Padre João De Marchi (1914-2003). Obra: "Era uma Senhora mais brilhante que o sol. Editora Consolata. 26ª edição. Versão em Português de Portugal. 2016. Fátima-Portugal. 447p." (pág. 174/179) [Aparição do dia 13/09/1917 aos três pastorinhos na Cova da Iria, ao meio-dia, nas palavras do Monsenhor João Quaresma, Vigário Geral da Diocese de Leiria:] “Ao meio-dia Solar, fez-se completo silêncio. Ouvia-se o ciciar das preces. Subitamente Soam gritos de júbilo... Ouvem-se vozes a louvar a Virgem. Braços erguem-se a apontar para qualquer coisa no alto. — Olhem, não vêem?... — Sim, já vejo!... A satisfação brilha nos olhos dos que vêem. No céu azul não havia uma nuvem. Também eu levanto os Olhos e ponho-me a perscrutar a amplidão do céu, para ver o que os outros olhos mais felizes, primeiro do que eu, contemplaram. — Lá está você também a olhar!... Com grande admiração minha vejo clara e distintamente um globo luminoso que se movia do Nascente para o Poente, deslizando lento e majestoso através do espaço. O meu amigo olhou também e teve a felicidade de gozar da mesma inesperada e encantadora Aparição... quando, de repente, o globo com a sua luz extraordinária se sumiu aos nossos olhos. Perto de nós estava uma pequenita vestida como a Lúcia e pouco mais ou menos da mesma idade. Cheia de alegria continuava a gritar — Ainda a vejo... ainda a vejo... agora desce para baixo! Passados minutos, exactamente o tempo que costumavam durar as Aparições, começou a criança de novo a exclamar apontando para o céu: — Lá sobe ela outra vez! e continuou seguindo o globo com os olhos até que desapareceu na direcção do sol. — Que pensas daquele globo? — perguntei ao meu amigo, que se mostrava entusiasmado por quanto tínhamos visto. — Que era Nossa Senhora — respondeu sem hesitar. Era também a minha convicção. Os pastorinhos contemplaram a própria Mãe de Deus; a nós fora-nos concedida a graça de ver o carro que A tinha transportado do Céu à charneca inóspita da Serra de Aire. Devemos dizer que todos os que estavam ali tinham observado o mesmo que nós. Porque de todas as partes se ouviam manifestações de alegria e saudações a Nossa Senhora. Muitos todavia não viam nada. Perto de nós estava uma piedosa e singela criatura que chorava amargamente porque não tinha visto nada. Sentíamo-nos deveras felizes. Com quanto entusiasmo ia o meu colega, de grupo em grupo, na Cova da Iria e depois pela estrada fora, informando-se do que tinham visto! As pessoas interrogadas eram das mais diversas classes sociais; todas à uma afirmavam a realidade dos fenómenos, que nós próprios havíamos presenciado. Altamente satisfeitos regressámos a casa, da nossa peregrinação a Fátima, com o propósito firme de voltar no próximo dia 13 de Outubro para aceder ao convite da Lúcia e fortificarmo-nos ainda mais na nossa fé nas Aparições de Nossa Senhora”. Outros fenómenos se deram que, como este, nem a todos foi dado contemplar. O súbito refrescar da atmosfera, o empalidecer do sol até ao ponto de se verem as estrelas, uma espécie de chuva como de pétalas irisadas que desapareciam antes de poisarem na terra, foram os factos notados e referidos por centenas e milhares de pessoas. Mas voltemos atrás.
[...] Não tinha ainda acabado a reza, quando os pequenos se levantam a esquadrinhar o horizonte. Tinham visto o relâmpago: a bondosa Senhora não podia faltar à palavra dada. Uns momentos, e sobre a azinheirinha já poisa a doce Rainha do Céu, a sorrir-lhes maternal.
[Lúcia diz:] — Que é que Vossemecê me quer? — pergunta, como sempre, a Lúcia. E a linda Senhora responde:
[NS diz:] — Continuem a rezar o terço a Nossa Senhora do Rosário, todos os dias, para alcançarem o fim da guerra. E repetindo o que já lhes tinha dito no mês precedente insiste em que não faltem ali no dia 13 de Outubro, em que viria São José com o Menino Jesus para dar a paz ao mundo; Nosso Senhor para abençoar o povo e depois se veria a sua Imagem correspondente às duas invocações de Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora do Carmo.
[Lúcia diz:] — Muitos têm-me pedido para pedir muitas coisas — diz-Lhe a Lúcia. Esta pequena é surda-muda. Não a quer curar?
[NS diz:] — Durante o ano experimentará algumas melhoras.
[Lúcia diz:] — São pedidos de conversões... são pedidos de curas...
[NS diz:] — Alguns curarei, outros não, porque Nosso Senhor não se fia
[confia] neles — responde a Virgem.
O obstáculo ao milagre seria para uns a falta de disposições suficientes; quanto aos outros, a doença seria para eles maior bem do que a cura.
[Lúcia diz:] — O povo gostava muito de ter aqui uma capela — continua a pequena, não perdendo a ocasião de recordar o pedido que lhe fizera a senhora Maria Carreira.
[NS diz:] — Empreguem metade do dinheiro, que até hoje têm recebido, nos andores
[padiola ornamentada para levar santos em procissão], e sobre um deles ponham Nossa Senhora do Rosário; a outra parte será destinada a ajudar à construção duma capela.
[Lúcia diz:] — Há muitos que dizem que eu sou uma intrujona
[impostora], que merecia ser enforcada ou queimada. Faça um milagre para que todos creiam! — pede, pela terceira vez, a Lúcia.
[NS diz:] — Sim, em Outubro farei um milagre para que todos acreditem — assegura de novo a Senhora.
[Lúcia diz:] — Umas pessoas deram-me duas cartas para Vossemecê e um frasco de água-de-colônia.
[NS diz:] — Isso de nada serve para o Céu! — responde a Virgem.
Depois destas palavras a branca Visão despede-se e eleva-se no ar impregnado de sobrenatural. A Lúcia grita então para o povo:
— Se querem vê-La, olhem para ali! — e indica o Nascente por onde a Virgem ia a desaparecer.
Avidamente todos os olhos tomaram a direção apontada e muitos puderam observar de novo o fenômeno notado antes. O globo luminoso ascendia também para o Céu, reconduzindo à sua celeste Morada a bondosa Rainha dos Anjos. Depois de uns instantes de trépida comoção, os peregrinos precipitavam-se sobre as afortunadas crianças a assediá-las com mil interrogações. Foi com dificuldade que os pais conseguiram reconduzi-las às suas casas, que encontraram de novo literalmente cheias de gente. E as perguntas não deixaram de chover até que a noite veio cobrir com o seu manto de silêncio e de paz o rústico lugarejo de Aljustrel.”