“Partiram, pois, os três, sem a Jacinta, para uma fazenda que pertencia a um tio da Lúcia e que ficava perto: os Valinhos. Eram mais ou menos quatro horas da tarde quando a Lúcia começou a notar as alterações atmosféricas que precediam as Aparições da Senhora na Cova da Iria: um súbito refrescar da temperatura, um desmaiar do sol e o característico relâmpago. Lá vem Nossa Senhora! — pensou a Lúcia. — E a Jacinta que não está cá! Gritou então para o João: — Ó João, vai buscar a Jacinta depressa que vem lá Nossa Senhora!” [pág. 157/158]
“Ao primeiro relâmpago seguira-se outro e foi nessa altura que chegaram a Jacinta e o João. Momentos depois, a luminosa Senhora aparecia-lhes sobre uma carrasqueira, de altura sensivelmente superior à da Cova da Iria. [...] Que é que Vossemecê me quer? — pergunta mais uma vez a Lúcia com uma confiança toda filial. — Quero que continueis a ir à Cova da Iria, no dia 13, e que continueis a rezar o terço todos os dias. De novo, a Lúcia pede a Nossa Senhora que faça um milagre para que todos acreditem. — Sim — responde a Virgem. — No último mês, em Outubro, farei um milagre para que todos creiam nas minhas Aparições. Se não vos tivessem levado à Aldeia [Termo corrente na região para designar Vila Nova de Ourém] , o milagre teria sido mais grandioso. Virá São José com o Menino Jesus para dar a paz ao mundo. Virá também Nosso Senhor para abençoar o povo. Virá ainda Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Dores. Logo a Lúcia se lembra da incumbência da senhora Maria Carreira e pergunta: — Que é que Vossemecê quer que se faça do dinheiro e das outras ofertas que o povo deixa na Cova da Iria? — Façam dois andores; um leva-lo tu com a Jacinta e outras duas meninas, vestidas de branco; o outro leva-o o Francisco com mais três meninos, também vestidos de opas brancas [Num manuscrito mais recente (8 Dezembro de 1941) a Lúcia acrescenta que a Virgem lhe dissera que o dinheiro dos andores devia destinar-se à festa de Nossa Senhora do Rosário e o que sobrasse seria para ajuda duma capela a construir-se na Cova da Iria. Julgamos que haja neste ponto uma confusão da parte da Lúcia, atribuindo à quarta Aparição este pormenor que, de facto, se deu na Aparição de 13 de Setembro. Com isto concorda o relatório que ela fez ao Sr. Prior [o Padre do local] da freguesia dois dias apenas, depois da Aparição nos Valinhos, e as declarações que constam do Processo Canónico (8 de Julho de 1924)]. O dinheiro dos andores é para a festa de Nossa Senhora do Rosário. A compassiva criança não esquece os doentes que lhe tinham sido recomendados e fervorosamente pede para eles a cura. — Sim, alguns curarei durante o ano — foi a resposta da Visão. E, tomando um aspecto muito triste, Nossa Senhora acrescenta: — Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, pois vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas. Em seguida, a Virgem despede-se dos seus pequenos amigos e começa a elevar-se, como de costume, em direcção ao Nascente, deixando na alma dos pastorinhos uma grande saudade do Céu e um grande desejo, uma verdadeira fome de sacrifícios para abrir a tantos pobres pecadores a porta do Paraíso. As três crianças, que na Cova da Iria tinham visto com pena os devotos despir a azinheira da folhagem sobre a qual tinham poisado os pés nevados da Virgem, desta vez são elas mesmo a cortar o raminho sobre o qual roçara a túnica da nívea Senhora.” [pág. 159/160]