“Crer é confiar. Crer é permitir. Crer, principalmente, é aderir, entregar-se; numa palavra, crer é amar. Que vale um silogismo intelectual se não atinge nem compromete a vida? É como uma partitura sem melodia. Crer é "andar na presença de Deus" (cf. Gn 17,1). A fé é, ao mesmo tempo, um ato e uma atitude que agarra, envolve e penetra tudo o que a pessoa humana é: sua confiança, sua fidelidade, seu assentimento intelectual e sua adesão emocional. Compromete a história inteira de uma pessoa: com seus critérios, atitudes, conduta geral e inspiração vital. Tudo isso se realizou exatamente em Abraão. Pai e modelo de fé, Abraão recebe uma ordem: "Sai de tua terra"; e uma promessa: "Farei de ti o pai de um grande povo" (cf. Gn 12,1-4). Abraão acreditou. O que significou esse acreditar? Na prática, foi o mesmo que passar um cheque em branco para Nosso Senhor, ter aberto para ele um crédito infinito e incondicional, confiar contra o senso comum, esperar contra a esperança, entregar-se cegamente e sem cálculos, romper com uma ordem estabelecida, e aos 75 anos, "pôr-se a caminho" (Gn 12,4) na direção de um mundo incerto "sem saber para onde ia” (Hb 11,8). Isso é crer: entregar-se incondicionalmente. A fé bíblica é isto: adesão ao próprio Deus. A fé não é uma referência direta a dogmas e verdades sobre Deus. É um entregar-se à sua vontade. Não é principalmente um processo intelectual de premissas a conclusões, nem fazer combinações teológicas embaralhando alguns conceitos ou pressupostos mentais. Acima de tudo, é uma atitude vital. Trata-se concretamente, repetimos, de uma adesão existencial à pessoa de Deus e à sua vontade. Quando existe essa adesão integral ao mistério de Deus, as verdades e dogmas referentes a Deus são aceitos com toda a naturalidade, e não há conflitos intelectuais.” [pág. 60/61]
“Pela fé, acabaram suas vidas, uns cortados ao meio por uma serra, outros passados à espada. Para não faltar com seu Deus, viveram errantes e fugitivos, subindo montanhas, percorrendo desertos, vestiram-se com peles de ovelhas e de cabras - simulando figuras alucinantes — para desorientar os perseguidores; esconderam-se em grutas e cavernas, perseguidos, esfomeados, oprimidos e torturados (cf. Hb 11,35-39). Todo esse inesquecível espetáculo foi obra da fé. Mas não da fé como uma colocação intelectual ou um silogismo. Fizeram tudo isso para não se separarem de seu Deus vivo e verdadeiro. Sua fé era adesão cheia de amor ao seu Deus. Nem a morte nem a vida – dirá São Paulo -, nem as autoridades nem as forças de repressão, nem inimigos visíveis ou invisíveis, nem as alturas, nem as profundidades, nada nem coisa alguma deste mundo será capaz de me separar do amor de Jesus Cristo meu Senhor (cf. Rm 8,38-40).” [pág. 62/63]