Frei Inácio Larrañaga (Espanha – 1928-2013). Obra: "O silêncio de Maria. Edições Paulinas. 39ª edição. 2012. 233p." “Um golfinho, uma serpente ou um condor sentem-se em "harmonia" com a natureza toda, mediante um conjunto de energias instintivas, afins com a vida. Os animais vivem gozosamente submergidos "na" natureza, como em um lar, numa profunda "unidade" vital com os demais seres. Sentem-se plenamente realizados - mesmo sem consciência disso -, nunca experimentam a insatisfação. Não sabem o que é frustração, nem aborrecimento. O ser humano “é” experimentalmente consciência de si mesmo. Ao tomar consciência de si mesmo, o homem começou a sentir-se solitário, como que expulso da família, que era aquela unidade original com a vida.
Mesmo quando faz parte da criação, o homem está, de fato, à parte da criação.
Partilha a criação junto aos demais seres - mas não com eles —, como se a criação fosse um lar, mas, ao mesmo tempo, sente-se fora do lar. Desterrado e solitário. Não só se sente fora da criação, mas também acima dela. Sente-se superior - e, por conseguinte, em certo sentido, inimigo - às criaturas, porque as domina e utiliza. Sente-se senhor, mas é um senhor desterrado, sem lar nem pátria. Quando toma consciência de si mesmo, o ser humano leva em conta e mede suas próprias limitações, suas impotências e possibilidades. Essa consciência da própria limitacão perturba sua paz interior, aquela gostosa harmonia em que vivem os outros seres que estão abaixo na escala vital. Comparando as possibilidades com as impotências, o ser humano começa a sentir-se angustiado. A angústia o consome na frustração. A frustração o lança a um eterno caminhar, à conquista de novas estradas e de novas fronteiras.
A razão, diz Fromm, é ao mesmo tempo bênção e maldição para o ser humano.”
[pág. 201/202]“
É um encarcerado, um desterrado e um solitário. Precisa de um Redentor, de uma Pátria, de uma Mãe.”
[pág. 203]