Finalmente, nos caps. 35-36, Atenágoras defende os cristãos contra a acusação de antropofagia [comer carne humana]. Ao contrário, os cristãos respeitam extremamente a vida humana, fogem dos jogos do circo; condenam o aborto por julgarem-no homicídio, pois o feto é já ser vivo e objeto dos cuidados de Deus. Além do mais, a fé na ressurreição é força que os impede de cometer estes excessos. [...] De fato, os que sabem que não suportamos ver uma execução com justiça, como vão nos acusar de matar e comer homens? Quem de vós não se entusiasma em ver os espetáculos de gladiadores ou de feras, principalmente os que são organizados por vós? Nós, porém, que consideramos que ver matar está próximo do próprio matar, nos abstemos de tais espetáculos. Portanto, como podemos matar os que não queremos sequer ver para não contrair mancha ou impureza em nós? Afirmamos que as mulheres que tentam o aborto cometem homicídio e terão que dar contas a Deus por ele;" então, por que iríamos matar alguém? Não se pode pensar que aquele que a mulher leva no ventre é um ser vivente e objeto, consequentemente, da providência de Deus e em seguida matar aquele que já tem anos de vida, não expor o nascido, crendo que expor os filhos equivale a matá-los, e tirar a vida ao que já foi criado. Não! Nós somos em tudo e sempre iguais e concordes com nós mesmos, pois servimos à razão e não a violentamos.
“Outras fontes históricas mostram como os primeiros cristãos eram objeto das mais violentas calúnias. [...] Talvez por falsas informações sobre a Eucaristia, afirmava-se que os cristãos participavam de reuniões secretas de canibalismo, em que se alimentavam do sangue de uma criança sacrificada.” [pág. 29]
“A vida do cristianismo primitivo tem por centro a Eucaristia. Na celebração da Santa Missa reúnem-se todos os fiéis, é pregada a doutrina de Cristo, são feitas as coletas para ajudar os pobres. O dia da semana escolhido de modo praticamente espontâneo para a renovação do sacrifício eucarístico é o domingo. A razão que motiva a escolha desse dia é a comemoração da ressurreição de Cristo, que se deu num domingo. Desde o princípio eram frequentes as celebrações da Eucaristia. Os Atos dos Apóstolos falam de reuniões diárias, e Santo Inácio de Antioquia anima nesse sentido os fiéis de Éfeso: "Esforçai-vos, portanto, por vos reunirdes mais frequentemente, para celebrar a Eucaristia de Deus e o seu louvor. Pois, quando amiúde realizais reuniões litúrgicas, são aniquiladas as forças de Satanás e desfaz-se o seu malefício por vossa união na fé".” [pág. 30]
“Esse respeito que devotam à Eucaristia deve-se à fé firme de que, sob as espécies sacramentais do pão e do vinho, está realmente presente o próprio Cristo, tal como testemunha São Cirilo de JerusaIém (386d.C.) num texto belíssimo: "Em figura de pão é deveras o corpo que te é dado, e em figura de vinho o sangue, para que, participando do corpo e sangue de Cristo, te tornes concorpóreo e consangüíneo dEle. Passamos assim a ser cristóforos, isto é, portadores de Cristo, cujo corpo e sangue estão difundidos por nossos membros”.”[pág. 31]