Joseph Ernest Renan (1823-1892). Obra: "Vida de Jesus. In: Coleção obra-prima de cada autor. Ed. Martins Claret. São Paulo, 2003. 528p." “Note-se que não fiz uso algum dos evangelhos apócrifos.
Essas composições não devem ser de modo algum postas no mesmo nível dos evangelhos canônicos. São vulgares e pueris ampliações, tendo quase sempre como base os canônicos e nunca acrescentando a eles nada de valor. Ao contrário, tive muito cuidado em recolher os fragmentos, conservados pelos Padres da Igreja, dos antigos evangelhos que existiram outrora paralelamente aos canônicos e que foram perdidos, como o Evangelho segundo os Hebreus, o Evangelho segundo os Egípcios, os Evangelhos ditos de Justino, de Marcião, de Taciano.”
[pág. 76]“Separar entre a documentação antiga o que tem valor e o que não tem é uma das trabalheiras dos pesquisadores.
O público leigo em geral tem fascinação pelos evangelhos apócrifos — a fascinação de entrar num território proibido. Eles são fascinantes mesmo, pela extravagância que chegam a conter. Num deles, Jesus é um menino mágico que faz passarinhos de barro e, depois de bater palmas, põe-nos a voar Noutro. Jesus, também menino, roga uma maldição e faz cair morta uma criança que o perseguia. Outra cena de infância é mais formidável ainda. Jesus quer brincar com um grupo de crianças, mas elas fogem dele e se refugiam numa casa. Jesus chega e pergunta à dona da casa onde estão as crianças. A dona da casa, para protegê-las, diz que ali não há crianças. O barulho que ele está ouvindo em outro cômodo é de bodes. Jesus ordena então: “Deixa os bodes saírem”. A mulher vai abrir a porta do cômodo e descobre o quê? Bodes. Jesus transformara seus desafetos em bodes, de vingança, para horror da mulher.
Com uma ou outra exceção, os apócrifos são fáceis de descartar. Trata-se de coletâneas de histórias inventadas, algumas em meios populares onde a religião ainda mal se separava da feitiçaria.”
[pág. 455/456] Revista eletrônica História em Foco. Editora Alto Astral. Dezembro/2016. “Eles nunca foram considerados inspirados pela Igreja porque alguns apresentam conteúdo herético, ou seja, com erros de fé, outros distorcem informações históricas e alguns não possuem uma real utilidade”, afirma o padre Antônio Xavier, mestrando em Sagradas Escrituras e sacerdote da Comunidade Canção Nova em missão na Terra Santa. Não que a leitura seja proibida, mas aos fiéis católicos é orientado que o material seja lido com certa cautela e conhecimento prévio do assunto tratado no livro além de uma boa formação da doutrina católica. “
Os livros apócrifos podem ser lidos sim, mas não como livros inspirados. A Igreja não proíbe a leitura dos apócrifos, mas não os ensina para evitar que as divergências contidas neles possam gerar confusão de fé na cabeça das pessoas. Eu, pessoalmente, desaconselho a leitura de apócrifos sem uma prévia leitura de uma boa crítica sobre eles e uma prévia leitura dos evangelhos canônicos, para evitar que se termine com as ideias mais confusas do que claras” revela.”
Revista eletrônica História em Foco. Editora Alto Astral. Maio de 2016 “Embora os apócrifos tenham sido banidos, sua importância é inquestionável, tanto pelo viés histórico como teológico do assunto. Justificado ou não, seu desaparecimento poderia ter apagado uma parte essencial da história das religiões. Na percepção científica, canônicos e apócrifos têm o mesmo valor para a compreensão das crenças e práticas dos cristãos, da mesma maneira que para a preservação de memórias e tradições. A respeito disso,
a Igreja reconhece que nem todos os textos apócrifos são blasfemos, e sua influência está vinculada na tradição popular, como, por exemplo, os nomes dos pais de Maria que não aparecem nos textos canônicos, bem como os dos três reis magos — todos personagens conhecidos entre os cristãos. É curioso notar que, no calendário da Igreja Católica, é comemorado os dias de Santa Ana e São Joaquim, cujos nomes não foram citados nos textos canônicos.”
[...] “Mesmo sendo frutos de especulações, os apócrifos são textos que revelam multo sobre a comunidade da época.”
Revista eletrônica História em Foco. Editora Alto Astral. Janeiro de 2018 “Para efeito de pesquisa acadêmica, canônicos e apócrifos têm o mesmo valor histórico para compreendermos as crenças e práticas dos primeiros cristãos, bem como suas memórias e tradições sobre Jesus de Nazaré", conta Paulo Nogueira, professor titular da Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo. De fato, a coletânea entrega respostas alternativas para muitos dos enigmas encontrados na versão oficial da Bíblia Sagrada. Mas o livre-arbítrio para nortear a reflexão é todo seu.”
Revista História em Foco. Editora Alto Astral. Janeiro de 2019. Título da Capa: “Maria Madalena, injustiçada pela História”. “Na visão do pós-graduado em teologia Reinaldo José Barroso, “esses textos apresentam a Jesus a partir perspectiva um movimento chamado “Gnoticismo”. São escritos posteriores aos evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas.
Não trazem nenhum dado confiável que possa completar as informações dos evangelhos atuais.”. Contudo “eles são úteis para reconstruir as crenças populares do Judaísmo na época Neotestamentária e para identificar certas correntes heréticas obscuras da igreja primitiva”, destaca Barroso.”