Frei Boaventura Kloppenburg, O.F.M.. (Alemanha – 1919-2009). Obra: "Espiritismo: orientação para os católicos. São Paulo. Edições Loyola. 1989. 2ª edição. 203p." (pág. 182/183) Entre os católicos é comum dizer que as crianças que morrem sem terem sido batizadas vão para o
limbo. Entende-se então por "limbo" um estado de perpétua exclusão da visão beatífica, mas de felicidade natural. A idéia do limbo se fundamenta na gratuidade da visão beatífica, na universalidade e gravidade do pecado original e na necessidade do batismo para a salvação. Jesus, com efeito, disse a Nicodemos: "Em verdade te digo: quem não nascer da água e do espírito não pode entrar no reino de Deus" (Jo 3,5). Jesus também faz depender a salvação do batismo (Mc 16,16). Entendeu-se depois que o batismo da água podia ser substituído também pelo batismo "de desejo"
[Refere-se aos que morreram antes de seu Batismo, mas que manifestaram o desejo explícito de recebê-lo, unido ao arrependimento de seus pecados e à caridade] e “de sangue"
[Refere-se aos não batizados que sofreram o martírio, suportaram a morte violenta por haver confessado a fé cristã ou praticado a virtude cristã], unido a um ato de contrição perfeita. No entanto, milhões e milhões de crianças, que ainda não atingiram o uso da razão e nasceram com o pecado original, de fato morrem sem a menor possibilidade de receber o batismo, em qualquer de suas formas conhecidas. Para onde irão? A concepção do limbo sempre foi apenas um expediente teológico para indicar a pena (exclusão da visão beatífica, que é sempre dom gratuito, sobrenatural) que corresponde ao conceito do pecado original (ausência da graça santificante, também sempre gratuita, sobrenatural): se alguém de fato morrer apenas com o pecado original, não pode entrar no céu. Mas a Igreja nunca ensinou, em nenhum documento doutrinal oficial, que as crianças não-batizadas de fato morrem em estado de pecado original, condenadas ao limbo. Não devemos esquecer a doutrina cristã sobre a vontade divina salvífica universal: "Deus quer que todos os homens sejam salvos" (1 Tm 2,4); portanto também as crianças. Todos, inclusive as crianças, são chamadas por Deus para a comunhão perpétua da incorruptível vida divina. E Jesus, o divino Salvador, morreu por todos (cf. Rm 8,32), sem excluir as crianças. Por conseguinte deve haver algum meio de salvação sobrenatural também para as almas imortais das crianças que morrem sem batismo, até mesmo, muitíssimas, antes de nascer (aborto). O Concílio Vaticano II, na Constituição Gaudium et Spes (n. 22), depois de acenar para a esperança da ressurreição do cristão, propõe esta doutrina: "Isto vale não somente para os cristãos, mas também para todos os homens de boa vontade em cujos corações a graça opera de modo invisível. Com efeito, tendo Cristo morrido por todos e sendo uma só a vocação última do homem, isto é, divina, devemos crer que o Espírito Santo oferece a todos a possibilidade de se associarem, de modo conhecido por Deus, a este mistério pascal". Neste precioso texto conciliar devemos observar duas afirmações: que a possibilidade de associação ao mistério pascal é oferecida "a todos" (em latim: cunctis), por conseguinte também às crianças; e que o meio ou o modo de salvação é "conhecido só por Deus" (em latim: modo Deo cognito). Será inútil perder-se em especulações, já que não nos foi revelado. Também no decreto Ad gentes (n. 7) o mesmo recente Concílio ecumênico nos fala de caminhos (no plural!) de salvação "só conhecidos por Deus" (em latim: Deus viis sibi notis). Estamos assim diante de uma doutrina consoladora, altamente autorizada, que nos permite concluir que
o limbo das crianças que morrem sem batismo de fato não existe. Trata-se apenas de um conceito teológico muito útil, que nos ajuda a entender a gravidade do pecado original, para então recorrer, sempre e tão logo nos seja possível, ao meio de salvação que o próprio Jesus instituiu e indicou: o batismo.
Negligenciar este meio que nos foi revelado, para adiar o batismo das crianças confiando nos caminhos de salvação que só Deus conhece, seria uma condenável atitude de presunção e temeridade.