"Ao tempo dessa primeira Aparição, na qual o Anjo dir-se-ia não ousar manifestar-se-lhe inteiramente, a Lúcia era ainda muito pequenita, devia ter uns oito anos; ainda ela não sabia contar nem os anos, nem os meses, nem mesmo os dias da semana. Deveria ser um dos primeiros dias em que a mãe lhe confiara o rebanho e antes da tia Olímpia dar ao Francisco e à Jacinta a tão suspirada e rogada autorização de a acompanharem." [pág. 53]
""Tínhamos merendado — conta a Lúcia — e pusemo-nos a rezar o terço. A certa altura vimos que sobre o arvoredo do vale, que se estendia a nossos pés, pairava como uma nuvem mais branca que a neve, algo transparente, com forma humana”. Uma das companheiras voltando a casa disse à mãe que tinha visto, por cima duma árvore, uma coisa branca que parecia uma mulher sem cabeça. Surpreendidas, interrogaram-se: que poderia ser aquilo? Mas nenhuma, nem ninguém saberia responder. Em dias a seguir apareceu a estranha figura branca mais duas vezes, deixando no espírito das pequenas, especialmente da Lúcia, uma impressão que não sabiam explicar. “Esta impressão ia-se todavia desvanecendo e creio que — afirma a Lúcia — se não fossem os factos que se lhe seguiram, com o tempo a teria esquecido por completo”.
“Foi somente um ano mais tarde, mais ou menos na Primavera de 1916, quando os dois irmãozitos [Jacinta e Francisco] já tinham obtido licença para começar a guardar o gado, que o Anjo apareceu claramente, pela primeira vez, diante dos três pastorinhos, na Loca do Cabeço". [pág. 54]
“Alguns momentos havia que jogávamos, e eis que um vento forte sacode as árvores e faz-nos levantar a vista para ver o que se passava, pois o dia estava sereno; e eis que começámos a ver, a alguma distância, sobre as árvores que se estendiam em direcção ao Nascente, uma luz mais branca que a neve, com a forma dum jovem transparente, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios do sol. À medida que se aproximava, íamos-lhe distinguindo as feições. Estávamos surpreendidos e meio absortos e não dizíamos palavra. Ao chegar junto de nós, disse: — Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo. E ajoelhado em terra, curvou a fronte até ao chão. Levados por um movimento sobrenatural, imitámo-lo e repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar: — Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam. Depois de repetir isto três vezes, ergueu-se e disse: Orai assim. Os corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas. E desapareceu. A atmosfera de sobrenatural que nos envolveu era tão intensa, que quase não nos dávamos conta da própria existência, permanecendo por um grande espaço de tempo na posição em que o Anjo nos tinha deixado, repetindo sempre a mesma oração. — Como nos havemos de sacrificar? — perguntei. — De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício ao Senhor em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim sobre a nossa Pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar.” [pág. 55/56]
[...] “Foi neste local, recordado ainda pela Lúcia com tanta saudade, que um dia, à hora da sesta, o Mensageiro celeste se lhes mostrou pela segunda vez. «De repente — narra a Lúcia — vimos o mesmo Anjo junto de nós. - Que fazeis? Orai! Orai muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios. — Como nos havemos de sacrificar? - perguntei. — De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício ao Senhor em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim sobre a nossa Pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar. Como mais tarde nas Aparições da Virgem, o Francisco nada ouviu.” [pág. 56/57]
“Estando pois aí, apareceu-nos pela terceira vez, trazendo na mão um cálice e, sobre ele, uma Hóstia, da qual caíam dentro do cálice algumas gotas de sangue. Deixando o cálice e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu três vezes a oração: Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.” [pág. 58/59]
“Por algum tempo, os pequenos ficavam como que privados dos sentidos corporais, num abatimento físico que os prostrava, absorvidos por uma paz íntima, uma felicidade imensa: a alma concentrada completamente em Deus.” [pág. 59]
[Testemunho da vidente Irmã Lúcia:] Assim, pois, completei os meus 7 anos. Minha mãe determinou que começasse a guardar as nossas ovelhas. [pág. 74]
Um pouco mais ou menos aí pelo meio-dia, comemos a nossa merenda e, depois dela, convidei as minhas companheiras [Teresa Matias, Maria Rosa Matias, sua irmã e Maria Justino, conf. pág. 168] para rezarem comigo o Terço, ao que elas anuíram com gosto. Mal tínhamos começado, quando, diante de nossos olhos, vemos, como que suspensa no ar, sobre o arvoredo, uma figura como se fosse uma estátua de neve que os raios do Sol tornavam algo transparente. — Que é aquilo? — perguntaram as minhas companheiras, meias assustadas. — Não sei! Continuámos a nossa reza, sempre com os olhos fitos na dita figura que, assim que terminámos, desapareceu. Segundo o meu costume, tomei o partido de calar, mas as minhas companheiras, assim que chegaram a casa, contaram o sucedido às famílias. [pág. 75]
Um belo dia, fomos com as nossas ovelhinhas para uma propriedade de meus pais que fica ao fundo do dito monte voltado ao nascente. Chama-se essa propriedade Chousa Velha. [...] Comemos a nossa merenda, rezámos o nosso Terço.... Terminada a nossa reza, começámos a jogar as pedrinhas [uma brincadeira de criança] . Alguns momentos havia que jogávamos, e eis que um vento forte sacode as árvores e faz-nos levantar a vista para ver o que (se) passava, pois o dia estava sereno. Vemos, então, que sobre o olival se encaminha para nós a tal figura de que já falei [o anjo]. A Jacinta e o Francisco ainda nunca a tinham visto, nem eu lhes havia falado nela. À maneira que se aproximava, íamos divisando as feições: um jovem dos seus 14 a 15 anos, mais branco que se fora de neve, que o sol tornava transparente como se fora de cristal e duma grande beleza. Ao chegar junto de nós, disse: — Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo. E ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão e fez-nos repetir três vezes estas palavras: — Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam. Depois, erguendo-se, disse: — Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas. As suas palavras gravaram-se de tal forma na nossa mente, que jamais nos esqueceram. E, desde aí, passávamos largo tempo assim prostrados repetindo-as, às vezes, até cair cansados. Recomendei logo que era preciso guardar segredo e, desta vez, graças a Deus, fizeram-me a vontade. [pág. 77/78]
Passado bastante tempo, em um dia de verão, em que havíamos ido passar a sesta a casa, brincávamos em cima dum poço que tinham meus pais no quintal a que chamávamos o Arneiro. (No escrito sobre a Jacinta, também já falei a V. Ex.cia deste poço). De repente, vemos junto de nós a mesma figura ou Anjo, como me parece que era, e diz: — Que fazeis? Orai, orai muito. Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente, ao Altíssimo, orações e sacrifícios. — Como nos havemos de sacrificar? — perguntei. — De tudo que puderdes, oferecei a Deus sacrifício em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim, sobre a vossa Pátria, a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai, com submissão, o sofrimento que o Senhor vos enviar. [pág. 78]
Passou-se bastante tempo e fomos pastorear os nossos rebanhos para uma propriedade de meus pais que fica na encosta do já mencionado monte, um pouco mais acima dos Valinhos. [...] Logo que aí chegámos, de joelhos, com os rostos em terra, começámos a repetir a oração do Anjo: Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos, etc. Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração, quando vemos que sobre nós brilha uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava e vemos o Anjo, tendo em a mão esquerda um Cálix, sobre o qual está suspensa uma Hóstia, da qual caem algumas gotas de Sangue dentro do Cálix. O Anjo deixa suspenso no ar o Cálix, ajoelha junto de nós, e faz-nos repetir três vezes: — Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, (adoro-Vos profundamente e) ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores. Depois levanta-se, toma em suas mãos o Cálix e a Hóstia. Dá-me a Sagrada Hóstia a mim e o Sangue do Cálix divide-O pela Jacinta e o Francisco, dizendo ao mesmo tempo: — Tomai e bebei o Corpo e Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus. E prostrando-se de novo em terra, repetiu conosco outras três vezes a mesma oração: Santíssima Trindade... etc., e desapareceu. Nós permanecemos na mesma atitude, repetindo sempre as mesmas palavras; e quando nos erguemos, vimos que era noite e, por isso, horas de virmos para casa. [pág. 78/79]