Padre João De Marchi (1914-2003). Obra: "Era uma Senhora mais brilhante que o sol. Editora Consolata. 26ª edição. Versão em Português de Portugal. 2016. Fátima-Portugal. 447p." (pág. 17/37) "Sã e robusta, podia-se confiar com segurança à Lúcia, mesmo na idade em que as crianças são apenas um cuidado para os pais, o pequeno rebanho de ovelhas, tarefa que ela aceitava e cumpria garbosamente."
[pág. 17]""Gostávamos muito dela porque era muito esperta, muito meiga – dizia-nos a senhora Maria dos Anjos, irmã mais velha.
[...] Era muito amiguinha de crianças e todas morriam por ela. Às vezes, juntavam-se no pátio da nossa casa oito, dez, doze, e ela, contente, enfeitava as mais pequenitas com flores, com heras; fazia procissões com santinhos, prantava andores, tronos e, como se estivesse na igreja, cantava versos a Nossa Senhora."
[...] ...sentavam-se à sobra das figueiras, e a Lúcia, no meio da roda, começava a contar histórias que nunca mais tinham fim..."
[...] Estava já posta à prova a excelente memória da Lúcia que, mais tarde, podia reconstruir, nos seus mais pequenos pormenores, os colóquios com o Anjo e a Mãe do Céu."
[págs. 18/19]
Conta a senhora Maria dos Anjos:
[...] "A Lúcia era de muito bom coração, muito amiga da gente; foram só as Aparições a levar a guerra à família.""
[pág. 20]""...continua Maria dos Anjos
[...] – A devoção pelas coisas da Igreja e sobretudo pelo Santíssimo Sacramento incutia-nos ela,
[a mãe de Lúcia e de sua irmã, Maria dos Anjos] mal a gente abria os olhos. Nesse tempo a sagrada comunhão só se fazia aos dez anos e era preciso saber bem a doutrina. A Lúcia todavia comungou já aos seis anos."
[págs. 22/23]"O Francisco e a Jacinta, primos da Lúcia, eram, como já dissemos, filhos do senhor Manual Pedro Marto e da senhora Olímpia de Jesus Santos."
[pág. 29]"Não era nada medroso. Ia de noite sozinho a qualquer sítio escuro sem mostrar receio ou sequer contrariedade."
[pág. 31]"Os pais nunca tiveram motivo sério de se queixarem dele. A obediência do Francisco era modelar."
[pág. 33]""Uma manhã – conta-nos a senhora Olímpia – ia ele a sair com o gado e eu digo-lhe assim: - Vai hoje para o Oiteirinho da madrinha Teresa, que ela não está cá, foi à Aldeia. E logo a responder: - Ah, isso é que eu não faço! Não tive mão em mim que não lhe chegasse uma bofetada. Mas ele não se acobardou. Voltou-se para mim e assim a modo muito sério, sai-se com esta: - Então, é a minha mãe que me está a ensinar a roubar? Parece que até ceguei, agarrei-o por um braço e pu-lo a andar. Mas espera que ele já foi para o Oiteiro!... Só no dia seguinte, e depois de ter pedido licença à madrinha que lhe disse que podia ir para lá quantas vezes quisesse e mais a Lúcia.""
[pág. 33]"O Francisco e a Jacinta, primos da Lúcia, eram, como já dissemos, filhos do senhor Manual Pedro Marto e da senhora Olímpia de Jesus Santos."
[pág. 29]"Possuía uma alma extraordinariamente sensível, como poderemos verificar em seguida. "Ainda de cinco anos, mais ou menos, ao ouvir narrar os sofrimentos do Nosso Divino Redentor – diz-nos a Lúcia – enternecia-se e chorava "Coitadinho de nosso Senhor – repetia – eu não hei de fazer nunca nenhum pecado; não quero que Jesus sobra mais"" As palavras feias eram pecado e faziam sofrer o Menino Jesus? A Jacinta fugia então daquelas companhias entre as quais haveria perigo de contrair habito tão mau.".
[págs. 35/36]""Foi sempre mansinha – refere o pai.
[...] Não se incomodava com nada. Do jeito dela não criamos mais nenhum. Era um dom natural." Uma qualidade que a caracterizava, era o amor à verdade. Diz o pai: "Quando a mãe a enganava, dizendo, por exemplo, que ia às couves e ia para mais longe, a Jacinta não deixava de lhe dar a sua piadazita: então a mãe mantiu-me? Disse que ia aqui e foi para acolá?... Isso de mentir é feio! Quanto a mim, nunca os enganei.". Como o seu irmão Francisco e talvez mais do que ele, a Jacinta possuía uma alma requintada, cheia de finíssimos sentimentos."
[pág. 36/37]
Padre João De Marchi (1914-2003). Obra: "Era uma Senhora mais brilhante que o sol. Editora Consolata. 26ª edição. Versão em Português de Portugal. 2016. Fátima-Portugal. 447p." (pág. 189/190, 388) [Interrogatório do reverendo doutor Manuel Nunes Formigão, Cónego da Sé Patriarcal de Lisboa e então Professor do Seminário e do Liceu de Santerém, aos pastorinhos e ao morador da região Manuel Gonçalves Júnior, homem de 30 anos de idade, casado, inteligente e dotado de muito bom senso, conhecedor dos pais dos pastorinhos:] “As pequenas contradições que notara nas respostas dos videntes não criavam dificuldade séria; referiam-se apenas a pormenores de pouca ou nenhuma importância que bem se podiam explicar pela fadiga e a perturbação provocadas pelos renhidos ataques, que de todos os lados lhe eram feitos, desde que a extraordinária notícia começara a circular.
[pág. 189]“Eis a conversação que se trocou entre os dois
[o Dr. Formigão e Manuel Gonçalves Júnior] “- Os pais das crianças de Aljustrel, que se dizem favorecidas com Aparições de Nossa Senhora, têm boa fama, são gente honrada e de bons costumes? – Os pais do Francisco e da Jacinta são pessoas muito boas, profundamente religiosas e respeitadas e estimados por todos. O pai tem fama de ser o homem mais sério do lugar. E incapaz de enganar alguém. O pai da Lúcia frequenta pouco a Igreja. Não é, porém, dotado de maus sentimentos.
[...] A mãe é uma mulher honesta, religiosa e amante do trabalho.”
[pág. 190][nas palavras de Dom José Alves Correia da Silva, da Diocese de Leiria, em 5 de maio de 1922, quando a Lúcia já era a única sobrevivente:] “Interrogámos várias vezes a única sobrevivente. A sua narração e as suas respostas são simples e sinceras; nelas não descobrimos nada contra a fé e a moral. Poderia exercer aquela criança, hoje de 14 anos, uma influência tal que explicasse a concorrência do povo? Disporia ela de tal prestígio pessoal que ali arrastasse as massas humanas? Impor-se-ia pelas suas qualidades precoces, a ponto de fazer convergir para junto dela tantos milhares de pessoas? Não é provável, tratando-se duma criança sem instrução de espécie alguma e duma rudimentaríssima educação. De mais, a pequena saiu da terra, nunca mais lá apareceu [... a Lúcia entrou para o Colégio das Religiosas Doroteias em Vilar, no Porto, no dia 18 de Junho de 1921. Apesar de não poder revelar a própria identidade, a Lúcia soube infundir nas suas companheiras um ardente amor a Nossa Senhora. Concluídos os estudos, ingressou no Noviciado das Irmãs Doroteias em Tui, na Espanha. Professou em 1928 com o nome de Irmã Maria das Dores. A única sobrevivente dos três pastorinhos foi favorecida por ulteriores Aparições e revelações que completam a mensagem de Fátima. A elas se referem os documentos publicados em apêndice. Para poder dedicar-se completamente à oração e à penitência, segundo o desejo da Virgem, a Irmã Maria das Dores foi autorizada a abraçar a vida de clausura. Após breve estadia em Fátima (Maio de 1946) deixou o Instituto das Doroteias e entrou para o Carmelo de Coimbra onde tomou o nome de Irmã Maria Lúcia do Coração imaculado] e, não obstante, o povo acorre ainda em maior número à Cova da Iria. Explicará, por ventura, este ajuntamento o aprazível e pitoresco do lugar? Não! É um sítio ermo, vulgar, sem arborização, sem água, longe do caminho de ferro, perdido nas dobras duma serra, despido de todos os atractivos naturais. Irá o povo por causa da Capela? As pessoas devotas tinham edificado ali uma pequena ermida, tão pequenina que nem se podia celebrar a santa Missa dentro dela. No mês de Fevereiro deste ano, uns infelizes
[os maçons - da maçonaria], cuja má acção a Santíssima Virgem perdoe, foram lá de noite e, com bombas de dinamite, destruíram-na, lançando-lhe, em seguida, o fogo.”
[pág. 388]