“Em 21 de janeiro de 1935, em carta ao Pe. José Bernardo Gonçalves S.J., a Irmã Lucia declara que "Nosso Senhor estava bastante descontente por não se realizar o seu pedido" (cf. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 412). Em carta ao mesmo Pe. Gonçalves, de 18 de maio de 1936, a Irmã Lúcia esclarece: "Quanto à outra pergunta: se será conveniente insistir para obter a consagração da Rússia, — respondo quase o mesmo que das outras vezes tenho dito. Sinto que não se tenha já feito; mas o mesmo Deus que a pediu, é que assim o permitiu [...] Se é conveniente insistir? Não sei. Parece-me que, se o Santo Padre agora o fizesse, Nosso Senhor a aceitava e cumpria a sua promessa; e, sem dúvida, seria um gosto que dava a Nosso Senhor e ao Imaculado Coração de Maria. Intimamente, tenho falado a Nosso Senhor do assunto; e há pouco perguntava-Lhe por que não convertia a Rússia sem que Sua Santidade fizesse essa consagração. “Porque quero que toda a minha Igreja reconheça essa consagração como um triunfo do Coração Imaculado de Maria, para depois estender o seu culto e pôr, ao lado da devoção do meu Divino Coração, a devoção deste Imaculado Coração”. Mas, meu Deus, o Santo Padre não me há-de crer, se Vós mesmo o não moveis com uma inspiração especial. “O Santo Padre! Ora muito pelo Santo Padre. Ele há-de fazê-la, mas será tarde. No entanto, o Imaculado Coração de Maria há-de salvar a Rússia. Está-Lhe confiada" (cf. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, pp. 412 e 414). Anda para o Pe. Gonçalves, ela escreve a 24 de abril de 1940: "Ele (Nosso Senhor), se quiser, pode fazer que a causa ande depressa. Mas, para castigo do mundo, deixará que vá devagar. A sua Justiça, provocada pelos nossos pecados, assim o exige. Desgosta-se, às vezes, não só pelos grandes pecados, mas também pela nossa frouxidão e negligência em atender aos seus pedidos. [...] São muitos os crimes, mas, sobretudo, é muito maior agora a negligência das almas de quem Ele esperava ardor no seu serviço. E muito limitado o número daquelas com quem Ele Se encontra" (cf. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, pp. 420 e 422). A Irmã Lúcia volta aos mesmos pensamentos em carta de 18 de agosto de 1940, sempre ao Pe. Gonçalves: "Suponho que é do agrado de Nosso Senhor que haja quem se vá interessando, junto do seu Vigário na terra, pela realização dos seus desejos. Mas o Santo Padre não o fará já. “Duvida da realidade, e tem razão. O nosso bom Deus podia, por meio de algum prodígio, mostrar claro que é Ele que o pede; mas aproveita-se deste tempo para, com a sua Justiça, punir o mundo de tantos crimes e prepará-lo para uma volta mais completa para Si. A prova que nos concede é a proteção especial do Imaculado Coração de Maria, sobre Portugal, em vista da consagração que lhe fizeram. “Essa gente, de que me fala, tem razão de estar assustada. Tudo isso nos aconteceria, se os nossos Prelados não tivessem atendido aos pedidos do nosso bom Deus, e implorado tanto de coração a sua Misericórdia e a proteção do Imaculado Coração da nossa boa Mãe do Céu. Mas na nossa Pátria há ainda muitos crimes e pecados; e como agora é a hora da Justiça de Deus sobre o mundo, é preciso que se continue a orar. Por isso, eu achava bem que incutissem nas pessoas, a par duma grande confiança na Misericórdia do nosso bom Deus e na proteção do Imaculado Coração de Maria, a necessidade da oração, acompanhada do sacrifício, sobretudo daquele que é preciso fazer para evitar o pecado" (cf. Memórias e Cartas da Irma Lúcia, p. 426). Em carta datada de 2 de dezembro de 1940, a Irmã Lúcia dirigiu-se diretamente ao Papa Pio XII, por ordem de seus diretores espirituais, pedindo que Sua Santidade se dignasse abençoar a devoção dos Primeiros Sábados e estendê-la por todo o mundo, acrescentando: "Em 1929, Nossa Senhora, por meio de outra aparição, pediu a consagração da Rússia a seu Imaculado Coração, prometendo, por este meio, impedir a propagação de seus erros, e a sua conversão. [...] Em várias comunicações íntimas Nosso Senhor não tem deixado de insistir neste pedido, prometendo ultimamente, se Vossa Santidade se digna fazer a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, com menção especial pela Rússia, e ordenar que, em união com Vossa Santidade e ao mesmo tempo, a façam também todos os Bispos do mundo, abreviar os dias de tribulação com que tem determinado punir as nações de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de várias perseguições à Santa Igreja e a Vossa Santidade" (cf. Memórias e Cartas da Irma Lúcia, p. 436; De Marchi, p. 312; Galamba de Oliveira, p. 153). No dia 31 de outubro de 1942, em Radiomensagem a Portugal por ocasião do encerramento do ano jubilar das aparições de Fátima, Pio XII consagrou a Igreja e o gênero humano ao Imaculado Coração de Maria. Em 1943, a Irmã Lúcia teve outra revelação de Nosso Senhor, que ela assim relata em carta ao Pe. Gonçalves, no dia 4 de maio daquele ano: [...] Deseja que se faça compreender às almas que a verdadeira penitência que Ele agora quer e exige consiste, antes de tudo, no sacrifício que cada um tem de se impor para cumprir com os próprios deveres religiosos e materiais. Promete o fim da guerra para breve, em atenção ao ato que se dignou fazer Sua Santidade. Mas como ele foi incompleto, fica a conversão da Rússia para mais adiante. Se os Srs. Bispos da Espanha não atenderem aos seus desejos, ela será mais uma vez ainda o açoite com que Deus os pune" (cf. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 446). Em 7 de julho de 1952, por meio da Carta Apostólica Sacro Vergente Anno, Pio XII consagrou os povos da Rússia ao Puríssimo Coração de Maria (vero texto em "Catolicismo”, nº 21, de setembro de 1952). Por ocasião do II Concílio Ecumênico do Vaticano, 510 Arcebispos e Bispos de 78 subscreveram uma petição na qual rogam ao Vigário de Cristo que consagre ao Imaculado Coração o mundo todo e de modo especial e explícita a Rússia e as demais nações dominadas pelo comunismo, ordenando que, em união com ele e no mesmo dia, o façam todos os Bispos do orbe católico. [...] João Paulo II fez duas consagrações do mundo ao Imaculado Coração de Maria, uma em Fátima, no dia 13 de maio de 1982, e outra em Roma, em 25 de março de 1984. Ambas as consagrações foram precedidas de um convite do Pontífice aos Bispos para se unirem a ele nesses atos. Não há, porém, dados positivos para avaliar até que ponto os Bispos do mundo inteiro realizaram a Consagração em união com o Papa, nem em 1982, nem em 1984. Em nenhuma das duas, também, a Rússia foi mencionada nominalmente. Assim, a Irmã Lúcia sempre sustentou, até meados de 1989, que nenhuma das consagrações mencionadas tinha sido "válida" (tomada esta palavra no sentido de atendimento dos requisitos manifestados por Nossa Senhora à vidente). De então para cá, entretanto, a Irmã Lúcia vem reconhecendo a validade da Consagração feita pelo Papa João Paulo II em 25 de março de 1984. Sobre a posição da Irmã Lúcia, discutem agora os peritos em Fátima, aderindo uns à nova posição, preferindo outros ater-se a seus pronunciamentos anteriores. O assunto é por demais complexo para o elucidarmos aqui. Bastaria de momento observar que ao pronunciar-se sobre o eventual relacionamento dessa Consagração com os espetaculares acontecimentos ocorridos no Leste europeu, com o aparente desmoronamento do comunismo, principalmente no segundo semestre de 1989 — relacionamento esse que parece estar na raiz da mudança de posição da vidente — a Irmã Lúcia deixa claro que está emitindo uma opinião particular, e não transmitindo uma revelação sobrenatural.”