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Santa Gema Galgani (Itália, 1878-1903). Obra: "Santa Gema Galgani, escrito por Padre Germano de Santo Estanislau, CP. Editora Ecclesiae. 2014. São Paulo. 342p."

“Começou o fenômeno, como já dissemos, sendo então testemunha só a própria virgem favorecida, de modo que nada podemos acrescentar à sua genuína narração. Daquele dia em diante, continuou a repetir-se periodicamente no mesmo dia e hora de cada semana, isto é, na noite de quinta-feira pelas 20 horas — e durava até às 15 horas da sexta-feira. Nenhuma preparação o precedia; nenhuma dor ou impressão nas mãos, pés e lado, anunciava que estivesse iminente: o único sinal era o recolhimento anunciador do êxtase. E quando este ia começar, de repente, via-se-lhe aparecer nas costas de ambas as mãos e no meio das palmas, uma mancha vermelha sob a epiderme (que é aquela membrana sutil e transparente que cobre externamente a pele); em seguida, abria-se um corte bem na carne, no derma, ab longo nas costas das mãos, e irregularmente redondo nas palmas. Pouco depois, rasgava-se a própria membrana e, sobre aquelas inocentes mãos, a ferida se manifestava com todas as características de uma chaga viva, do diâmetro de um centímetro nas palmas e da largura de dois milímetros nas costas, com o comprimento nestas, de uns vinte milímetros. Às vezes o rasgão aparecia muito superficial; outras quase imperceptível à vista. Mas ordinariamente era muito profundo e parecia que atravessava toda a grossura da mão, unindo-se a ferida de um lado com a da parte oposta. E digo parecia porque nelas regurgitava o sangue, às vezes fluente, e outras vezes coagulado. Tão logo cessava o fenômeno, fechavam-se as feridas, assim que não era fácil explorá-las senão com o auxílio de um estilete. Ora este instrumento nunca foi usado, já por causa do respeito que inspirava a extática naquelas misteriosas condições, já porque a força da dor a fazia ter as mãos encolhidas convulsivamente — e também porque as feridas das palmas das mãos eram cobertas de uma protuberância que, no princípio, parecia ser formada de grumos de sangue, mas depois se reconheceu ser carnosa, dura, da forma da cabeça de um prego, alta e não aderente, do tamanho de uma moeda. Quanto aos pés, além de serem os rasgões maiores e rodeados de manchas lívidas, a diferença do tamanho era em sentido inverso ao das mãos, isto é, de maior diâmetro nas costas e menor nas plantas. Além disto, a ferida das costas do pé esquerdo era tão grande como a da planta do direito, como devia ser no Salvador, supondo-se que com um só prego fossem pregados na cruz ambos os seus santos pés, o direito em cima do esquerdo. Já disse que os rasgões se formavam pouco a pouco, isto é, em cinco ou seis minutos, começando internamente na pele sob a epiderme, e terminando com a laceração desta. Às vezes, porém, não era assim; o golpe que a produzia era instantâneo e partia do exterior como violenta fenda, e então era doloroso ver a querida mártir, tomada de improviso, agitar-se, tremer com todos os músculos dos braços, das pernas e todo o corpo. Chegamos à ferida do lado. Esta raramente foi observada, receando até as pessoas mais íntimas, pelo respeito, aproximar-se muito daquele corpo virginal, ainda que por devota curiosidade. Pelo mesmo motivo abstive-me de fazê-lo. É certo porém, que a julgar pela intensa dor que Gema sentia com esta ferida, não era ela superficial mas atingia o coração, penetrava-lhe o interior. Por outro lado, se o fim que Deus tem em vista operando prodígios tão singulares é o de reproduzir, em alguns de seus servos prediletos, a realidade dos tormentos que seu Divino Filho sofreu por nós na cruz, parece que não há razão de crer que Ele faça esta reprodução incompleta. [...] Era a referida chaga no lado de Gema da forma de uma meia-lua, em direção horizontal, com as duas pontas voltadas para baixo. O comprimento em linha reta era de seis centímetros e a largura no meio, de três milímetros, formando, com as duas faces opostas, um ângulo que tinha o vértice na profundeza de meio centímetro. Esta ferida se manifestava de dois modos diferentes: partida do exterior como efeito de um golpe de lança; ou então do interior, abrindo-se pequeninos furos vermelhos que se via transparecer através da epiderme, e que tornando-se mais numerosos, acabavam por dilacerar o derma e formar a horrorosa chaga que descrevemos. [...] Era abundante o sangue que derramava essa chaga o que se podia ver pelas vestimentas que ficavam todas embebidas. A humilde e modesta virgem esforçava-se o quanto podia para ocultar aquele sangue, servindo-se de panos, dobrados muitas vezes, que constantemente aplicava ao lado: porém, aí a pouco, achava-os molhados e corria para escondê-los e lavá-los ocultamente. Todavia o sangue não corria de maneira contínua, mas com intermitências, com intervalos mais ou menos longos, pois que às vezes, na chaga, estanhava o sangue e se coagulava; e quando lavada, permanecia só a carne viva, como acontece naturalmente a uma ferida que está para cicatrizar. [...] Nunca foi possível saber-se quantas vezes o fenômeno se manifestou, além dos dias ordinários, nem calcular quanto sangue aquela vítima perdia de cada vez. Só se pode afirmar que era grande a quantidade, conforme asseguram todas as pessoas que a acompanhavam de perto. [...] Não menos maravilhoso era o modo porque as feridas desapareciam: cessado o êxtase das sextas-feiras, parava inteiramente o derramamento do sangue do lado, dos pés e das mãos; a carne viva secava, contraia-se pouco a pouco e uniam-se as fibras dos tecidos dilacerados. No dia seguinte — ou ao mais tardar no domingo — daquelas profundas chagas não restava nenhum vestígio nem no centro nem nas margens: a pele crescia por cima, inteiramente igual à de todo o corpo que não tinha sido ferido! Somente a cor era um pouco diversa, pois conservava umas manchas brancas, indicando que naqueles pontos, no dia anterior, tinha havido chagas vivas. E no fim de cinco dias, tornariam-se a abrir como antes, para fechar-se outra vez do mesmo modo. Dois anos depois de ter desaparecido inteiramente este prodígio, quando Gema morreu, as ditas manchas se conservavam ainda, e foi então fácil observá-las em seu cadáver, particularmente nos pés, o que antes não se podia, por ser muito difícil a descalçarem durante o êxtase.” [pág. 71/75]

“Os efeitos palpáveis destas aparições demonstravam claramente que não eram fruto da imaginação. Via-se a cabeça da piedosa donzeIa, no mesmo momento, traspassada de furos donde gotejava sangue vivo, não só ao redor, mas em toda a superfície e por entre os cabelos; isto confirma o que deixaram escrito alguns santos contemplativos: ter sido feita de tal forma a coroa de espinhos do Salvador que lhe cobria toda a cabeça. A própria Gema, falando daquela que pela primeira vez foi-lhe mostrada pelo anjo, diz claramente: "Não tinha a forma de uma coroa, mas de um barrete".” [pág. 80]

“Quanto pois a suposição de que esse estado não passasse de uma fantasia, produzida por uma pessoa histérica ou sugestionada hipnoticamente, compreende-se que não era possível, ao menos apresentar feridas e cortes profundos como os que verificaram em Gema, e mais ainda vê-las de repente fechadas e cicatrizadas....” [pág. 99]

“Uma vida toda crucificada com Jesus. Era de esperar que com Jesus Crucificado também terminasse. Gema tinha participado sucessivamente de todos os tormentos do Homem-Deus; das angústias interiores, dos sofrimentos externos por obra dos demônios, do suor de sangue, dos açoites, das feridas em todo o corpo, dos penetrantes espinhos da coroa, do deslocamento dos ossos, e das dores causada pelos pregos.” [pág. 305]




Obs.: As expressões no texto entre colchetes ou parêntesis destacadas na cor azul não fazem parte do original.