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Thomas E. Woods Jr. (EUA – 1972-X). Obra: "Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental. Editora Quadrante. 8ª edição. São Paulo. 2014. 220p." (pág. 184/185)

Chegados a este ponto, devemos examinar a obra de Santo Anselmo de Cantuária (1033-1109), porque imprimiu a clara marca de teologia católica nas legislações civis, uma vez que a sua obra Cur Deus homo teve profunda influência sobre a tradição jurídica ocidental. Nesse livro, Anselmo propôs-se demonstrar, com base na razão humana, por que era conveniente que Deus se fizesse homem na pessoa de Jesus Cristo e por que a crucifixão de Cristo — em vez de qualquer outro meio — foi indispensável à redenção da humanidade, após a queda e a expulsão de Adão e Eva do paraíso. Especificamente, o autor quis dar resposta a uma objeção bastante natural: Por que Deus muito simplesmente não perdoou a raça humana pelo pecado original? Por que não reabriu as portas do céu aos descendentes de Adão por meio de uma simples declaração de perdão, por um ato gratuito da graça? Por que, em outras palavras, a crucifixão foi necessária? A resposta de Anselmo foi a que expomos sucintamente a seguir.
Deus criou originalmente o homem para que pudesse gozar da felicidade eterna. O homem, de certo modo, frustrou essa intenção de Deus ao rebelar-se contra Ele, introduzindo o pecado no mundo. Para que se satisfizessem as exigências da justiça, o homem devia ser punido pelo seu pecado. Mas a sua ofensa a Deus, suma bondade, era tão grande que nenhuma punição que o homem pudesse sofrer seria capaz de oferecer a Deus uma compensação adequada. Qualquer punição que sofresse teria de ser tão severa que acabaria por anular a sua própria felicidade eterna; e como o plano de Deus para o homem era acima de tudo conceder-lhe a felicidade eterna, essa punição frustraria novamente a intenção de Deus. Eis por que — em face da necessidade de reparação devida a Deus e a incapacidade do ser humano de poder oferecê-la — o único caminho para expiar o pecado original era por meio da mediação de um Deus-Homem: só o próprio Deus, assumindo a condição de homem, podia oferecer uma reparação condigna em nome e no lugar do homem. Foi assim que Santo Anselmo justificou racionalmente a necessidade da morte expiatória de Jesus Cristo.



Obs.: As expressões no texto entre colchetes ou parêntesis destacadas na cor azul não fazem parte do original.