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Aparições de Nossa Senhora
       Aparições principais (ano e local)
             1917 - Fátima, Portugal

 09 - Mais detalhes sobre a sexta aparição e o milagre do sol

Padre João De Marchi (1914-2003). Obra: "Era uma Senhora mais brilhante que o sol. Editora Consolata. 26ª edição. Versão em Português de Portugal. 2016. Fátima-Portugal. 447p." (pág. 223/232)

Acabado o fenômeno solar, deu-se um fato, também naturalmente Inexplicável. Toda aquela gente que a chuva tinha repassado encontrava-se subitamente e completamente enxuta. A Virgem Santíssima tinha multiplicado os seus prodígios para confirmar a veracidade das afirmações das crianças. Ao valor apologético extraordinário de todos estes fenómenos, que não encontram explicação nas leis ordinárias da natureza, ninguém escapa, ninguém, naturalmente que queira considerar as coisas, não movido por preconceitos filosóficos ou por apriorísticos sofismas. Contudo haverá sempre neste pobre mundo almas soberbas e cépticas que tudo queiram negar, tudo queiram interpretar com a sua fraca inteligência ofuscada pela paixão. Não poderíamos encerrar melhor este capítulo do que citando as palavras do senhor Dom José Alves Correia da Silva na sua Carta Pastoral relativa às Aparições: “O fenómeno solar de 13 de Outubro de 1917, descrito nos jornais da época, foi o mais maravilhoso e o que maior impressão causou aos que tiveram a felicidade de o presenciar. As crianças fixaram com antecedência o dia e hora em que se devia dar. A notícia correu veloz por todo o Portugal e, apesar de o dia estar desabrido e chover copiosamente, juntaram-se milhares e milhares de pessoas que, à hora da última Aparição, presenciaram todas as manifestações do astro-rei, homenageando a Rainha do Céu e da Terra, mais brilhante que o sol no auge das suas luzes. Esse fenómeno que nenhum observatório astronómico registou e, portanto, não foi natural, presenciaram-no pessoas de todas as categorias e classes sociais, crentes e descrentes, jornalistas dos principais diários portugueses e até indivíduos a quilómetros de distância, o que destrói toda a explicação de ilusão colectiva”.” [pág. 232]

[Testemunho da Sra. Maria da Capelinha sobre o Milagre do Sol:] “Enquanto as crianças contemplavam extáticas as celestiais personagens, operava-se diante dos olhos do povo ali reunido e a quem a Lúcia grita: — Olhem para o sol — o milagre anunciado, estupendo como ninguém teria ousado esperar. “A gente olhava perfeitamente para o sol — conta-nos o pai da Jacinta — e ele não estorvava. Parecia que se fechasse e alumiasse, uma vez dum jeito e outra doutro. Atirava feixes de luz para um lado e para o outro e pintava tudo de diferentes cores — as árvores e a gente, o chão e o ar. Mas a grande prova é que o sol não fazia perturbação à vista. Estava tudo quedo, tudo sossegado; todos com os olhos nos astros. A certa altura, o sol parou e depois começou a dançar, a bailar; parou outra vez e outra vez começou a dançar, até que por fim pareceu que se soltasse do Céu e viesse para cima da gente. Foi um momento terrível!”. Também a senhora Maria da Capelinha viu num dado momento que o sol começava a desandar e a mexer. “Fazia diferentes cores, amarelo, azul, branco, e tremia, tremia tanto; parecia uma roda de fogo que vinha a cair sobre o povo. A gente gritava: — Ai Jesus, que aqui morremos todos! Ai Jesus, que aqui morremos todos! ... Outros bradavam: Nossa Senhora nos valha! e rezavam o acto de contrição. Houve até uma senhora que fez confissão geral e dizia em altas vozes: Eu fiz isto, aquilo e aqueloutro!... Por fim, o sol parou e todos deram um suspiro de alívio. Estávamos vivos e houvera o milagre que as crianças tinham anunciado”. Sim, dera-se o milagre e não foram só os olhos dos simples e dos humildes que o contemplaram; mas toda a multidão (setenta mil pessoas) ali aglomeradas, crentes e descrentes, dão testemunho do facto singular. Na impossibilidade de referir aqui por completo o que ficou arquivado nos jornais da época, escolhemos dois trechos dos principais jornais da capital. Diz “O Dia” de 19 de Outubro de 1917: “À uma hora da tarde, hora do sol, parou a chuva. O céu tinha um tom acinzentado de pérola e uma claridade estranha que iluminava a vastidão árida e trágica da paisagem triste, cada vez mais triste. O sol tinha como um véu de gaze transparente para que os olhos o pudessem olhar. O tom acinzentado de madrepérola transformava-se como numa chapa de prata luzidia que se ia rompendo até que as nuvens se rasgaram e o sol prateado, envolvido na mesma leveza cinzenta de gaze, viu-se rodar e girar em volta do círculo das nuvens afastadas! Foi um grito só em todas as bocas; caíram de joelhos na terra encharcada os milhares de criaturas de Deus que a fé levantava até ao Céu! A luz azulava-se num azul esquisito, como se viesse através dos vitrais de uma catedral imensa espalhar-se naquela nave gigantesca ogivada pelas mãos que se erguiam no ar... O azul extinguiu-se lentamente, para a luz parecer coada por vitrais amarelos. Manchas amareladas caíam agora sobre os lenços brancos, sobre as saias escuras e pobres das estamenhas [tecido grosseiro de lã] . Eram manchas que se repetiam indefinidamente sobre as azinheiras rasteiras, sobre as pedras, sobre a serra. Tudo chorava, tudo rezava, de chapéu na mão, na impressão grandiosa do Milagre esperado! Foram segundos, foram instantes que pareceram horas, tão vividos foram!”.” [pág. 223/224]

[Testemunho do jornalista Avelino de Almeida. do jornal "Século" sobre o milagre do Sol:] “No “Século” [O “Século” era o jornal de maior circulação nesse tempo, conf. pág. 199] o distinto jornalista Avelino de Almeida refere assim o Milagre que ele presenciara: “...Do cimo da estrada onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas de pessoas, a quem escasseou valor para se meterem à terra barrenta, vê-se toda a imensa multidão voltar-se para o sol, que se mostra liberto de nuvens, no zénite [no ponto ou grau mais elevado]. O astro lembra uma placa de prata fosca e é possível fitar-lhe o disco sem o mínimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-ia estar-se realizando um eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos espectadores que se encontram mais perto se ouve gritar. — Milagre, milagre! Maravilha, maravilha! Aos olhos deslumbrados daquele povo, cuja atitude nos transporta aos tempos bíblicos e que, pálido de assombro, com a cabeça descoberta, encara o azul, o sol tremeu, o sol teve nunca vistos movimentos bruscos, fora de todas as leis cósmicas, — o sol bailou, segundo a típica expressão dos camponeses. Empoleirado no estribo do auto-omnibus de Torres Novas, um ancião cuja estatura e cuja fisionomia, ao mesmo tempo doce e enérgica, lembram as de Paul Deroulède, recita, voltado para o sol, em voz clamorosa, o Credo. Pergunto quem é, e dizem-me que é o senhor João Maria Amado de Melo Ramalho da Cunha Vasconcelos. Vejo-o depois dirigir-se aos que o rodeiam, e que se conservaram de chapéu na cabeça, suplicando-lhes veementemente, que se descubram em face de tão extraordinária demonstração da existência de Deus. Cenas idênticas repetem-se noutros pontos e uma senhora clama, banhada em aflitivo pranto, quase numa sufocação: — Que lástima! Ainda há homens que se não descobrem diante de tão estupendo Milagre! E, a seguir, perguntam uns aos outros se viram e o que viram. O maior número confessa que viu a tremura, o bailar do sol; outros, porém, declararam ter visto o rosto risonho da própria Virgem, juram que o sol girou sobre si mesmo como uma roda de fogo de artifício, que ele baixara, quase a ponto de queimar a terra com os seus raios. Há quem diga que o viu mudar sucessivamente de cor”. Compraz-nos também referir parte duma carta que o ilustre catedrático de Coimbra, doutor Almeida Garrett, escreveu ao reverendo doutor Formigão, solicitado por este para lhe narrar o que vira naquele memorável dia 13 de Outubro. “Continuando a olhar o lugar das Aparições, numa expectativa serena e fria e com uma curiosidade que ia amortecendo, porque o tempo decorrera longo e vagaroso sem que nada activasse a minha atenção, ouvi o bruhahá de milhares de vozes e vi aquela multidão espraiada pelo largo campo que se estendia a meus pés, ou concentrada em vagas compactas em redor dos madeiros erguidos, ou sobre os baixos socalcos que retinham as terras, voltar as costas ao ponto para o qual até então convergiram os desejos e ânsias, e olhar o céu do lado oposto. Eram quase duas horas oficiais: oficiais, que correspondiam mais ou menos ao meio-dia solar. O sol momentos antes tinha rompido ovante a densa camada de nuvens que o tiveram escondido, para brilhar clara e intensamente. Voltei-me para este íman que atraía todos os olhares e pude vê-lo semelhante a um disco de bordo nítido, de aresta viva, luminosa e luzente, mas sem magoar [sem perturbar a vista]. Não me pareceu bem a comparação, que ainda em Fátima ouvi fazer, de um disco de prata fosca. Era uma cor mais clara, activa e rica, e com cambiantes, tendo como o oriente de uma pérola. Em nada se assemelhava à lua em noite transparente e pura, porque se via e sentia-se ser um astro vivo. Não era, como a lua esférica, não tinha a mesma tonalidade nem os claros-escuros. Parecia uma rodela brumida cortada no nácar de uma concha... Também se não confundia com o sol encarado através do nevoeiro (que aliás havia àquele tempo), porque não era opaco, difuso e velado. Em Fátima tinha luz e calor e desenhava-se nítido e com a borda cortada em aresta, como uma tábua de jogo. A abóboda celeste estava enevoada de cirros leves, tendo frestas de azul aqui e acolá, mas o sol algumas vezes destacou em rasgões de céu limpo. As nuvens, que corriam ligeiras de Poente para Oriente, não empanavam a luz (que não feria) do sol, dando a impressão facilmente compreensível e explicável de passar por detrás, mas por vezes esses flocos que vinham brancos, pareciam tomar, deslizando ante o sol, uma tonalidade rosa ou azul diáfana. Maravilhoso é que, durante longo tempo, se pudesse fixar o astro, labareda de luz e brasa de calor, sem uma dor nos olhos e sem um deslumbramento na retina, que cegasse. Este fenómeno com duas breves interrupções, em que o sol bravio arremessou os seus raios mais coruscantes e refulgentes, e que obrigaram a desviar o olhar, devia ter durado cerca de dez minutos. Este disco tinha a vertigem do movimento. Não era a cintilação de um astro em plena vida. Girava sobre si mesmo numa velocidade arrebatada. De repente ouve-se um clamor, como que um grito de angústia de todo aquele povo. O sol, conservando a celeridade da sua rotação, destaca-se do firmamento e sanguíneo avança sobre a terra, ameaçando esmagar-nos com o peso da sua ígnea e ingente mó. São segundos de impressão terrífica. Durante o acidente solar, que detalhadamente tenho vindo a descrever, houve na atmosfera coloridos cambiantes. Estando a fixar o sol, notei que tudo escurecia à minha volta. Olhei o que estava perto e alonguei a vista para o largo até ao extremo horizonte e vi tudo cor de ametista. Os objectos, o Céu e a camada atmosférica tinham a mesma cor. Uma carvalheira arroxeada que se erguia na minha frente, lançava sobre a terra uma sombra carregada. Receando ter sofrido uma afecção da retina, hipótese pouco provável, porque, dado este caso, não devia ver as coisas em roxo, voltei-me, cerrei as pálpebras e retive-as com as mãos para interceptar toda a luz. Ainda de costas abri os olhos e reconheci que, como antes, a paisagem e o ar continuavam da mesma cor roxa. A impressão que se tinha não era de eclipse. Continuando a olhar o sol, reparei que o ambiente tinha aclarado. Logo depois ouvi um camponês, que cerca de mim estava, dizer com voz de pasmo: — Esta senhora está amarela! De facto, tudo agora mudara, perto e distante, tomando a cor de velhos damascos amarelos. As pessoas pareciam doentias e com icterícia. Sorri-me de as achar francamente feias e desairosas. A minha mão tinha o mesmo tom amarelo. Todos estes fenómenos que citei e descrevi observei-os eu, sossegada e serenamente, sem uma emoção ou sobressalto. A outros cumpre explicá-los ou interpretá-los”. Demos maior extensão a esta testemunha porque pareceu-nos a que melhor interpretou o sentir da generalidade das muitas pessoas desta região que nos referiram o extraordinário fenómeno. Não nos furtámos, todavia, a mais algumas citações do acontecimento, indiscutivelmente miraculoso.” [pág. 225/228]

[Testemunho do doutor Domingos Pinto Coelho no jornal "A Ordem" sobre o milagre do Sol:] “Dizia o doutor Domingos Pinto Coelho no jornal “A Ordem”: “O sol, umas vezes rodeado de chamas encarniçadas, outras vezes aureolado de amarelo e roxo esbatido, outras vezes parecendo animado de velocíssimo movimento de rotação, outras vezes ainda aparentando destacar-se do céu, aproximar-se da terra e irradiar um forte calor”.” [pág. 228]

[Testemunho do padre Manuel Pereira da Silva sobre o milagre do Sol:] “No mesmo dia 13, à noite, escrevia o padre Manuel Pereira da Silva a um seu colega, o cónego António Pereira de Almeida, da Guarda: “...lmediatamente aparece o sol com a circunferência bem definida. Aproxima-se como a altura das nuvens e começa girando sobre si mesmo vertiginosamente como uma roda de fogo preso, com algumas intermitências, durante mais de oito minutos. Ficou tudo quase escuro e as feições de cada pessoa eram amareladas. Tudo ajoelhou mesmo na lama. Numa carruagem de luxo, junto da qual se encontrava o doutorFormigão, uma senhora de meia idade, elegantemente vestida, volta-se para um rapaz tipo de estudante universitário, e pergunta-lhe, presa de indizível comoção: — Meu filho, ainda duvidas da existência de Deus? — Não, minha mãe, — responde-lhe o jovem com os olhos marejados de lágrimas. — Não, agora é impossível”.” [pág. 228]

[Testemunho da Sra. Maria do Carmo Marques da Cruz Meneses sobre o milagre do Sol] “De uma carta da senhora dona Maria do Carmo Marques da Cruz Meneses transcrevemos o trecho seguinte: “...Mas de repente parou a chuva e o sol rompeu, deitando os seus raios para a terra. Parecia cair em cima de toda aquela nuvem de povo, e desandava como uma roda-de-fogo, tomando todas as cores do arco-íris. Todos nós tomávamos aquelas mesmas cores; os nossos semblantes, os nossos fatos [nossas roupas], a própria terra; ouviam-se gritos e viam-se muitas lágrimas. Eu disse muito impressionada: — Meu Deus! Quão grande é o vosso poder!”.” [pág. 228]

[Testemunho do Sr. Alfredo da Silva Santos sobre o milagre do Sol:] “Quisemos ainda ouvir o testemunho do senhor Alfredo da Silva Santos que sabíamos ter presenciado o Milagre de 13 de Outubro de 1917, e que encontrámos casualmente em Fátima na altura em que escrevíamos estas páginas. Participava ele num retiro para intelectuais e acedeu de boamente a dar-nos as suas impressões: “Nas vésperas — conta-nos — estava eu no Café Martinho de Lisboa, o Café da Arcada, e o meu primo João Lindim, de Torres Novas, entrou e disse-me: — Lá em casa, depois de amanhã, vai tudo a Fátima. Parece que tem havido por ali qualquer coisa de extraordinário e está tudo cheio de curiosidade de ver o que há ao certo. — Pois também eu vou! — respondi. Combinámos e lá fomos em três automóveis na madrugada do dia 13. Havia um grande nevoeiro: o carro que ia na frente errou o caminho, andámos perdidos e quando chegámos à Cova da Iria, era quase meio-dia solar. Estava tudo apinhado de povo. Pela minha parte ia sem espírito de piedade algum. Apesar de ter ficado um pouco arredado, ainda me parece estar a ver a Lúcia e a Jacinta. Quando aquela gritou: — Olhem para o sol! — toda a multidão repetiu: — Atenção ao sol! Atenção ao sol! Era um dia de chuva miudinha e incessante, mas minutos antes do Milagre, deixou de chover. Não posso então explicar o que se deu. O sol começou a bailar e a certa altura pareceu deslocar-se do firmamento e, em rodas de fogo, precipitar-se sobre nós. Minha mulher — estávamos casados havia pouco — desmaiou e eu não tive coragem para a amparar. Foi o meu cunhado João Vassalo que a susteve nos braços. Caí de joelhos esquecido de tudo. E quando me levantei não sei o que disse, acho que me pus a gritar como os outros. Um sujeito de barbas brancas, de Santarém, apostrofava contra os ateus: que vissem se havia ou não qualquer coisa de sobrenatural”. — Não seria, pois, o caso — observámos nós ao senhor Alfredo da Silva Santos, — de sugestão colectiva?... — Qual? — respondeu sorrindo. A única coisa que havia colectiva era a chuva que nos ensopava até aos ossos! É de notar também que este fenómeno milagroso não foi visto somente na Cova da Iria, mas também pôde ser observado por indivíduos a quilómetros e quilómetros de distância, o que destrói toda a explicação de ilusão colectiva, como se exprime o senhor Bispo de Leiria na sua Carta Pastoral sobre o culto de Nossa Senhora do Rosário da Fátima O poeta Afonso Lopes Vieira pôde presenciar o fenómeno na sua residência de São Pedro de Muel, a uns quarenta quilómetros da Fátima. “Nesse dia 13 de Outubro de 1917, eu, que não me lembrei da predição dos pastorinhos, fiquei encantado com um espectáculo deslumbrante do céu, para mim inteiramente inédito, a que assisti desta varanda”.” [pág. 229/230]

[Testemunho do padre Inácio Lourenço sobre o milagre do Sol:] “Interessantíssima também é a descrição que nos deixou o padre Inácio Lourenço e que pudemos confirmar pessoalmente interrogando diversas pessoas do seu lugar, Alburitel, e a própria professora a quem ele se refere, dona Delfina Pereira Lopes. “Tinha apenas 9 anos e frequentava a escola de primeiras letras da minha aldeia — (18 ou 19 quilómetros da Fátima). ...Era meio-dia mais ou menos quando fomos sobressaltados pelos gritos e exclamações de alguns homens e mulheres que passavam na rua diante da nossa escola. A professora muito boa e piedosa, mas facilmente impressionável e excessivamente tímida, foi a primeira a correr para a rua, sem poder impedir que todas as crianças corressem atrás dela. Na rua o povo chorava e gritava, apontando para o sol, sem atender às perguntas que, aflitíssima, lhe fazia a nossa professora. Era o grande Milagre, que se via distintissimamente do alto do monte, onde fica situada a minha terra: era o Milagre do sol com todos os seus fenómenos extraordinários. Sinto-me incapaz de o descrever, como o vi e senti então. Eu olhava fixamente para o sol, e parecia-me pálido, de modo que não cegava os olhos; era como um globo de neve a rodar sobre si mesmo. Depois, de repente, pareceu que baixava em zig-zag, ameaçando cair sobre a terra. Aterrado, corri a meter-me no meio da gente. Todos choravam, aguardando de um instante para o outro o fim do mundo. Junto de nós estava um incrédulo, sem religião, que tinha passado a manhã a mofar [escarnecer] dos simplórios que faziam toda aquela caminhada da Fátima para irem ver uma rapariga [em Portugal, rapariga significa moça jovem] . Olhei para ele: estava como paralisado, assombrado, com os olhos fitos no sol. Depois vi-o tremer dos pés à cabeça e, levantando as mãos ao Céu, caiu de joelhos na lama, gritando: — Nossa Senhora! Nossa Senhora! Entretanto, a gente continuava a gritar e chorar, pedindo a Deus perdão dos próprios pecados. Depois corremos para as duas capelas da aldeia, que em poucos instantes ficaram repletas. Durante estes longos minutos do fenómeno solar, os objectos à volta de nós reflectiam todas as cores do arco-íris. Olhando uns para os outros, um parecia azul, outro amarelo, outro vermelho, etc...Todos esses estranhos fenómenos aumentavam o terror do povo. Passados uns 10 minutos, o sol voltou ao seu lugar, do mesmo modo como tinha descido, pálido ainda e sem esplendor. Quando a gente se persuadiu de que o perigo tinha desaparecido, foi uma explosão de alegria. Todos prorromperam num coro de acção de graças — Milagre! Milagre! Bendita seja Nossa Senhora!”. [pág. 229/232]


Padre João De Marchi (1914-2003). Obra: "Era uma Senhora mais brilhante que o sol. Editora Consolata. 26ª edição. Versão em Português de Portugal. 2016. Fátima-Portugal. 447p." (pág. 255/257)

“Mais uma vez, o doutor Formigão voltava a Aljustrel para interrogar as crianças no dia 2 de Novembro daquele mesmo ano. [...] Novo interrogatório da Jacinta: — De que lado estava o Menino Jesus, quando o viste no dia 13 de Outubro ao pé do Sol? — O Menino Jesus estava no meio, ao lado direito de São José; ficando Nossa Senhora ao lado direito do sol. — A Senhora que viste ao lado do sol era diferente da que viste sobre a carrasqueira? — A Senhora que estava ao pé do sol tinha vestido branco e manto azul. A que vi ao pé da carrasqueira tinha o vestido e o manto brancos. — De que cor eram os pés da Senhora que apareceu na carrasqueira? — Os pés da Senhora eram brancos; cuido que Ela trazia meias. — De que cor era o fato [roupa] de São José e o do Menino? — O de São José era encarnado e o do Menino parece que era também encamado. — Quando foi que a Senhora revelou o segredo? — Cuido que foi em Julho. — Que disse a Senhora da primeira vez que apareceu, no mês de Maio? — A Lúcia perguntou o que é que ela queria e ela disse que fôssemos lá de mês a mês até fazer seis meses e que no último mês diria o que queria. — A Lúcia fez mais alguma pergunta? Perguntou-Lhe se ela ia para o Céu e a Senhora dlsse-lhe que sim. Perguntou-Lhe depois se eu ia para o Céu e Ela disse que sim. Depois perguntou-Lhe se o Francisco ia para o Céu. Ela disse que sim, mas que havia de rezar as contas. — A Senhora disse mais alguma coisa? — Não me lembro de dizer mais nada nesse dia — Que disse a Senhora da segunda vez, em Junho? — A Lúcia disse: “Que me quer?” A Senhora respondeu: “Quero que aprendam a ler”. — A Lúcia fez mais alguma pergunta? — Pediu pelos doentes e pecadores. E a Senhora disse que melhorava uns e convertia, e outros não. — A Senhora disse mais alguma coisa? — Naquele dia não disse mais nada. — Que disse a Senhora em Agosto? Em Agosto não fomos à Cova da Iria. — Queres dizer o que foi que a Senhora disse nos Valinhos? — A Lúcia perguntou à Senhora se trazia o seu Manuel e Ela disse que trazia cá todos. Que mais disse a Senhora? — Disse que, se não abalássemos para Ourém, viria São José com o Menino dar a paz ao mundo. E Nossa Senhora do Rosário com dois Anjinhos, um de cada lado. — Que mais disse? — Disse que fizéssemos dois andores e os levássemos à festa do Rosário; que eu, a Lúcia e mais duas meninas, vestidas de branco, levássemos um e o Francisco com três rapazes levasse o outro. — Disse mais alguma coisa? — Não disse mais nada. — Que disse a Senhora em Setembro? — Não me lembro. Que disse a Senhora em Outubro? — A Lúcia disse: “Que me quer?” A Senhora respondeu: “Não ofendam mais a Nosso Senhor que está muito ofendido. Disse que Ele perdoava os nossos pecados se quiséssemos ir para o Céu. Disse também que rezasse a gente o terço. Disse que esperassem cá os seus militares muito breve, que acabava a guerra naquele dia. Disse que fizesse a gente uma capela e não sei se disse “à Senhora do Rosário” ou que era Ela a Senhora do Rosário.”



Obs.: As expressões no texto entre colchetes ou parêntesis destacadas na cor azul não fazem parte do original.