Revelacaocatolica.com
Fé e Razão (importância da fé, valor da Fé, crer, acreditar)
       Racionalismo, Ceticismo, Relativismo, Ateísmo, Ciência (razão humana, filosofia)

 O estudo do universo deveria elevar o homem a seu criador, mas só eleva à vaidade humana

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Obra "Coleção Os Pensadores: Rousseau 2. Ed. Nova Cultural. São Paulo, 1999. 303p."

“O autor vai mais longe — e pretende ser-nos ainda necessário o estudo para admirar as belezas do universo. Afirma que o próprio espetáculo da natureza, exposto, ao que parece, aos olhos de todos para a instrução dos simples, exige muita instrução nos seus observadores para ser percebido. Confesso que essa afirmação me surpreende. Ter-se-ia ordenado a todos os homens que fossem filósofos ou ordenou-se que somente os filósofos cressem em Deus? Em inúmeras passagens, a Escritura nos exorta a adorar a grandeza e a bondade de Deus nas maravilhas de suas obras; não julgo que em qualquer passagem ela nos mande estudar a física, nem que o autor da natureza seja menos bem adorado por mim, que nada sei, do que por aquele que conhece o cedro e o hissopo, a tromba da mosca e a do elefante. [...] Crê-se sempre dizer o que as ciências fazem, quando se diz o que deveriam fazer. Eis o que, contudo, me parece bem diferente. O estudo do universo deveria elevar o homem a seu criador, eu o sei, mas só eleva à vaidade humana. O filósofo que se jacta de penetrar nos segredos de Deus ousa associar sua pretensa sabedoria à sabedoria eterna. Aprova, censura, corrige, prescreve leis à natureza e limites à divindade, e enquanto, por preocupar-se com seus vãos sistemas, tem trabalhos infindos para arranjar a máquina do mundo, o trabalhador, que vê o sol e a chuva sucessivamente fertilizarem seus campos, admira, louva e bendiz a mão de que recebe essas graças, sem se preocupar com a maneira pela qual elas lhe chegam. Não procura justificar sua ignorância ou seus vícios pela incredulidade. Não censura as obras de Deus e não se agarra a seu senhor para fazer brilhar sua suficiência. [...] Enquanto a sábia Grécia estava cheia de ateus, Elieno observa que nunca um bárbaro duvidara da existência da divindade. Podemos notar, do mesmo modo, que em toda a Ásia só há um único povo letrado, que mais da metade desse povo é ateu, sendo a única nação da Ásia onde se conhece o ateísmo (alusão ao povo chinês).” [pág. 246/247]

Não posso deixar passar em silêncio uma objeção considerável que já me foi feita por um filósofo. [...] Como pôde dar tal interpretação aos princípios que estabeleci? Como pôde acusar-me de censurar o estudo da religião, eu que censuro sobretudo o estudo de nossas ciências, vãs por nos desviarem do estudo de nossos deveres? E que é o estudo dos deveres do cristão, senão o de sua própria religião? [...] Deveria ter-me indignado contra esses homens frívolos que, com suas miseráveis disputas, aviltaram a simplicidade sublime do Evangelho e reduziram a doutrina de Jesus Cristo a silogismos. [...] O povo que Deus tinha escolhido para si jamais cultivou as ciências e jamais se lhe aconselhou seu estudo; no entanto, se esse estudo fosse bom para alguma coisa, ele, mais do que qualquer outro, teria sentido sua necessidade. Seus chefes, pelo contrário, sempre se esforçaram para conservá-lo separado, tanto quanto possível, das nações idólatras e sábias que o circundavam; precaução necessária menos em relação a um do que a outro grupo, pois esse povo fraco e grosseiro era muito mais fácil de seduzir-se pelas trapaças dos padres de Baal do que pelos sofismas dos filósofos.Depois de dispersões frequentes entre os egípcios e os gregos, a ciência teve ainda inúmeras dificuldades para germinar na cabeça dos hebreus. Josefo e Filão (Josefo: historiador judeu, autor das Antiguidades Judaicas. — Filão, o Judeu: nascido em Alexandria, 20 d.C; grande filósofo), que em qualquer outro lugar não teriam passado de dois homens medíocres, foram entre eles considerados prodígios. [...] Na instalação da nova lei, não foi a sábios que Jesus Cristo quis confiar sua doutrina e seu ministério. Seguiu, em sua escolha, a predileção que demonstrou em todas as ocasiões pelos pequenos e pelos simples, e nas instruções que dava a seus discípulos não se encontra nenhuma palavra de estudo ou da ciência, a não ser para assinalar o desprezo que ele tinha por tudo isso. [pág. 248/250]




Obs.: As expressões no texto entre colchetes ou parêntesis destacadas na cor azul não fazem parte do original.