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Aparições de Nossa Senhora
       Aparições principais (ano e local)
             1917 - Fátima, Portugal

 Sobre o segredo de Fátima relevado aos videntes (explicações e comentários)

Padre João De Marchi (1914-2003). Obra: "Era uma Senhora mais brilhante que o sol. Editora Consolata. 26ª edição. Versão em Português de Portugal. 2016. Fátima-Portugal. 447p." (pág. 419/442)

"No fim da celebração eucarística presidida por João Paulo II, o Cardeal Ângelo Sodano, Secretário de Estado do Vaticano, comunicou aos milhares de peregrinos que o Santo Padre tinha confiado à Congregação para a Doutrina da Fé o encargo de tomar público o texto da terceira parte do "segredo de Fátima", depois de lhe ter preparado um adequado comentário. O texto original foi divulgado no dia 26 de Junho de 2000, em Roma. Foi na Aparição do dia 13 de Julho de 1917 que Nossa Senhora confiou aos pastorinhos o "Segredo" que consta de três partes distintas. As duas primeiras partes foram publicadas, quando a Irmã Lúcia escreveu o texto, por ordem de Dom José Alves Correia da Silva, Bispo de Leiria, no dia 31 de Agosto de 1941. A terceira parte foi entregue ao Arquivo Secreto do Santo Ofício, em Roma, no dia 4 de Abril de 1957." [pág. 419]

[Transcrição das anotações de Lúcia sobre o segredo] "TRANSCRIÇÃO: Terei para isso que falar algo do segredo e responder ao primeiro ponto de interrogação. O que é o segredo? Parece-me que o posso dizer, pois que do Céu tenho já a licença. Os representantes de Deus na terra, têm-me autorizado a isso várias vezes, e em várias cartas, uma das quais, julgo que conserva V. EX.ciaRev.ma do Senhor Padre José Bernardo Gonçalves, na em que me manda escrever ao Santo Padre. Um dos pontos que me indica é a revelação do segredo. Algo disse, mas para não alongar mais esse escrito que devia ser breve, limitei-me ao indispensável, deixando a Deus a oportunidade dum momento mais favorável. Expus já no segundo escrito a dúvida que de 13 de Junho a 13 de Julho me atormentou e que nessa aparição tudo se desvaneceu. Bem o segredo consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar. A primeira foi pois a vista do inferno! Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fôgo que parecia estar debaixo da terra Mergulhados em êsse fôgo os demónios e as almas, como se fossem brazas transparentes e negras, ou bronziadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saiam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faulhas em os grandes incêndios sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dôr e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demónios destinguiam-se por formas horríveis e ascrosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros. Esta vista foi um momento, e graças à nossa bôa Mãe do Céu; que antes nos tinha prevenido com a promeça de nos levar para o Céu (na primeira aparição) se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor. Em levantámos os olhos para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza: — Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores, para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra peor. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sufrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será consedido ao mundo algum tempo de paz." [pág. 428/429]

"TRANSCRIÇÃO: "J.M.J. A terceira parte do segredo revelado a 13 de Julho de 1917 na Cova da Iria-Fátima. Escrevo em acto de obediência a Vós Deus meu, que mo mandais por meio de Sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e da Vossa e minha Santíssima Mãe. Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fôgo em a mão esquerda; ao centilar, despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos numa luz emensa que é Deus: "algo semelhante a como se vêem as pessoas num espelho quando lhe passam por diante" um Bispo vestido de Branco "tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre". Varios outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fôra de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dôr e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o sangue dos Mártires e com êle regavam as almas que se aproximavam de Deus". Tuy-3-1-1944." [pág. 437]

"COMENTÁRIO: No comentário, à terceira parte do "Segredo" o Cardeal José Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, faz a distinção entre "revelação pública" e "revelações privadas". A primeira, designa a acção reveladora de Deus que se destina à humanidade inteira: está expressa literariamente no Antigo e o Novo Testamento da Bíblia e ficou concluída com a realização do mistério de Cristo no Novo Testamento. O conceito de "revelação privada" aplica-se a todas as visões e revelações verificadas depois da conclusão do Novo Testamento. Nesta categoria, portanto, se deve colocar a mensagem de Fátima. A autoridade das revelações privadas é essencialmente diversa da única revelação pública: esta exige a nossa fé; a revelação privada é um auxílio para a fé, e manifesta-se credível, precisamente porque faz apelo à única revelação pública. É uma ajuda que é oferecida, mas não é obrigatório fazer uso dela. A antropologia teológica distingue, neste âmbito, três formas de percepção ou "visão": a visão pelos sentidos, ou seja, a percepçao externa corpórea; a percepção interior, e a visão espiritual. É claro que, nas visões de Fátima, não se trata da percepção externa normal dos sentidos; também não se trata duma "visão" intelectual sem imagens, como acontece nos altos graus da mística. Trata-se, portanto, da categoria intermédia, a percepção interior que, para o vidente, tem uma força de presença tal que equivale à manifestação externa sensível. A "visão interior" não é fantasia, mas uma verdadeira e própria maneira de verificação." [pág. 438]

"UMA TENTATIVA DE INTERPRETAÇÃO: O Comentário oferece, depois, uma tentativa de interpretação da terceira parte do segredo de Fátima. "O anjo com a espada de fogo à esquerda da Mãe de Deus lembra imagens análogas do Apocalipse: ele representa a ameaça do juízo que pende sobre o mundo. A possibilidade que este acabe reduzido a cinzas num mar de chamas, hoje já não aparece de forma alguma como pura fantasia: o próprio homem preparou, com suas invenções, a espada de fogo. Em seguida, a visão mostra a força que se contrapõe ao poder da destruição: o brilho da Mãe de Deus e, de algum modo proveniente do mesmo, o apelo à penitência. Deste modo, é sublinhada a importância da liberdade do homem: o futuro não está de forma alguma determinado imutavelmente, e a imagem vista pelos pastorinhos não é, absolutamente, um filme antecipado do futuro, do qual já nada se poderia mudar. Na realidade, toda a visão acontece só para chamar em campo a liberdade e orientá-la numa direcção positiva. O sentido da visão não é, portanto, o de mostrar um filme sobre o futuro, já fixo irremediavelmente; mas exactamente o contrário: o seu sentido é mobilizar as forças da mudança em bem. Por isso, há que considerar completamente extraviadas aquelas explicações fatalistas do "segredo" que dizem, por exemplo, que o autor do atentado de 13 de Maio de 1981 teria sido, em última análise, um instrumento do plano divino predisposto pela Providência e, por conseguinte, não poderia ter agido livremente, ou outras ideias semelhantes que por aí andam. A visão fala, sobretudo de perigos e do caminho para salvar-se deles. As frases seguintes do texto mostram uma vez mais e de forma muito clara o carácter simbólico da visão: Deus permanece o incomensurável e a luz que está para além de qualquer visão nossa. As pessoas humanas são vistas como que num espelho. Devemos ter continuamente presente esta limitação inerente à visão, cujos confins estão aqui visivelmente indicados. O futuro é visto apenas "como que num espelho, de maneira confusa" (cf. 1 Cor 13, 12). Consideremos agora as diversas imagens que se sucedem no texto do "segredo". O lugar da acção é descrito com três símbolos: uma montanha íngreme, uma grande cidade meia em ruínas e finalmente uma grande cruz de troncos toscos. A montanha e a cidade simbolizam o lugar da história humana: a história como árdua subida para o alto, a história como lugar da criatividade e convivência humana e simultaneamente de destruições pelas quais o homem aniquila a obra do seu próprio trabalho. A cidade pode ser lugar de comunhão e progresso, mas também lugar do perigo e da ameaça mais extrema. No cimo da montanha, está a cruz: meta e ponto de orientação da história. Na cruz, a destruição é transformada em salvação; ergue-se como sinal da miséria da história e como promessa para a mesma. [...] ...na visão, podemos reconhecer o século vinte como século dos mártires, como século dos sofrimentos e perseguições à Igreja, como o século das guerras mundiais e de muitas guerras locais que ocuparam toda a segunda metade do mesmo, tendo feito experimentar novas formas de crueldade. No "espelho" desta visão, vemos passar as testemunhas da fé de decénios. A este respeito, é oportuno mencionar uma frase da carta que a Irmã Lúcia escreveu ao Santo Padre no dia 12 de Maio de 1982: "A terceira parte do "segredo" refere-se às palavras de Nossa Senhora: "Se não, (a Rússia) espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas"." [pág. 438/440]

"Na visão, também o Papa é morto na estrada dos mártires. Não era razoável que o Santo Padre, quando, depois do atentado de 13 de Maio de 1981, mandou trazer o texto da terceira parte do "segredo", tivesse lá identificado o seu próprio destino? Esteve muito perto da fronteira da morte, tendo ele mesmo explicado a sua salvação com as palavras seguintes: "Foi uma mão materna que guiou a trajectória da bala e o Papa agonizante deteve-se no limiar da morte". O facto de ter havido lá uma "mão matema" que desviou a bala mortífera demonstra uma vez mais que não existe um destino imutável, que a fé e a oração são forças que podem influir na história e que, em última análise, a oração é mais forte que as balas, a fé mais poderosa que os exércitos. A conclusão do "segredo" lembra imagens que Lúcia pode ter visto em livros de piedade e cujo conteúdo deriva de antigas intuições de fé. É uma visão consoladora, que quer tomar permeável à força santificante de Deus uma história de sangue e de lágrimas. Anjos recolhem, sob os braços da cruz, o sangue dos mártires e com ele regam as almas que se aproximam de Deus. O sangue de Cristo e o sangue dos mártires são vistos aqui juntos: o sangue dos mártires escorre dos braços da cruz. O seu martírio realiza-se solidariamente com a paixão de Cristo, identificando-se com ela. Eles completam em favor do corpo de Cristo o que ainda falta aos seus sofrimentos (cf. Col 1, 24). A sua própria vida tornou-se eucaristia, inserindo-se no mistério do grão de trigo que morre e se torna fecundo. O sangue dos mártires é semente de cristãos, disse Tertuliano. Tal como nasceu a Igreja da morte de Cristo, do seu lado aberto, assim também a morte das testemunhas é fecunda para a vida futura da Igreja. Deste modo, a visão da terceira parte do "segredo", tão angustiante ao início, termina numa imagem de esperança: nenhum sofrimento é vão, e precisamente uma Igreja sofredora, uma Igreja dos mártires torna-se sinal indicador para o homem na sua busca de Deus. Não se trata apenas de ver os que sofrem acolhidos na mão amorosa de Deus como Lázaro, que encontrou a grande consolação e misteriosamente representa Cristo, que por nós se quis fazer o pobre Lázaro; mas há algo mais: do sofrimento das testemunhas deriva uma força de purificação e renovamento, porque é a actualização do próprio sofrimento de Cristo e transmite ao tempo presente a sua eficácia salvífica. Chegamos assim a uma última pergunta: o que é que significa no seu conjunto (nas suas três partes) o "segredo" de Fátima? O que é que nos diz a nós? Em primeiro lugar, devemos supor, como afirma o Cardeal Sodano, que "os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do "segredo" de Fátima parecem pertencer já ao passado". Os diversos acontecimentos, na medida em que lá são representados, pertencem já ao passado. Quem estava à espera de impressionantes revelações apocalípticas sobre o fim do mundo ou sobre o futuro desenrolar da história, deve ficar desiludido. Fátima não oferece tais satisfações à nossa curiosidade, como, aliás, a fé cristã em geral que não pretende nem pode ser alimento para a nossa curiosidade. O que permanece é a exortação à oração como caminho para a "salvação das almas", e no mesmo sentido o apelo à penitência e à conversão. Queria, no fim, tomar uma vez mais outra palavra-chave do "segredo" que justamente se tomou famosa: "O meu Imaculado Coração triunfará". Que significa isto? Significa que este Coração aberto a Deus, purificado pela contemplação de Deus, é mais forte que as pistolas ou outras armas de qualquer espécie. O fiat de Maria, a palavra do seu Coração, mudou a história do mundo, porque introduziu neste mundo o Salvador: graças àquele "Sim", Deus pôde fazer-Se homem no meio de nós e tal permanece para sempre. Que o maligno tem poder neste mundo, vemo-lo e experimentamo-Io continuamente; tem poder, porque a nossa liberdade se deixa continuamente desviar de Deus. Mas, desde que Deus passou a ter um coração humano e deste modo orientou a liberdade do homem para o bem, para Deus, a liberdade para o mal deixou de ter a última palavra. O que vale desde então, está expresso nesta frase: "No mundo tereis aflições, mas tende confiança! Eu venci o mundo" (Jo 16, 33). A mensagem de Fátima convida a confiar nesta promessa"." [pág. 441/442]


Irmã Lúcia (Portugal, 1907-2005). Obra "Memórias da Irmã Lucia I. Editora Secretariado dos Pastorinhos. 14ª edição (versão em português de Portugal). 2010. Fátima-Portugal. 237p." (pág. 121/122, 197/198, 203, 213, 216/219, 228/232)

[Testemunho da Irmã Lúcia, a vidente:] “Bem; o segredo consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar. A primeira foi, pois, a vista do inferno! [...] Esta vista foi um momento, e graças à nossa boa Mãe do Céu, que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o Céu (na primeira aparição)! Se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor. Em seguida, levantámos os olhos para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza: — Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar [Trata-se da Primeira Guerra Mundial – 1914/1918]. Mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior [Posteriormente Lúcia voltou a confirmar o nome do Papa Pio XI (pontificado de 1922-10-2-1939). À objecção de que o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) teria sido no Pontificado de Pio XII, ela respondeu que a anexação da Áustria, em 1938, fora o verdadeiro início da guerra]. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre [Lúcia aceitou que a “extraordinária", aurora boreal, na noite de 25 para 26 de Janeiro de 1938, fosse o sinal de Deus para o começo da guerra]. Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia a Meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. [Esta «promessa» cumpriu-se a 10 de Dezembro de 1925, quando Nossa Senhora apareceu a Lúcia, em Pontevedra (Apêndice l). A 13 de Junho de 1929 pediu a Lúcia, em Tuy, numa visão, a consagração da Rússia ao Seu Imaculado Coração]. Se atenderem a Meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o Meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia [A Irmã Lúcia confirmou pessoalmente que o ato solene e universal de consagração feito em 25 de Março de 1984, correspondia aquilo que Nossa Senhora queria: «Sim, está feita tal como Nossa Senhora a pediu, desde o dia 25 de Março de 1984» (carta de 8 de Novembro de 1989 para o Santo Padre). Por isso, qualquer discussão e ulterior petição não tem fundamento (ver Apêndice III, pág. 202)], que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz [Esta promessa é incondicionada: de certeza se cumprirá. Nós é que, de facto, não conhecemos o dia em que se tornará realidade]. [pág. 121/122]

Fátima é, sem dúvida, a mais profética das aparições modernas. A primeira e a segunda parte do «segredo», que são publicadas em seguida para ficar completa a documentação, dizem respeito antes de mais à pavorosa visão do inferno, à devoção ao Imaculado Coração de Maria, à segunda guerra mundial, e depois ao prenúncio dos danos imensos que a Rússia, com a sua defecção da fé cristã e adesão ao totalitarismo comunista, haveria de causar à humanidade. Em 1917, ninguém poderia ter imaginado tudo isto: os três pastorinhos de Fátima vêem, ouvem, memorizam, e Lúcia, a testemunha sobrevivente, quando recebe a ordem do Bispo de Leiria e a autorização de Nossa Senhora, põe por escrito. [pág. 197/198]

Uma orientação para a interpretação da terceira parte do «segredo» tinha sido já oferecida pela Irmã Lúcia, numa carta dirigida ao Santo Padre a 12 de Maio de 1982, onde dizia: «A terceira parte do segredo refere-se às palavras de Nossa Senhora: "Se não, [a Rússia] espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas" (13-VII-1917). A terceira parte do segredo é uma revelação simbólica, que se refere a este trecho da Mensagem, condicionada ao facto de aceitarmos ou não o que a Mensagem nos pede: "Se atenderem a meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, etc. Porque não temos atendido a este apelo da Mensagem, verificamos que ela se tem cumprido, a Rússia foi invadindo o mundo com os seus erros. E se não vemos ainda, como facto consumado, o final desta profecia, vemos que para aí caminhamos a passos largos. Se não recuarmos no caminho do pecado, do ódio, da vingança, da injustiça atropelando os direitos da pessoa humana, da imoralidade e da violência, etc. E não digamos que é Deus que assim nos castiga; mas, sim, que são os homens que para si mesmos se preparam o castigo. Deus apenas nos adverte e chama ao bom caminho, respeitando a liberdade que nos deu; por isso os homens são responsáveis». [pág. 203]

Transcrição do manuscrito da Irmã Lúcia: [Na transcrição, respeitou-se o texto original mesmo quando havia erros e imprecisões de escrita e pontuação, os quais, aliás, não impedem a compreensão daquilo que a vidente quis dizer] "A terceira parte do segredo revelado a 13 de Julho de 1917 na Cova da Iria-Fátima. Escrevo em acto de obediência a Vós Deus meu, que mo mandais por meio de sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e da Vossa e minha Santíssima Mãe. Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fôgo em a mão esquerda; ao centilar, despedia chamas que parecia iam encendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos numa luz emensa que é Deus: "algo semelhante a como se vêem as pessoas num espelho quando lhe passam por diante" um Bispo vestido de Branco "tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre". Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fôra de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dôr e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de juelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, nêles recolhiam o sangue dos Mártires e com êle regavam as almas que se aproximavam de Deus". [pág. 213]

Com o auxílio do Bispo de Leiria-Fátima, foi lido e interpretado o texto original, que é em língua portuguesa. A Irmã Lúcia concorda com a interpretação segundo a qual a terceira parte do «segredo» consiste numa visão profética, comparável às da história sagrada. Ela reafirma a sua convicção de que a visão de Fátima se refere sobretudo à luta do comunismo ateu contra a Igreja e os cristãos, e descreve o imane sofrimento das vítimas da fé no século XX. [pág. 216]

Quanto à passagem relativa ao Bispo vestido de branco, isto é, ao Santo Padre — como logo perceberam os pastorinhos durante a «visão» — que é ferido de morte e cai por terra, a irmã Lúcia concorda plenamente com a afirmação do Papa: «Foi uma mão materna que guiou a trajectória da bala e o Santo Padre agonizante deteve-se no limiar da morte» (João Paulo II, Meditação com os Bispos Italianos, a partir da Policlínica Gemelli, 13 de Maio de 1994). [pág. 217]

Cardeal Ângelo Sodano, Secretário de Estado do Papa, em 13/05/2000: “A visão de Fátima refere-se sobretudo à luta dos sistemas ateus contra a Igreja e os cristãos e descreve o sofrimento imane das testemunhas da fé do último século do segundo milénio. É uma Via Sacra sem fim, guiada pelos Papas do século vinte. Segundo a interpretação dos pastorinhos, interpretação confirmada ainda recentemente pela Irmã Lúcia, o «Bispo vestido de branco» que reza por todos os fiéis é o Papa. Também Ele, caminhando penosamente para a Cruz por entre os cadáveres dos martirizados (bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e várias pessoas seculares), cai por terra como morto sob os tiros de uma arma de fogo.” [pág. 218]

Depois do atentado de 13 de Maio de 1981 , pareceu claramente a Sua Santidade que foi «uma mão materna a guiar a trajectória da bala», permitindo que o «Papa agonizante» se detivesse «no limiar da morte» [João Paulo II, Meditação com os Bispos Italianos, a partir da Policlínica Gemelli, em: Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XVII-1 (Città del Vaticano 1994), 10611]. Certa ocasião em que o Bispo de Leiria-Fátima de então passara por Roma, o Papa decidiu entregar-lhe a bala que tinha ficado no jeep depois do atentado, para ser guardada no Santuário. Por iniciativa do Bispo, essa bala foi depois encastoada na coroa da imagem de Nossa Senhora de Fátima. Depois, os acontecimentos de 1989 levaram, quer na União Soviética quer em numerosos Países do Leste, à queda do regime comunista que propugnava o ateísmo. O Sumo Pontífice agradece do fundo do coração à Virgem Santíssima também por isso. [pág. 219]

Chegamos assim finalmente à terceira parte do «segredo» de Fátima, publicado aqui pela primeira vez integralmente. Como resulta da documentação anterior, a interpretação dada pelo Cardeal Sodano, no seu texto do dia 13 de Maio, tinha antes sido apresentada pessoalmente à Irmã Lúcia. A tal propósito, ela começou por observar que lhe foi dada a visão, mas não a sua interpretação. A interpretação, dizia, não compete ao vidente, mas à Igreja. No entanto, depois da leitura do texto, a Irmã Lúcia disse que tal interpretação corresponde àquilo que ela mesma tinha sentido e que, pela sua parte, reconhecia essa interpretação como correcta. Sendo assim, limitar-nos-emos, naquilo que vem a seguir, a dar de forma profunda um fundamento à referida interpretação, partindo dos critérios anteriormente desenvolvidos. [...] Examinemos agora mais de perto as diversas imagens. O anjo com a espada de fogo à esquerda da Mãe de Deus lembra imagens análogas do Apocalipse: ele representa a ameaça do juízo que pende sobre o mundo. A possibilidade que este acabe reduzido a cinzas num mar de chamas, hoje já não aparece de forma alguma como pura fantasia: o próprio homem preparou, com suas invenções, a espada de fogo. Em seguida, a visão mostra a força que se contrapõe ao poder da destruição: o brilho da Mãe de Deus e, de algum modo proveniente do mesmo, o apelo à penitência. Deste modo, é sublinhada a importância da liberdade do homem: o futuro não está de forma alguma determinado imutavelmente, e a imagem vista pelos pastorinhos não é, absolutamente, um filme antecipado do futuro, do qual já nada se poderia mudar. Na realidade, toda a visão acontece só para chamar em campo a liberdade e orientá-la numa direcção positiva. O sentido da visão não é, portanto, o de mostrar um filme sobre o futuro, já fixo irremediavelmente; mas exactamente o contrário: o seu sentido é mobilizar as forças da mudança em bem. Por isso, há que considerar completamente extraviadas aquelas explicações fatalistas do «segredo» que dizem, por exemplo, que o autor do atentado de 13 de Maio de 1981 teria sido, em última análise, um instrumento do plano divino predisposto pela Providência e, por conseguinte, não poderia ter agido livremente, ou outras ideias semelhantes que por aí andam. A visão fala sobretudo de perigos e do caminho para salvar-se deles. As frases seguintes do texto mostram uma vez mais e de forma muito clara o carácter simbólico da visão: Deus permanece o incomensurável e a luz que está para além de qualquer visão nossa. As pessoas humanas são vistas como que num espelho. Devemos ter continuamente presente esta limitação inerente à visão, cujos confins estão aqui visivelmente indicados. O futuro é visto apenas «como que num espelho, de maneira confusa» (cf. 1 Cor 13, 12). Consideremos agora as diversas imagens que se sucedem no texto do «segredo». O lugar da acção é descrito com três símbolos: uma montanha íngreme, uma grande cidade meia em ruínas e finalmente uma grande cruz de troncos toscos. A montanha e a cidade simbolizam o lugar da história humana: a história como árdua subida para o alto, a história como lugar da criatividade e convivência humana e simultaneamente de destruições pelas quais o homem aniquila a obra do seu próprio trabalho. A cidade pode ser lugar de comunhão e progresso, mas também lugar do perigo e da ameaça mais extrema. No cimo da montanha, está a cruz: meta e ponto de orientação da história. Na cruz, a destruição é transformada em salvação; ergue-se como sinal da miséria da história e como promessa para a mesma. Aparecem lá, depois, pessoas humanas: o Bispo vestido de branco ("tivemos o pressentimento que era o Santo Padre»), outros bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas e, finalmente, homens e mulheres de todas as classes e posições sociais. O Papa parece caminhar à frente dos outros, tremendo e sofrendo por todos os horrores que o circundam. E não são apenas as casas da cidade que jazem meio em ruínas; o seu caminho é ladeado pelos cadáveres dos mortos. Deste modo, o caminho da Igreja é descrito como uma Via Sacra, como um caminho num tempo de violência, destruições e perseguições. Nesta imagem, pode-se ver representada a história dum século inteiro. Tal como os lugares da terra aparecem sinteticamente representados nas duas imagens da montanha e da cidade e estão orientados para a cruz, assim também os tempos são apresentados de forma contraída: na visão, podemos reconhecer o século vinte como século dos mártires, como século dos sofrimentos e perseguições à Igreja, como o século das guerras mundiais e de muitas guerras locais que ocuparam toda a segunda metade do mesmo, tendo feito experimentar novas formas de crueldade. No «espelho» desta visão, vemos passar as testemunhas da fé de decénios. A este respeito, é oportuno mencionar uma frase da carta que a Irmã Lúcia escreveu ao Santo Padre no dia 12 de Maio de 1982: «A terceira parte do "segredo" refere-se às palavras de Nossa Senhora: "Se não, (a Rússia) espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas"». Na Via Sacra deste século, tem um papel especial a figura do Papa. Na árdua subida da montanha, podemos sem dúvida ver figurados conjuntamente diversos Papas, começando de Pio X até ao Papa actual, que partilharam os sofrimentos deste século e se esforçaram por avançar, no meio deles, pelo caminho que leva à cruz. Na visão, também o Papa é morto na estrada dos mártires. Não era razoável que o Santo Padre, quando, depois do atentado de 13 de Maio de 1981, mandou trazer o texto da terceira parte do «segredo», tivesse lá identificado o seu próprio destino? Esteve muito perto da fronteira da morte, tendo ele mesmo explicado a sua salvação com as palavras seguintes: «Foi uma mão materna que guiou a trajectória da bala e o Papa agonizante deteve-se no limiar da morte» (13 de Maio de 1994). O facto de ter havido lá uma «mão materna» que desviou a bala mortífera demonstra uma vez mais que não existe um destino imutável, que a fé e a oração são forças que podem influir na história e que, em última análise, a oração é mais forte que as balas, a fé mais poderosa que os exércitos. [pág. 228/231)

Chegamos assim a uma última pergunta: O que é que significa no seu conjunto (nas suas três partes) o «segredo» de Fátima? O que é nos diz a nós? Em primeiro lugar, devemos supor, como afirma o Cardeal Sodano, que «os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do "segredo" de Fátima parecem pertencer já ao passado». Os diversos acontecimentos, na medida em que lá são representados, pertencem já ao passado. Quem estava à espera de impressionantes revelações apocalípticas sobre o fim do mundo ou sobre o futuro desenrolar da história, deve ficar desiludido. Fátima não oferece tais satisfações à nossa curiosidade, como, aliás, a fé cristã em geral que não pretende nem pode ser alimento para a nossa curiosidade. O que permanece — dissemo-Io logo ao início das nossas reflexões sobre o texto do «segredo» — é a exortação à oração como caminho para a «salvação das almas», e no mesmo sentido o apelo à penitência e à conversão. Queria, no fim, tomar uma vez mais outra palavra-chave do «segredo» que justamente se tornou famosa: «O meu Imaculado Coração triunfará». Que significa isto? Significa que este Coração aberto a Deus, purificado pela contemplação de Deus, é mais forte que as pistolas ou outras armas de qualquer espécie. O fiat de Maria, a palavra do seu Coração, mudou a história do mundo, porque introduziu neste mundo o Salvador: graças àquele «Sim», Deus pôde fazer-Se homem no nosso meio e tal permanece para sempre. Que o maligno tem poder neste mundo, vemo-lo e experimentamo-lo continuamente; tem poder, porque a nossa liberdade se deixa continuamente desviar de Deus. Mas, desde que Deus passou a ter um coração humano e deste modo orientou a liberdade do homem para o bem, para Deus, a liberdade para o mal deixou de ter a última palavra. O que vale desde então, está expresso nesta frase: «No mundo tereis aflições, mas tende confiança! Eu venci o mundo» (Jo 16, 33). A mensagem de Fátima convida a confiar nesta promessa. [pág. 231/232]

Antônio Augusto Borelli Machado (São Paulo). Obra: "As aparições e a mensagem de Fátima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia. Editora Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda. 42ª edição. 1995. São Paulo. 94p." (pág. 47/49)

“A visão do inferno e o anúncio de coisas futuras que se lhe segue constituem as duas partes conhecidas do Segredo de Fátima, comunicado aos videntes durante a aparição de julho. No prefácio da edição brasileira dos escritos da Irmã Lúcia, o Pe. Antonio Maria Martins S.J. afirma, de modo categórico, que a terceira parte do Segredo, “cujo texto não foi ainda divulgado, trata apenas da chamada “Crise da Igreja”” (op. cit., p. XVIII). [...] É interessante notar que em Memórias III, a Irmã Lúcia termina o relato da segunda parte do Segredo com as palavras: "e será concedido ao mundo algum tempo de paz". Em Memórias IV, ela acrescenta imediatamente em seguida, à maneira de conclusão: “Em Portugal se conservará sempre o Dogma da Fé, etc. ...". De onde parece lógico deduzir-se que o Dogma da Fé se perderá numa extensão tão grande do mundo, que é digno de menção especial o fato de ele se conservar em Portugal. Mas o que significa propriamente conservar-se ou não conservar-se o Dogma da Fé em determinado país? É difícil precisar. Entretanto, qualquer que seja o alcance que se dê a essa expressão, é evidente que ela se refere a uma crise da Fé. E assim desembocamos novamente, de cheio, no gravíssimo tema da presente crise da Igreja, posto que a crise da Fé é a raiz mesma dessa crise. Por outro lado, o "etc. ...” com que a Irmã Lúcia conclui a narração, sugere a idéia de que a terceira parte do Segredo se insere justamente neste ponto do relato e faz nexo com a frase que vem de ser dita. Ora, esta permite inferir, como acabamos de ver, a ocorrência de uma crise da Fé católica no mundo inteiro. Assim, a conjectura de que a crise na Igreja seja o tema da terceira parte do Segredo ganha muito em verossimilhança. Entretanto, se deixamos de lado o terreno das conjecturas — aliás plausíveis — e atentamos para a realidade, um dos aspectos mais espantosos da crise da Igreja é justamente o da infiltração esquerdista em meios católicos. Esse aspecto da crise já era tão alarmante em 1968, que nesse ano 1.600.368 brasileiros, 266.512 argentinos, 121.210 chilenos e 37.111 uruguaios subscreveram uma mensagem a Sua Santidade o Papa Paulo VI pedindo urgentes medidas para conter tal infiltração (os memoráveis abaixo-assinados foram promovidos pelas Sociedades de Defesa da Tradição, Família e Propriedade dos respectivos países). Ora, o comunismo é exatamente o flagelo com que Deus quer punir o mundo de seus crimes. Nossa Senhora diz, na segunda parte do Segredo, que "a Rússia espalhará os seus erros pelo mundo". Quando vermos que esses erros atingiram a sacrossanta Igreja Católica — Paulo VI afirma mesmo ter a sensação de que "a fumaça de Satanás haja entrado por alguma fissura no templo de Deus" (Sermão de 29 de junho de 1972) — Não podemos deixar de pensar que haveria uma grande congruência entre a segunda e a terceira parte do Segredo, se esta tratasse, efetivamente, da crise na Igreja. ”


Igor Swann. Obra "As grandes aparições de Maria: Relatos de vinte e duas aparições.  Ed. Paulinas. 2ª edição. São Paulo, 2001. 375p."

“A guerra [a Primeira Grande Guerra] vai acabar. Mas se não pararem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virem uma noite iluminada por uma luz desconhecida, saibam que é o grande sinal que Deus lhes dá de que vai castigar o mundo por seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre.“ Ao continuar, a Senhora fez uma profecia que, na época, foi incompreensível: “Para impedir isso, peço a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e haverá paz. Se não, [a Rússia] espalhará seus erros pelo mundo, provocando guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo um período de paz.”” [pág. 196]

“...em julho de 1917, parecia que a Grande Guerra nunca teria fim. A mensagem das crianças que ela logo acabaria foi ridicularizada. A guerra acabou em novembro de 1918, depois de que os recursos alemães se esgotaram e o estado de espirito sofreu um colapso.” [pág. 197]

“O papa Bento XV estava com 63 anos na época e, assim, parecia ainda ter um longo pontificado pela frente. O relato dos três jovens videntes de que a guerra seguinte começaria durante o pontificado de um papa chamado Pio XI era inimaginável para elas e também para todo o mundo. Bento XV morreu em 1922, quando já haviam sido comunicadas ao mundo inteiro as mensagens da Senhora, inclusive a profecia sobre Pio XI. Como todos sabem, os papas são eleitos pelo voto secreto e, imediatamente após a eleição, cada papa escolhe o nome pelo qual deseja ser conhecido. O cardeal Achille Ratti, nascido em 1857, só três anos depois de Bento XV, foi eleito papa em 1922 — e adotou o nome Pio XI. Ainda ocupava o trono papal em 1939, quando, como a Senhora predissera, teve início a Segunda Grande Guerra. Quanto à "luz desconhecida" que seria vista como presságio confirmando que logo começaria outra guerra, na noite de 25 de janeiro de 1938, um espetáculo auroral extraordinário foi visto sobre a Europa, estendendo-se para o sul até o norte da Itália a França, a Espanha e Portugal. Tais auroras costumam se restringir ao círculo polar ártico. A Segunda Grande Guerra começou doze meses mais tarde. A profecia da Senhora em julho de 1917 sobre a Rússia espalhar "seus erros pelo mundo" e "perseguir a Igreja" foi completamente ininteligível na época — e só se tornaria parcialmente inteligível uma década mais tarde. É difícil entender como alguém poderia tê-la inventado.” [pág. 198/199]

”Entre 1917 e 1931, o governo comunista russo pôs em prática a dizimação sistemática da Igreja Católica. [...] Até 1954, depois que os soviéticos começaram a anexar outros países ao "bloco soviético" [...] Durante os sete anos de seu governo ditatorial, Lenin foi responsável por vinte milhões de mortes. Durante os 29 anos seguintes, Stalin assassinou 46 milhões. Depois que "os erros da Rússia" se espalharam para a China maoísta, mais setenta milhões morreram. Em retrospecto, então, é bastante fácil ver por que, com sua previsão, a Santa Mulher estava preocupada com a Rússia — e por que não gostava do comunismo. A respeito da profecia sobre as mortes das duas crianças, Francisco morreu em abril de 1919, aos 10 anos, vítima da grande epidemia de gripe que se seguiu à guerra. Sua irmã Jacinta morreu em fevereiro de 1920, de um ataque de pleurisia que sofreu depois da gripe. Tinha 9 anos.” [pág. 200/201]




Obs.: As expressões no texto entre colchetes ou parêntesis destacadas na cor azul não fazem parte do original.