Santa Catarina de Sena (Itália, 1347-1380). Obra: "O Diálogo. Editora Paulus. 1ª edição. 14ª impressão. 2015. São Paulo. 409p." Resposta de Deus à Santa Catarina: “Os pecadores não podem desculpar-se. Continuamente são por mim convidados ao conhecimento da Verdade. Não se corrigindo enquanto podem fazê-lo,
uma segunda repreensão os condenará. Ela acontece no último instante da vida, quando meu Filho chamar; "Surgite mortui, venite ad judicium" (Levantai-vos, ó mortos, vinde para o julgamento)! Tu que morreste para a graça e morto chegas ao fim da vida terrena, levanta-te, aproxima-te do supremo Juiz. Aproxima-te com tua maldade, com teus julgamentos falsos, com a lâmpada da fé apagada.
[...] Filha muito querida, esta segunda repreensão se dá no fim da vida, quando não há mais remédio. Ao chegar o instante da morte, o homem sente remorso. Já afirmei que ele é um verme cego por causa do egoísmo. No instante final, quando a pessoa compreende que não pode fugir das minhas mãos, esse verme recupera a visão e atormenta interiormente a pessoa, fazendo ver que por própria culpa chegou a tão triste situação.
Se o pecador se deixar iluminar e se arrepender — não por medo dos castigos infernais, mas por ter ofendido a suma e eterna bondade — ainda será perdoado. Mas se ultrapassar o momento da morte nas trevas, no remorso, sem esperança no sangue ou, então, lamentando-se apenas pela infelicidade em que se acha — e não por ter me ofendido — irá para a perdição. Sobrevirá, pois, a repreensão pela injustiça e falso julgamento. Em primeiro lugar, a repreensão da injustiça e do julgamento falso em geral, praticados no conjunto de suas ações;
depois, em particular, do último instante, quando o pecador considera seu pecado maior que minha misericórdia. Este (Mt 12,32) é o pecado que não será perdoado, nem aqui nem no além. O desprezo voluntário da minha misericórdia constitui pecado mais grave que todos os anteriores. Neste sentido,
o desespero de Judas desagradou-me e foi mais grave que a sua traição. Também para meu Filho! E por causa deste (último) julgamento falso que o pecador sofre a repreensão, ou seja, porque acha que sua falta é maior que meu perdão. Este é o motivo da punição, indo sofrer eternamente com os demônios.”
[pág. 89/91]“Como vês, repreendo os pecadores nesta vida por seus julgamentos falsos e injustiças; se não se corrigem, faço-lhes uma segunda repreensão na hora da morte; pela ausência de esperança e arrependimento, sobrevêm-lhes a morte eterna em indizível infelicidade!”
[pág. 92]“Infelizmente os homens, desprovidos de virtudes, não agem assim. Quais animais sem freio e soltos, vão do mal para o pior, de pecado em pecado, de miséria em miséria, de escuridão em escuridão, de morte em morte. Cheios de remorso, caminham em direção ao abismo até o momento da morte. Resta-lhes a possibilidade de retornar à obediência dos mandamentos, quando ainda têm tempo de se arrependerem; mas sempre lhes é difícil, pois vivem habituados ao mal.
Oxalá ninguém confiasse exageradamente, deixando o arrependimento para o último instante! Para todos existirá essa esperança, enquanto estiverem vivos.Mas não convém ficar achando que sempre haverá tempo de se corrigir.”
[pág. 362]“
Se reconhecerem a própria culpa na última hora, humilhando-se e desejando a reconciliação, mesmo que não o consigam fazer exteriormente, serão perdoados. Mas não devem esperar pelo momento da morte, pois será incerto o próprio arrependimento.”
[pág. 240]“...na hora da morte entenderás, quando não mais poderás procurar remédio nas virtudes, porque não as possuirás.
[...] Mas oxalá ninguém seja tão louco assim, nem tu, tão cego, que chegues assim ao último instante. Naquele momento extremo, o homem pecador será acusado pelo demônio, pelo mundo e pela carne. Não mais lhe farão propostas atraentes; não lhe apresentarão o amargo como doce, o imperfeito como perfeito, como acontecia durante a vida. A verdade virá patenteada como é. O remorso, antes tão enfraquecido, ladrará velozmente, quase levando o pecador ao desespero. Mas ninguém, então, deve desesperar-se. Não obstante os próprios pecados; é preciso conservar a esperança no sangue de Cristo. Meu perdão é dado por meio dele e minha misericórdia é infinitamente maior do que todos os males do mundo.
Não se demore, porém. E terrível achar-se desarmado num campo de batalha entre numerosos inimigos!”
[pág. 282]