano 17, nº 118, Outubro de 2018. Nastari Editores. Tendemos a pensar na evolução por seleção natural como um processo no qual mudanças no ambiente externo, tais como predadores, clima ou doenças, geram refinamentos evolutivos nas características de um organismo. No entanto, a mente humana não evoluiu desse jeito tão direto e descomplicado. Em vez disso, nossas capacidades mentais surgiram através de um processo enrolado, convoluto, e recíproco no qual nossos ancestrais constantemente construíram nichos (aspectos de seus ambientes físicos e sociais) que geravam um efeito reverso ao impor uma seleção a seus corpos e mentes, em infinitos ciclos. Cientistas agora podem compreender a divergência de humanos de outros primatas como o reflexo do funcionamento de uma ampla gama de mecanismos de feedback na linhagem dos hominídeos. De um modo bem parecido com uma reação química autossustentada, seguiu-se um processo desenfreado que propeliu a cognição e cultura humanas. O fato de estarmos situados na árvore evolutiva da vida é inquestionável. Mas nossa capacidade de pensar, aprender, comunicar e controlar o ambiente torna a humanidade genuinamente diferente de todos os outros animais.”