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 A idéia de universo racional e ordenado que norteou o pensamento científico advém da religião católica

Thomas E. Woods Jr. (EUA – 1972-X). Obra: "Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental. Editora Quadrante. 8ª edição. São Paulo. 2014. 220p." (pág. 72/74)

Jaki chama a nossa atenção para o livro da Sabedoria (11, 20), onde se diz que Deus dispôs todas as coisas com medida, quantidade e peso. Esse versículo, de acordo com Jaki, não apenas deu suporte aos cristãos que defenderam a racionalidade do universo nos fins da Antiguidade, como também incentivou os cristãos que viveram um milênio mais tarde, nos começos da ciência moderna, a investir em pesquisas quantitativas como caminho para entender o universo. Isto pode parecer tão óbvio que desperte pouco interesse. Mas a idéia de um universo racional e ordenado — enormemente fecunda e na realidade indispensável para o progresso da ciência — escapou a civilizações inteiras. Uma das teses centrais de Jaki é a de que não foi uma coincidência que o nascimento da ciência, como um campo de esforço intelectual permanente, tivesse ocorrido em um meio católico. Certas idéias cristãs fundamentais — sugere ele — foram indispensáveis ao surgimento do pensamento científico. As culturas não-cristãs não possuíam as mesmas ferramentas filosóficas e, pelo contrário, tinham estruturas conceituais que dificultavam o desenvolvimento da ciência. Em Science and Creation, Jaki examina à luz dessa tese sete grandes culturas — a árabe, a babilônica, a chinesa, a egípcia, a grega, a hindu e a maia — e conclui que em todas elas a ciência sofreu um "aborto espontâneo". A razão disso é que, por carecerem da crença em um Criador transcendente que dotou a sua criação de leis físicas consistentes, essas culturas conceberam o universo de modo panteísta, como um gigantesco organismo dominado por um panteão de divindades e destinado a um ciclo sem fim de nascimento, morte e renascimento. Isso tornou impossível o desenvolvimento da ciência. Por sua vez, o animismo, que caracterizou as culturas mais primitivas, impediu o crescimento da ciência por imaginar que as coisas criadas possuíam mente e vontade próprias – uma idéia que impedia de pensar que elas pudessem ter um comportamento ditado por leis, segundo padrões fixos que era possível averiguar. [...] Jaki não nega que essas culturas tenham alcançado notáveis feitos tecnológicos, mas mostra que não vemos surgir daí nenhum tipo de pesquisa científica formal e sustentável. É por isso que, em outra obra recente sobre este assunto, se pôde afirmar que “as primeiras inovações tecnológicas greco-romanas , do Islã, da China Imperial, sem mencionar as realizações dos tempos pré-históricos, não constituem ciência e podem ser descritas mais adequadamente como artesanato, savoir-faire, habilidade, tradição, treinamento, técnica, tecnologia, engenharia ou, simplesmente, conhecimento”. A antiga Babilônia é um exemplo ilustrativo. A cosmogonia babilônica era sumamente inadequada ao desenvolvimento da ciência e, mais ainda, chegava a desencorajá-la positivamente. Os babilônios pensavam que a ordem natural era tão fundamentalmente incerta que somente uma cerimônia anual de expiação seria capaz de prevenir o caos cósmico.



Obs.: As expressões no texto entre colchetes ou parêntesis destacadas na cor azul não fazem parte do original.