Revista Superinteressante (Janeiro/2001) ...não demorou para que outro cientista inglês do alto escalão, o físico e matemático Paul Davies, extraísse todo um livro – e mais um sucesso comercial de arromba! – levando ao pé da letra as palavras do colega. Acolhido com uma chuva de prêmios destinados à divulgação científica, A Mente de Deus (1992) passa em revista a história da ciência e da filosofia para concluir, com convicção, que tudo no cosmo revela intenção e consciência. Como o próprio Davies resumiu em uma entrevista: “Acredito que as leis naturais são engenhosas e criativas, facilitando o desenvolvimento de riqueza e de diversidade na natureza. A vida é apenas um aspecto disso. A consciência é outro. Um ateu pode aceitar essas leis como um fato bruto, mas para mim elas sugerem algo mais profundo e intencional”.
[...] Não é pouco o que o mundo deve ao gênio de Newton. Mais de 90% da física que a gente aprende na escola ainda vem desse físico inglês do século XVII –
por sinal, religiosíssimo.
[...] ...o americano Allan Sandage – um dos astrônomos mais respeitados mundialmente, hoje com 74 anos – considerava-se ateu com todas as letras, até os 50 anos. Sua conversão ao cristianismo veio de repente, provocada pelo “simples desespero de não conseguir responder só com a razão a perguntas como "por que existe algo em vez de nada?" ”
“Foram meu trabalho e minha pesquisa que levaram à conclusão de que o mundo é muito mais complicado do que pode ser explicado pela ciência. Só através do sobrenatural consigo entender o mistério da existência”, afirma ele. “A ciência torna explícita a incrível ordem natural, as interconexões em vários níveis entre as leis da física e as reações químicas encontradas nos processos biológicos da vida. Por que os elétrons têm todos a mesma carga e a mesma massa? A ciência só pode responder a questões bem específicas, do tipo "o quê?", "quando?" e "como?". O seu método de investigação, por mais poderoso que seja, não pode responder ao "por quê?". ”
Enxergar Deus na inteligência com que a natureza se organiza – manifesta em leis matemáticas – não é só a porta de entrada da religião para cientistas contemporâneos como Sandage e Polkinghorne, como uma tradição que vem desde a própria raiz do conhecimento científico. Nem o ateísmo confesso de Bertrand Russell – lógico, matemático e filósofo reconhecido como um dos pensadores mais brilhantes do século XX – o impediu de valorizar essa linha peculiar de devoção: “A combinação de matemática e teologia, que começou com Pitágoras, caracterizou a filosofia religiosa na Grécia antiga, na Idade Média e chegou à modernidade com Kant. Tanto em Platão quanto em Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Descartes, Spinoza e Leibniz há essa ligação íntima entre religião e razão, entre aspiração moral e admiração lógica do que é atemporal”.”