Irmã Lúcia (Portugal, 1907-2005). Obra "Apelos da Mensagem de Fátima. Editora Secretariado dos Pastorinhos. 4ª edição (em português de Portugal). 2007. Fátima-Portugal. 300p." (pág. 104 e 105) [Irmã Lúcia:] Não digo que Deus pede a todos, como o faz a muitos dos Seus escolhidos, para se despojarem de tudo, dá-lo aos pobres e depois segui-Lo num absoluto desprendimento dos bens da terra; mas sim, que todos temos de viver desprendidos do demasiado afeto a esses bens.
[pág. 104] [...] Jesus disse então aos discípulos: "Em verdade vos digo que dificilmente entrará um rico no Reino dos Céus". Repito-vos: "É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus"» (Mt 1 9, 16-24). Segundo o que tenho ouvido a vários comentadores, Jesus Cristo refere-Se, nesta Sua afirmação, aos ricos avarentos que só se preocupam com amontoar riquezas, pelo que evitam gastar e recusam-se a partilhar o que lhes sobra com os irmãos necessitados. Isto mesmo nos ensina o Senhor, quando descreve, a propósito do Juízo final, os motivos da terrível condenação ao suplício eterno, aplicada aos que estiverem colocados à Sua esquerda: «"Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o Diabo e para os seus Anjos.
Porque tive fome, e não Me destes de comer; tive sede, e não Me destes de beber; era peregrino, e não Me recolhestes; estava nu, e não Me vestistes, enfermo e na prisão, e não fostes visitar-Me.
[...] Em verdade vos digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a Mim que o deixastes de fazer". E estes irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna» (Mt25,41-46). Recordemos tudo isto, quando Deus nos pede na Mensagem de Fátima: Sacrificai-vos; e com o que tendes de supérfluo e mal gastais, socorrei os vossos irmãos que não têm o necessário e se encontram a morrer de fome e de frio. É a renúncia e o sacrifício que Deus pede e exige de nós; se não nos sacrificarmos nesta vida
, iremos ser sacrificados na vida eterna, e não só por termos feito o mal, mas também porque deixamos de fazer o bem: «Tive fome, e não Me destes de comer; estava nu, e não Me vestistes... Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a Mim que o deixastes de fazer». E estes irão para o suplício etemo, e os justos para a vida eterna.
Para nos salvarmos, não basta não fazer o mal, mas requer-se também a virtude no exercício do bem, que todos temos obrigação de praticar.
[pág. 105]