Frei Boaventura Kloppenburg, O.F.M.. (Alemanha – 1919-2009). Obra: "Espiritismo: orientação para os católicos. São Paulo. Edições Loyola. 1989. 2ª edição. 203p." (pág. 196/197) “O problema principal, posterior, não estava na afirmação da existência do diabo e de seus demônios, doutrina que de fato ninguém negava, mas na reflexão sobre sua origem e natureza. A dificuldade começou com Mani (216-277), fundador do maniqueísmo, que ensinava um rígido dualismo. Sustentava Mani que desde toda a eternidade há dois princípios supremos: o da luz (o bem) e o das trevas (o mal); e que o diabo e seus emissários emergiram das trevas e são maus por sua própria origem e natureza. Contra esta concepção dualista reagiu fortemente a Igreja, sobretudo a partir do século IV, ensinando que também
o diabo é criatura do único Deus e que foi criado bom e se faz mau pelo pecado. Já Jesus havia explicado que o diabo "não permaneceu na verdade" (Jo 8,44). São Judas fala em sua Carta (v. 6) dos "anjos que não conservaram sua dignidade, mas abandonaram sua morada". E são Pedro informa: "Deus não poupou os anjos que pecaram" (2Pd 2,4). Mas estes textos não nos revelam a natureza do pecado dos anjos. Antes do pecado, porém, eram anjos bons e como tais foram criados por Deus.
[...] Porquanto o diabo e os demais demônios certamente foram por Deus criados bons por natureza; porém eles se fizeram maus por si mesmos. Mas
o homem pecou por sugestão do diabo". Esta profissão da fé cristã é sóbria. Limita-se o Concílio a afirmar que, sendo criaturas do único Deus, o diabo e os demônios não são substancialmente maus, mas se fizeram tais por sua livre vontade.
[...] Conclui-se ainda que o diabo deve ser uma pessoa (pois tem livre-arbítrio), é alguém, e não um mero símbolo (impessoal) do mal, como ultimamente alguns tentaram insinuar.”