Irmã Maria Consolata Betrone (Itália, 1903-1943). Obra "O coração de Jesus ao mundo, do Padre Lorenzo Sales (Itália, 1889-1972). Ed. Paulinas. Portugal. 2003. 283p." (pág. 48/51) “Note-se: Jesus não exclui os sofrimentos; podem até ser necessários, justamente para a salvação do mundo e das almas. Durante a guerra ítalo-etíope, enquanto a Irmã Consolata orava pelos capelães militares para que conseguissem manter-se todos à altura da sua missão, Jesus respondia-lhe (27 de Agosto de 1935): «
Olha para estes jovens (os soldados); a maior parte deles, nas suas casas, apodreceria nos vícios. Mas, na guerra, longe das ocasiões, com a assistência do capelão, morrerão e serão salvos eternamente» A mesma coisa repetia em relação à crise econômica que já oprimia o mundo antes da Segunda Guerra Mundial (15 de Novembro de 1935): «A miséria atual que reina no mundo não é obra da minha justiça, mas da minha misericórdia.
Quantas culpas a menos, por falta de dinheiro! Quantas orações a mais se elevam ao Céu nas dificuldades financeiras!
Oh!
Não acrediteis que as dores da terra não me comovem; mas, como Eu gosto das almas, quero amá-las e, para chegar ao meu objetivo, sou obrigado a usar de rigor. Mas, acredita, é para fazer misericórdia.
Na abundância, as almas esquecem-se e perdem-se; na miséria, voltam-se para mim e salvam-se, Sabes? É mesmo assim!» Depois, durante a tremenda guerra mundial, precisamente no dia 8 de Dezembro de 1940, acontece este diálogo entre Jesus e a Irmã Consolata que chorava e orava pela paz: «— Repara, Consolata.
Se, hoje, Eu concedesse a paz, o mundo voltaria à lama... a provação não teria sido suficiente... — Mas, Jesus, toda esta juventude mandada para o matadouro!... Não será melhor dois ou três de sofrimentos amargos, intensos e inauditos e, depois, uma eternidade de gozos do que uma vida inteira de dissolução e, depois, a condenação eterna?... Escolhe! — Mas, Jesus, nem todos são maus! Pois não. Por isso, os bons aumentarão os seus méritos. Não, não atribuas a culpa aos chefes das nações, porque são simples instrumentos nas minhas mãos. Para poder salvar o mundo, hoje é necessário assim. Oh!
Quanta juventude agradecerá eternamente a Deus por ter perecido nesta guerra, pois os salvou eternamente! Compreendeste?» O que Jesus diz à respeito da guerra, repetia-o acerca da fome, triste herança da própria guerra (24 de Abril de 1942): «
Salvo os soldados na guerra e o mundo com a miséria e a fome. Mas muitos corações desesperam... Agora, tu vais pedir não só pelos corações que sofrem no mundo, mas também por aqueles que desesperam, para que Eu seja o seu conforto e esperança.» E, poucos dias depois, voltando ao mesmo conceito — e sempre como resposta às orações da Irmã Consolata pela paz dizia-lhe (29 de Abril de 1942): «A miséria e a fome conduzem as almas ao desespero... Ai! Consolata, ajuda-me a salvá-las! Quero salvar a pobre humanidade que corre para a lama, como quem tem sede da água fresca;
para salvá-la não há outro caminho senão a miséria e a fome. Mas ela desespera... Ai! Consolata, ajuda-me a salvá-la; ora por ela como oras pelos soldados.
Os soldados, salvo-os Eu na guerra! É assim que quero salvar a pobre humanidade. Ora, ora por ela, para que Eu mitigue muito a sua dor e salve as almas.
Se permito tanta, tanta dor no mundo, é com este único objetivo: salvar almas para a eternidade. O mundo perdia-se, corria para a ruína...» Especialmente, para atenuar a enorme angústia da Irmã Consolata pela destruição de tantas casas na sua querida Turim, como consequência das incursões aéreas, Jesus levava-a ao mesmo pensamento de fé (Dezembro de 1942): «
Consolata, as casas reedificam-se; as almas que se perdem, não. Não será melhor salvar almas, mesmo que as casas desabem do que perder aquelas eternamente e salvar estas?» Como acontece nas desventuras públicas, assim também nas familiares ou pessoais. Sempre, até nos casos mais dolorosos diante dos quais a razão humana, sentindo-se perdida, pergunta a si mesma: — Porquê? e a resposta que vem do céu continua a ser a mesma: — Amor, Bondade e Misericórdia de Deus. Um dia, Jesus respondia às lágrimas da Irmã Consolata pela morte inesperada de uma sua antiga companheira de infância, uma certa Celeste Canda que deixava quatro filhos órfãos, o mais velho dos quais tinha apenas nove anos: «Agora,
Celeste Canda goza da minha visão eternamente doce e no Paraíso vela com maior ternura pelas almas dos seus quatro filhinhos do que se tivesse ficado na terra.» Que suave conforto, quanta luz do Céu, estas palavras simples lançam sobre todos os lutos familiares!”