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Robert Winston. Instinto humano: como os nossos impulsos primitivos moldaram o que somos hoje. São Paulo. Ed. Globo, 2006.

Nós ainda precisamos descobrir a causa do aumento desproporcional do cérebro durante 3 milhões de anos, período no qual a capacidade desse órgão triplicou. Não pode ter sido um evento aleatório, e para encontrarmos algumas respostas prováveis precisaremos, agora, levar em consideração uma série de possibilidades. [...]
- Um radiador cerebral
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Quando o antropólogo americano Dean Falk lembrou que o motor de um automóvel era limitado pela capacidade do radiador de resfriá-lo, aplicou este princípio ao cérebro humano. [...] Vale considerar essa possibilidade, mas acredito que a teoria do resfriamento é implausível. [...] Certamente, existiriam maneiras mais simples de resfriar, se isso fosse realmente necessário. Por que não ter línguas maiores, como cães? Ofegar é um modo simples e eficiente de perder calor, e línguas certamente não precisam de tanta energia quanto cérebros. [pág. 102/104]

- Alimento para o cérebro
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Vimos anteriormente que o instinto de nossos ancestrais de achar e comer carne, e o uso de ferramentas e do fogo para prepará-la, resultou em uma dieta mais rica e energética. Será que este fato foi responsável pelo crescimento do cérebro? Neste ponto, precisamos tornar cuidado. Ainda que seja verdade que o aumento de níveis de energia forneceu condições para a evolução do cérebro, não podemos concluir que tenha causado tal evolução. Só porque um animal tem energia para desenvolver um cérebro maior, não significa que fará isso. Por que não usar a energia para outro propósito, como aumentar o corpo, por exemplo? Uma dieta rica certamente contribuiu para a evolução do cérebro, mas deve ter havido um outro fator mais importante.[pág. 105]

- Destreza
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Mesmo se certas áreas do cérebro crescessem no período de uma vida graças à prática constante de uma habilidade em particular, isso jamais seria transmitido para a geração imediatamente posterior. O erro de biólogos do século XIX, como Jean-Baptiste Lamarck, deve ser evitado. Eles acreditavam que as girafas tinham pescoços compridos porque os esticavam para comer as folhas de árvores, e isso fazia com que seus filhotes nascessem com pescoços ligeiramente maiores. Mas não é assim que a seleção natural funciona.” [pág. 106]

-O efeito Baldwin
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Cérebros maiores foram selecionados, e nós ficamos ainda melhores para andar sobre as duas pernas ou fazer ferramentas. Isso significa que há uma relação contínua entre o comportamento, o cérebro, os genes e, mais importante, a sobrevivência de nossos ancestrais. Mas será que uma forma de comportamento inteiramente não-biológica, transmitida culturalmente, como pegar uma pedra e arremessá-la, foi realmente o fator que levou ao aumento desse órgão? [pág. 110]

-Macacos e discos assassinos
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TER UM CÉREBRO GRANDE em si não é absolutamente necessário para a sobrevivência de um animal. Muitas outras espécies conseguiram sobreviver sem uma expansão massiva da relação cérebro-corpo. A verdade é que precisamos de um número pequeno de células cerebrais para sermos caçadores de sucesso, nos reproduzirmos bastante, e nos adaptarmos a mudanças de clima e de ambiente. Até que os homens começassem a aniquilá-los, muitos predadores mamíferos, como os grandes felinos e os grandes macacos, faziam tais atividades com sucesso. Eram excelentes caçadores, conseguindo sobrepujar presas que, em alguns casos, haviam desenvolvido métodos sofisticados para fugir ou lutar contra uma ameaça. Parece que todos exceto o "Homo sapiens", conseguiram se virar sem um cérebro desproporcional. [...] William Calvin sugeriu que sua hipótese do "disco assassino" poderia ser responsável pelo crescimento do tamanho do cérebro. Como vimos, ele acredita que afiadíssimos machados de mão, feitos de pedra por Homo sapiens da Europa, África e Ásia, eram lançados, como se fossem discos, em antílopes e outros herbívoros, enquanto esses animais bebiam água. [...] Mas há um problema óbvio com a teoria de Calvin. Como vimos, os machados de mão permaneceram com a mesma forma e design por quase 2 milhões de anos, um período muito longo de tempo. [...] Mas durante esse mesmo período, a era do "Homo erectus" e do "Homo sapiens" arcaico, o cérebro teve um aumento enorme de 50%. Mas durante esse período, não inventamos novas ferramentas; simplesmente ficamos com o machado de mão. Deve haver outra explicação.” [pág. 110/112]

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-O cérebro social
[...] Para aprender, precisamos nos comunicar com os outros, e a natureza social dos hominídeos foi muito importante: como eles viviam em grupo, procuravam comida para o grupo, protegiam todo o grupo e se comunicavam uns com os outros. Este é, sem dúvida, o melhor caminho para explicar o cérebro humano moderno.[pág. 113]

Nota/comentário do site revelacaocatolica.com: A hipótese do "cérebro social" não esclarece tudo. Se observarmos ao nosso redor, veremos que existem milhares de animais que também convivem em sociedade e colaboram mutuamente, como, por exemplo, os elefantes, as formigas e as abelhas. Esse comportamento social, entretanto, não foi capaz de proporcionar, a nenhuma dessas espécies, um desenvolvimento superior da inteligência tal qual nos seres humanos. Isso sem falar nas espécies já extintas como os dinossauros. Eles reinaram absolutos sobre a Terra durante 150 milhões de anos, enquanto os humanos estão por aqui há meros 300.000.



Obs.: As expressões no texto entre colchetes ou parêntesis destacadas na cor azul não fazem parte do original.