“Quem pretende provocar a manifestação de algum falecido para dele receber mensagem ou notícia pratica um ato chamado pelos antigos de necromancia, expressão que vem do grego nekrós = falecido e mantéia = adivinhação. E quem intenta comunicar-se com o além com o fim de colocá-lo a serviço do homem realiza um ato já conhecido pelos antigos como magia. Quando a esperada ação da evocada entidade do além é a favor do homem ou para o bem, chama-se magia branca, mas será sempre "magia". E se for para o mal, será magia negra ou malefício, feitiçaria, bruxaria. Tais comunicações provocadas do além, seja na forma de necromancia, seja na de magia (branca ou negra, pouco importa), são conhecidas também como evocação. Há diferença fundamental entre invocação e evocação: esta sempre pretende uma comunicação perceptível provocada por iniciativa do homem; aquela é apenas uma forma de prece ou súplica. É evidente que a invocação é um ato bom e cristão, expressão da comunhão dos santos. Mas que dizer da evocação? Para esta pergunta recebemos da revelação divina resposta clara e insistente: Êxodo 22,17: "Não deixarás viver os feiticeiros". Aqui, a palavra "feiticeiros" engloba todos aqueles que praticam qualquer tipo de evocação: necromantes e magos, sem excluir os que se entregam à magia branca. Deviam ser condenados à morte. Levítico 19,31: "Não vos voltareis para os necromantes nem consultareis os adivinhos, pois eles vos contaminariam. Eu sou Iahweh, vosso Deus". Levítico 20,6: "Aquele que recorrer aos necromantes e aos adivinhos para ter comunicação com eles, voltar-me-ei contra esse homem e o exterminarei do meio de seu povo". Portanto são condenados também aqueles que simplesmente consultam os necromantes. Levítico 20,27: "O homem ou a mulher que entre vós forem necromantes ou adivinhos serão mortos; serão apedrejados, e o seu sangue cairá sobre eles". Deuteronômio 18,10-14: "Que em teu meio não se encontre alguém que faça presságio, oráculos, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou evoque os mortos, pois quem pratica essas coisas é abominável a Iahweh, e é por causa dessas abominações que Iahweh teu Deus os desalojará em teu favor. Tu serás íntegro para com Iahweh teu Deus. Eis que as nações que vais conquistar ouvem oráculos e adivinhos. Quanto a ti, isso não te é permitido por Iahweh teu Deus".” [pág. 51/52]
“Destaque especial merece a consulta do rei Saul à necromante de Endor, narrada em 1Sm 28,3-25. Estando em dificuldades na guerra contra os filisteus, e sem saber o que fazer, o rei Saul disse aos seus servos: “Buscai-me uma necromante para que eu lhe fale e a consulte". Informaram-lhe os servos que havia uma na localidade de Endor, ao sul do monte Tabor. Saul então disfarçou-se e, de noite, acompanhado de dois homens, foi à casa da necromante (os espíritas diriam "médium") e lhe pediu para evocar o falecido Samuel. Segundo o texto, Samuel de fato compareceu e "Por que perturbas o meu repouso, evocando-me?" disse a Saul: “Saul respondeu: "É que estou em grandes angústias. Os filisteus guerreiam contra mim, Deus se afastou de mim, não me responde mais. Então vim te chamar para que me digas o que tenho que fazer". Respondeu Samuel: "Por que me consultas, se Iahweh se afastou de ti e se tornou teu adversário?" E lhe anunciou os castigos de Deus. Em Eclesiástico 46,20 lemos a respeito deste caso de evocação: "Mesmo depois de morrer, (Samuel) profetizou, anunciou ao rei (Saul) seu fim, do seio da terra elevou sua voz para profetizar, para apagar a iniqüidade do povo". Segundo os textos citados, parece que se deve admitir que o falecido Samuel, evocado pela necromante de Endor, realmente compareceu. Todo o contexto, todavia, deixa evidente que se trata de caso excepcional, sendo a evocação não a causa, mas a ocasião aproveitada por Deus para autorizar o comparecimento do falecido profeta e anunciar os castigos ao rei desobediente e infiel. Deste episódio singular não se pode inferir que nos outros casos os necromantes e magos conseguissem de fato fazer comparecer os falecidos evocados. Aliás, em 1 Crônicas 10,13-14, somos assim informados acerca do fim do rei: "Saul pereceu por se ter mostrado infiel para com Iahweh, não seguira a palavra de Iahweh e, além disso, interrogara e consultara uma necromante. Não consultou a Iahweh, que o fez perecer e transferiu a realeza a Davi, filho de Jessé". Clara, repetida, enérgica e severíssima é, pois, a proibição divina de evocar os falecidos. E este mandamento divino não foi revogado na Nova Aliança. Eis alguns exemplos: Em Atos 13,6-12, Paulo e Barnabé encontram em Pafos um judeu "mago e falso profeta", que se opunha à missão apostólica dos dois. Paulo, repleto do Espírito Santo, lhe disse: "Ó filho do diabo, cheio de toda a falsidade e malícia, inimigo de toda justiça, não cessas de perverter os retos caminhos do Senhor? Eis que agora o Senhor faz pesar sobre ti a sua mão". Em Atos 16,16-18, Paulo, estando em Filipos, dá com uma jovem escrava "que tinha um espírito de adivinhação e obtinha para seus amos muito lucro, por meio de oráculos". Paulo disse ao espírito que estava na jovem: "Eu te ordeno em nome de Jesus Cristo: sai desta mulher!" E o espírito saiu no mesmo instante. Em Atos 19,11-20 descreve-se a atividade e a pregação de Paulo em Éfeso, com este resultado: "Muitos daqueles que haviam crido vinham-se confessar e revelar suas práticas. Grande número dos que se haviam dado à magia amontoavam os seus livros e os queimavam em presença de todos. E estimaram o valor deles em cinqüenta mil peças de prata”. Deviam ser muitos os livros de magia! O fato de eles queimarem estes livros só se explica se admitirmos que o Apóstolo falou fortemente contra as práticas da magia. Na carta aos gálatas (5,20-21) declara o mesmo Apóstolo que os que praticam a magia "não herdarão o Reino de Deus". E são João, no Apocalipse, revela que a porção dos magos se encontra no lago ardente de fogo e enxofre (21,8); e que, na hora do julgamento, os magos ficarão de fora da Cidade Eterna (22,15). Posteriormente, a Igreja sempre se manteve fiel a esta rigorosa interdição divina de evocar os falecidos. No último Concílio, o Vaticano II, em 1964, a Constituição Lumen Gentium, temendo que a doutrina sobre nossa comunicação espiritual com os falecidos pudesse dar azo a interpretações do tipo espiritista, acrescentou ao texto do n. 49 a nota n. 2, "contra qualquer forma de evocação dos espíritos”, coisa que, esclareceu a Comissão teológica responsável pela redação do texto, nada tem a ver com a "sobrenatural comunhão dos santos". A Comissão definiu então mais claramente o que se proibia: "A evocação pela qual se pretende provocar, por meios humanos, uma comunicação perceptível com os espíritos ou as almas separadas, com o fim de obter mensagens ou outros tipos de auxílio". ” [pág. 52/54]