Blaise Pascal (França, 1623-1662). Obra: "Coleção Os Pensadores: Pascal. Ed. Nova Cultural. São Paulo, 1999. 285p." “Desse modo é que se deve compreender a famosa "aposta" que aparece nos Pensamentos: já que não se pode provar nem que Deus existe nem que Deus não existe, já que não se pode provar que haverá ou não salvação eterna — só se pode apostar. Mas,
ao apostar, deve-se levar em conta as perdas e os ganhos; assim, caso se aposte que Deus não existe, e se ele existir, está-se perdido: caso se aposte que Deus existe, e ele não existir, nada acontece. Deve-se então apostar na existência de Deus, pois a condição humana é risco, perigo de fracasso e esperança de vitória: o homem sente que Deus existe quando experimenta cruelmente sua ausência.”
[pág. 23]“Pesemos o ganho e a perda escolhendo a cruz, que é Deus. Consideremos esses dois casos: se ganhardes, ganhareis tudo; se perderdes, não perdereis nada.
Apostai, pois, que ele existe, sem hesitação. — "Isso é admirável. Sim, é preciso apostar.” [pág. 93]“Ora, que mal vos poderá ocorrer tomando esse partido? Sereis fiel, honesto, humilde, reconhecido, bom, amigo sincero, verdadeiro. Não ficareis com os prazeres depravados, com a glória, com as delícias; mas não tereis outras coisas?
Digo que com isso ganhareis nesta vida, e que, em cada passo que derdes nesse caminho, vereis tanta certeza no ganho, e tanta nulidade naquilo que arriscaríeis, que reconhecereis, por fim, que apostastes numa coisa certa, infinita, pela qual nada destes.”
[pág. 95]